segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Colorido e barulhento

"Às vezes me pergunto se sou feito dos meus sonhos
ou se meus sonhos são feitos de mim."
(@DarkWriterBr)


A gente sempre tem suspeitas, mas certezas, só mesmo quando se morre de saudade e, ao chegar lá, não se arrepende - fica e respira fundo, tentando aspirar até mesmo as menores partículas do momento, pra se lembrar depois.

E, de repente, sem querer, eu descobri o quanto eu gosto desse lugar. Gosto dos tijolos, dos jardins, dos posteres, das fotos espalhadas no corredor, das cores das paredes, dos espelhos no banheiro, das músicas que tocam na rádio, do fato de termos uma rádio e eu ter encontrado edições novas do O Arauto na bancada.

Gosto de encostar nos corredores só pra olhar a gente estranha que passa, os cabelos, as roupas, o jeito de falar. Gosto de ouvir a voz despretensiosa dos porfessores que conversam com os alunos sobre férias, filmes, fotografias, revistas, jornais e futebol.

Gosto da ideia de estar inserida num contexto (eu que sempre tive medo de não me misturar e mais ainda de me misturar demais e ser só mais uma) mas de uma maneira que só eu poderia. Estar na faculdade é ótimo porque você pode fazer o que deve ser feito de um modo que tenha a sua marca, sua cara, seu estilo. Tem liberdade e, ao mesmo tempo, tem mestres que te puxam e botam seus pés no chão pra que não saia voando e derreta suas asas de cera ao Sol.

A verdade é que estava com saudade. Do lugar, da cantina gordurosa, dos professores chatos que fazem a gente dormir nas aulas de quinta à noite e estragam o humor de todo mundo nas semanas de provas. Estava com saudade, na verdade, de ter obrigações, de ter com o que me preocupar, de ter horários, problemas pra resolver, metas, objetivos, cobranças. Estava com saudade de tudo o que me faz mal, me faz passar raiva, me faz duvidar, me faz ter medo, me faz chorar, ter dor de estômado, mas que me faz crescer. Que me faz amadurecer, entender, aprender. Me faz ser mais adulta, mais paciênte, determinada, mais discreta, mas ouvinte, mas atenta, mais delicada, mais curiosa. Estava sentindo falta do que as pessoas evitam, e evitando o que todo mundo mais quer. Estou evitando o ócio, que tem aparecido muitas vezes pra me visitar.

Talvez isso faça de mim uma balzaquiana solteirona que nem gatos tem pra cuidar. Talvez isso só mostre que eu gosto mesmo é de ser do contra. Ou talvez que, simplesmente, me acostumei a outros padrões. Me acostumei a não assistir Big Brother por ter que acordar às seis e meia pra ir pra academia - e obedecer o horário do café da manhã do hotel onde estou hospedada, carinhosamente conhecido como 'Casa da Minha Mãe'. Aprendi a cuidar de crianças, ensinar a ler, bolar atividades que as distraiam enquanto suas mães piradas discutem o preço da excursão pro zoológico. Aprendi a acordar cedo de domingo, porque minha mãe me ensinou que temos que aproveitar o Sol da manhã. Aprendi a ser presidente de coisas das quais sou só secretária - ou nem isso. Aprendi que posso ler livros de Direito e contos de fada ao mesmo tempo e não morrer.

Eu excluí o Orkut.

E não fiz Facebook - que, se não me engano, vim sido minimizado a FB no Twitter, que me faz lembrar demais a expressão pra-lá-de-gay BFF (best friend forever).

Assim sendo, concordamos com o fato deu ter probleminhas. E, já que estamos entendido quanto a isso, não vou hesitar em dizer que, sim, estava com saudade da faculdade. De es-tu-dar. De ter reuniões chatas e improdutivas na AECA, de ter que escrever - não acredito que direi isso - notas jornalísticas. Estava com saudade dos amigos, sim. Estava com saudade do Pedrão, da Piotto, do Agnelo, até da Maria Regina, (da Sônia não), dos amigos fotógrafos, da bagunça, do barulho, da overdose de estilos, das combinações mais estranhas e absurdas, das tribos.

E como perfeitamente veio a twittar nosso gordo querido Jô Soares, há alguns minutos atás: felicidade é ter o que fazer. Pessoas morrem, enlouquecem, adoecem, surtam sem ter o que fazer. Desaprendem a arte do raciocínio. Fazem sumir com a criatividade, com a visão de mundo, as expectativas, as esperanças. Pessoas devem sempre fazer coisas, até mesmo pra valorizarem os momentos em que nada fazem. Não haveria som se não houvesse o silêncio. E não estaria praguejando o ócio se não soubesse o quão mais feliz sou na ativa.

Com isso, concluo que serei uma daquelas velhinhas que não se aposentam nunca, que têm medo de morrerem dormindo, de não estarem presentes no próximo eclipse, que nos feriados cozinham e limpam a casa e costuram coisas - só pra não darem o gostinho pra televisão de vê-las sentadas ali, sem planos.

Com certeza, chegará o momento em que rezarei pelos feriados prolongados e pelas férias de julho. Mas esse é o fardo dos mamíferos racionais, que falam, vivem em sociedade, tem celulares com televisão e usam salto alto - principalmente os que usam salto alto: se contradizer o tempo todo mas, no fundo, não abrir mão dos seus princípios e amores.

E eu amo a FCA - É, aquele bloco lá... O colorido e barulhento, sabe?

Beeijos, Jaqueline - jornalista, de novo e ainda!

2 comentários:

Renato Violardi disse...

Bem vinda de volta ao lar... ao lar que vc escolheu e não o destino (para aqueles que acreditam em destino) assim determinou.
Saudades, ouvi certa vez, é saber que em algum lugar, alguém está pensando na gente.
Ótimo retorno, jornalista Jaqueline Rosa!

Penélope disse...

Olha, há tempos atrás pensei que seria dessas velhinhas também,mas mudei um pouco...
Passa no meu catinho para deixar sua presença por lá.
Saudades, menia!
Abraços