quinta-feira, 20 de março de 2014

Quem é?

Estou estranhando esses olhos secos, as pálpebras desinchadas e nenhum chocolate. Estou estranhando essa minha boca torta, numa cara muito mais de nojo que de dor. Estou estranhando minhas unhas inteiras, não roídas, meu estômago que não dói, minha cabeça que não gira. Estou achando muito estranho, esquisito mesmo, estar aqui sozinha. 

Quem é esta que não chora, não agride, não grita, não arranca os cabelos, não perde o sono, não muda os sonhos, não foge do espelho, não muda a realidade, não tenta, não se surpreende, não responde, não levanta a sobrancelha, não envia sms, não liga, não luta, não desespera, não muda de ideia, não aceita, não se adapta?

Quem é esta que impõe condições a seu coração, seus olhos, seu corpo, sua mente, seu dinheiro, seu tempo, seus sonhos, seus lugares, seus dizeres? 

Quem é esta, que me tomou o lugar? É, a vontade de chorar está aqui. A dor está aqui. A dúvida também. Ansiedade a dar com pau. Mas os olhos estão secos. 

A resignação os secou.



Sobre escolhas, poder e expectativa

A vida humana é feita de escolhas. 
Sim ou não. Dentro ou fora. Em cima ou embaixo.
E também há as escolhas que importam. 
Amar ou odiar. Ser um herói ou um covarde.
Brigar ou se entregar. Viver. Ou morrer. 
Essa é a escolha importante.
E nem sempre ela está nas suas mãos. 
(Grey's Anatomy)

"O que vale nessa vida é ver como você aproveita

Desde a hora que levanta até a hora que deita
Quando escolhe a coisa certa é tudo sem receita
Quando perto de você a própria confusão se ajeita bem"
(O melhor da vida - Marcelo Janeci)


Tudo o que podemos fazer, em alguns momentos, é esperar. Esperar que dê certo, esperar que o Correio entregue, esperar que o telefone toque. E são essas expectativas, nossas e as dos outros, que nos confundem, entristecem e decepcionam - que nos enchem de medo e nos fazem sentir perdidos...




quarta-feira, 19 de março de 2014

Esmeralda - uma carta pra ela, sobre ela

Não há quem duvide que eu sou apaixonada pela Esme.
Mas a verdade é que não foi amor à primeira vista.

Quando a vi pela primeira vez (foi nesse vídeo aqui)... Bom, eu já conhecia um pouco da Kahina e da Aziza. E tinha uma ideia bem amadora da dança do ventre. Eu, que por um ano e pouco havia me dedicado ao ballet clássico e que achava que todas as coisas deveriam ter regras indiscutíveis, vi Esmeralda pela primeira vez e fiquei pasma. 

Não sabia quem era "essa tal de Esmeralda". Mas assisti com atenção a sua dança - essa, do vídeo acima.

Eu (que nem tinha me aventurado pela dança do ventre além de ver os espetáculos da minha irmã e talvez umas poucas aulas) vi aquela que eu viria a chamar só de Esme - no nosso grupo de dança, Esme ficou conhecida como "best friend da Jaque"! ALOCA!

Então, quando a vi pela primeira vez, em seu traje todo vermelho, cabelos cacheados, pensei: "Quem. É. Essa. Doida?" Gente, ela dá um grito! Um grito! No meio da coreografia! Pode isso, produção? Não pode. Aposto que não pode! Onde já se viu... Ela para, pede palma. Pede mais agilidade com o derbake... E eu ali, de boca aberta. Achando tudo um absurdo. E, aí, no fim, quando eu achava que nada mais podia acontecer, a 'doida daquela tal de Esmeralda' se joga no chão - no que eu viria a descobrir, mais tarde, uma linda queda turca.

Enfim. Vamos às explicações. Nas minhas poucas apresentações de ballet - e nem posso dizer que é uma regra, mas eu achava que era - não interagíamos com o público. Não havia palmas, nem gritos, nem caras e bocas. Era sempre a 'cara de apaixonada' e tudo no lugar. Braços, pernas, joelhos, pés. Queixo erguido, costas eretas, bumbum na caixinha. Pra mim, era óbvio que não podíamos ter essa liberdade.

Foi aí que eu me interessei pela dança do ventre pra valer.

Pensei: será que a Esmeralda é assim em toda coreografia? Fui pesquisar. Encostei no balcão do YouTube e pedi pro barman: dá tudo o que você tem de Esmeralda pra mim, com gelo e açúcar! E assisti. Um vídeo atrás do outro. Mais um, mais um, mais um...

Pra mim, que nos últimos dias de ballet saía das aulas triste por não ter conseguido fazer o que precisava, por não ter sido perfeita - nossa, como aquilo me doía - achei o máximo existir uma dança onde, além da técnica, alongamento, expressão, etc... podíamos por alegria, paixão, diversão e... personalidade. 

Isso que vi nas danças da Esme: personalidade. Não sei se é a personalidade da menina Colabone ou da bailarina internacional Esmeralda. Ou se das duas. Mas era personalidade. 

Me apaixonei pela Esme, assim como sou declaradamente apaixonada pela Nur, por vários motivos: sua dança sensacional; seu quadril ligado num motorzinho, seus braços delicados e sempre cheios de intenção, seu sorriso... Mas, principalmente, a alegria de dançar (não sei vocês, mas eu vejo isso claramente nos olhos dessas duas bailocas). 

Eu sinto, quando vejo elas dançando nas telas do computador,  a alegria delas por estarem ali, o amor pela dança, o frio na barriga que elas sentiram antes de subir ao palco. E eu, que sou uma bailoquinha bebê ainda, que tem muuuuito o que aprender, me vejo compreendida, refletida. Vejo você, Esme, como um ser humano. Sinto você como alguém de carne e osso. E eu sou de carne e osso. E tendo alguém de carne e osso em quem me espelhar, eu me sinto mais próxima de conseguir atingir os meus objetivos. Parece que, assim, você prova que é possível.

Eu sei que depois de muitos Fala Esme, de muitos vídeos, muitos posts no seu facebook - onde você nos trata como amigas, mesmo não nos conhecendo pessoalmente - posso dizer que você continua sendo aquela doida do primeiro vídeo em que eu te vi. Mas, agora, eu entendo sua loucura. E admiro o seu estilo. A sua personalidade. O seu jeito de dançar. Hoje, você é pra mim um exemplo. Minha professora à distância. A bailoca que me motiva na segunda-feira a aguentar a semana com um sorriso (e um batom) nos lábios e a fazer com que todos os meus dias seja produtivos, dançantes e com muito amor.

Um beijo, Esme!

Bailoca Jaqueline Rosa.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Sobre desistir

As vezes, a gente cansa. A gente corre tanto e carrega nos ombros fardos que não são nossos. Depois, derrubamos tudo, porque não damos conta. Depois, percebemos que nossos braços são curtos - ou estão ocupados - e não podemos abraçar o mundo. Aí, a gente cansa. E quando cansa, perde a fé, o brilho, o charme, o rebolado, a gente desiste. Simplesmente deixa pra lá. 

Antes deixar pra lá fosse mesmo a atitude dos covardes, dos fracos, dos sem personalidade. Seria, ao menos, fácil. Mas abrir mão, deixar ir, desistir, é coisa pros fortes. Tem que ser muito inteligente pra ver que dar murro em ponta de faca só faz cortar as suas mãos. E tem que ser muito corajoso pra passar de covarde, mesmo sabendo que você não é, e desistir. É preciso ser muito confiante para virar as costas - certo de que nada vai te acertar. E muito humilde pra saber que sua história tem que andar e que as coisas vão continuar caminhando sem você.

Tem que respirar fundo, se olhar no espelho e ter a força de dizer: "você é substituível, meu bem!" Essa é a parte mais difícil, mais dolorosa. Queremos ser únicos. Aquelas pessoas que passam na tv, que conseguem mudar o mundo e estão sempre sorrindo.

Mas eu sou só a garota insone com dor de estômago e tensão nos ombros. Eu sou substituível. E você também é. E outros serão depois de nós. Não somos importantes. Não fazemos história. E não faremos mais do que a nossa própria história - o que já está de bom tamanho, não é?

É preciso deixar ir. É preciso ter coragem de se atirar ao mar. Ou de virar as costas e voltar pra praia. 

Coisas precisam ir para outras coisas poderem chegar. Histórias, destinos, pessoas, empregos, escolas, amigos, livros, caminhos... Não se pode estar em dois lugares ao mesmo tempo e (como aprendemos desde cedo) cada escolha, uma renúncia.

Então, as vezes, vemos alguém desistir. Ir embora. Deixar pra lá.

Mas talvez esse alguém só esteja dizendo sim pra outra coisa. 

Pense: do que você abriria mão para ter o que quer?