segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

a vida é cheia dessas coisas

E a farsa que mais me fascina é a de poder te olhar.
Sorte, acaso ou minha sina? Isso eu não sei explicar.
A vida é cheia dessas coisas que não se pode entender.
Tem tanta coisa nessa vida que não se deve entender.


Sou controladora. Quero ter todas as informações. Saber de todos os detalhes. Sanar todas as minhas dúvidas, conter todos os pensamentos desenfreados com concreto: certezas indissolúveis. Essa é a minha natureza. Penso, sempre, em todas as possibilidades - principalmente nas ruins. Sou analista e sou ansiosa. Duas características complexas. Complicadas. Mas estou num aprendizado diário: deixar ser, deixar estar, esperar, respirar fundo diante da não-informação ou do perigo eminente. Não julgar se algo é benção ou desgraça. Dificílimo...

No entanto, o que pra mim é uma missão quase-impossível deveria ser, simplesmente,... normal. Afinal, qual é a dessa necessidade de querer ter uma coisa que, na verdade, nem existe, que é o controle sobre a vida? Queremos entender as coisas que sequer são tangíveis: o que pensamos, o que sentimos, o que queremos...  Como se houvesse um dicionário, com a definição de cada uma delas e uma régua e um relógio universal, que nos ajudassem a medir a importância de cada uma delas e, claro, a decidir: o que é certo e o que é errado; o que vale a pena e o que não vale; o que vai dar certo... e o que não vai.

Então vamos calibrar o olhar e partir da premissa de que não há sobre o que ter certeza. Não há o que saber que possa nos garantir nada. Não temos nenhum controle. Sobre nada que vai nos acontecer. Não dá pra prever porque as possibilidades são infinitas. Não existem promessas: nem das desgraças nem das felicidades absurdas. 

Então, a única coisa que temos é nossa intuição, estando ela certa ou errada.

Nessa hora, eu lembro, inevitavelmente, na minha frase preferida: opte pelo que faz o seu coração vibrar. Opte pelo que você gostaria de fazer apesar de todas as consequências...! 

Pra entender o amor, faça um trato com a fé
Diz que o céu, quando quer, força o braço que for e abre o mar
Aí, fica mais leve o peso do meu coração

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

a delícia de viver tudo o que a gente sempre quis

('Hoje, o que tem feito você feliz é o fato de você poder fazer o que você gosta, cuidar das suas coisas, cuidar de você', me lembrou meu terapeuta, como se eu pudesse esquecer a doce sensação de amar o que eu faço e, fazendo essas coisas, me amar também...)


Tenho tido uns momentos de me olhar e falar "Nossa!" surpresa com a surpresa de me achar surpreendente. E mais: uns momentos de sorrir toda boba, com o olhar perdido no verde e azul do horizonte. E uns outros de cantar umas músicas ou só ir tomar café no sol do quintal, totalmente em paz. 

Diversas aulas de dança, aquele filme sobre Modigliani, o show dos Filhos dos Caras, o café com bolo na casa dos afilhados, o café com o velho amigo, uma peça de teatro sobre Chopin, decidir ir no cinema meia hora antes - e ir. Bloquinhos de carnaval, álcool e marchinhas. Fantasia idiota em praça pública. Sair de casa de turbante e sapato dourado. Ler. Estar cansada e poder simplesmente ir pra casa. E valorizar cada instante largada na cama que ficou anos sem me aconchegar tão bem... 

Mas...

Falta alguém pra dividir a paz, sabe. Pra poder ser besta junto e dividir uma boa caixa de bis. Alguém pra ver um filme novo, discutir Caetano e morrer de rir. Alguém que seja tão aberto e tão direto e tão disposto a se deixar conhecer quanto eu... Que não tenha receio de se mostrar, de se doar, de investir. Que não tenha problema em ouvir e nem em falar. Alguém que descomplique as coisas, ao invés de complicar. Alguém com quem um café preto em copo americano vire o ponto alto do dia - e não só pelo café. 

Se não for pedir muito, um alguém com um abraço bem gostoso, daqueles que encaixam e preenchem todos os espacinhos e fazem a gente se fundir por um momento, mergulhando no cheiro daquela curva no fim no pescoço... Alguém com quem valha a pena ficar de conchinha, no aconchego de uma noite preguiçosa ou uma tarde de domingo. Mas não só. Alguém que, ao ouvir 'estou comprando ingressos pra um tributo ao Belchior que vai ter no Sesc', seja capaz de demonstrar sincera empolgação e não questionamento - que? quem? quando? mas quanto? não, pera. 

Sempre quis alguém leve, apesar de toda a bagagem assustadoramente pesada - como eu. E que, como eu, tivesse um olhar calibrado pras coisas boas e o foco na honestidade. Alguém que me olhasse do jeito que eu sei que mereço. E pra quem eu olhasse daquele jeito intenso sem receio de derreter (mesmo derretendo um pouco)... Um alguém com os olhos doces, mas com o olhar profundo.

Dizem que como você se ama é como você ensina os outros a te amarem... E essa é a grande sacada. Não estou aqui pensando nesse alguém porque me sinto mal de alguma maneira por não tê-lo. Mas porque meu sorriso já aberto se abre ainda mais se ele estiver. E porque, sei lá por quê, as coisas parecem mais simples e leves e gostosas e urgentes.

Tenho me feito feliz com meu amor próprio, que por anos me neguei. Cuido de mim, presto atenção nas minhas necessidades, nos meus desejos, no que me é importante ou não. Tenho paz. Tenho tempo. Tenho energia. Tenho disposição. Tenho minha casa e minha família - não outra, emprestada. Tenho minha rotina, meus horários, minhas prioridades... E, de repente,... tenho me encantado com a possibilidade de encontrar uma pessoa disposta, naturalmente, a compartilhar dessa minha complexidade. Alguém que, ao menos aparentemente, se encante com toda essa multiplicidade que me compõe... E, tão importante quanto, alguém disposto a se compartilhar comigo. A me inserir na sua rotina, na sua história, de um jeito especial. Alguém disposto a se deixar surpreender por textos, músicas, danças, showzinhos no Sesc, palha italiana, pastilhas pra dor de garganta e mimos em datas importantes.

Alguém disponível. Alguém disposto. A entender meu tempo. A me explicar o seu. 

Alguém que não tem pressa, mas que, definitivamente (de um jeito que me faz explodir de satisfação) também não perde tempo. Alguém que ame o que faz tanto quanto eu amo o que eu faço e que, portanto, entenda: os sacrifícios, os esforços, a dedicação, as horas extras, os fins de semana preenchidos... E que, de certa forma, se orgulhe do que eu me orgulho tanto: de sermos capazes de ir atrás dos nossos sonhos. 

Alguém que não precise me prender pra sentir que sou dele. Que não precise fazer exigências, mas que se sinta sempre confortável em expressar seus sentimentos. Alguém que pergunte (e ouça!), antes de acusar. Que entenda minha dificuldade de falar sobre certos assuntos.  Alguém que dez dias depois de conhecê-lo me faça pensar em ovos de páscoa caseiros e em sobremesas preferidas e almoços de família e viagens de fim de semana. 

Alguém que não se assuste com a minha intensidade. Com meu jeito objetivo de dizer as coisas e a minha sutileza de elefante em loja de cristais ou meu mau humor antes do café ou na hora da fome. Alguém que não se incomode que eu seja quem eu sou... Nem com os meus textos assustadoramente apaixonados (SEM OR)...

E que, principalmente, alguém que se sinta melhor ao meu lado. Alguém a quem possa acrescentar: leveza, alegria, auto conhecimento, vivências, amor (quem sabe?).







"O que vai acontecer com a gente eu não sei. O que eu sei é que o que quer que aconteça vai ser muito bom."

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

o que eu estou esperando?

Horas depois e continuo com o coração disparado, pulsando na garganta. O coração parece que dói, num aperto, que ora lembra um abraço gostoso; ora lembra um beliscão, porque a sensação não passa. Parece que diz "não adianta esfregar, que continuo doendo." Tanta coisa na cabeça. Coração a milhão, sem saber do que se trata. 

Sei que me peguei pensando no brilho dos seus olhos no fim do beijo. Naquele segundo em que abrimos os olhos sem nos afastar. E o jeito que eles me encaram, sem receio. Pequenos fragmentos de luz... Me iluminando por dentro.



E até quem me vê, lendo o jornal, na fila do pão, sabe que eu te encontrei...


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

venha me beijar de uma vez

Como diria Belchior, enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer não – escrevemos! 


Você foi, de longe, uma das pessoas mais... o que? Importantes? Especiais? Malucas? Não sei dizer: nem o que você foi nem o que ainda é, pra mim. Sei assim: que quando te vi algo explodiu em mim. Por dentro, faiscaram fagulhas. Luzes de alerta piscaram na minha mente mas, com o coração em chamas, quem ia prestar atenção nas luzes vermelhas e nas placas de saída? 

Caminhei até você pisando em brasa e sorrindo. Você me bagunçou tal qual Liniker canta... de um jeito tão gostoso que chega a ser dolorido. De certa forma, quando nos despedimos, sabia que não havia sido um encontro qualquer. No fundo, aquele momento estupidamente normal despertou algo. E logo eu, que nunca acreditei em almas gêmeas, senti que te conhecia de outras vidas. E fui embora com o coração na mão...

E cada encontro, mais sentia meus pés fora do chão... E sei que você flutuava comigo. Nenhuma conversa nunca foi tão fluida. Tão leve. Tão suave. 

Sempre cito aquela frase que diz que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. E mais ainda aquela que diz que tudo acontece como tem que acontecer... Aconteceu? Preciso acreditar que sim, pra seguir em frente. A vida segue, você disse. Tem que seguir, disse de volta. Mesmo assim, depois de tantas voltas da vida, cá estamos nós de novo, no mesmo barco. Na mesma sintonia. Com o mesmo olhar desejoso dos olhos do outro. Os dois corações similarmente disparados, de cada lado do telefone.

Já que você me bagunçou... Deixa eu bagunçar você também?

Eu só quero um gole de cerveja. 
No seu copo. No seu colo e nesse bar. 


O resto a gente vê depois. 

domingo, 4 de fevereiro de 2018

dois cafés

"Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida
Cuidado, companheiro!
A vida é pra valer
E não se engane não, tem uma só
Duas mesmo que é bom
Ninguém vai me dizer que tem
Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu
E assinado embaixo: Deus
E com firma reconhecida!
A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida"


Ele continua cruzando as pernas, não com um tornozelo sobre o joelho, mas joelho com joelho; cruzando um dos braços em frente a barriga e apoiando o cotovelo do outro sobre o pulso do primeiro; a mão do braço apoiado vai ao queijo e, ali, os dedos passeiam ora ao redor da boca, ora entre o queijo e a orelha, ora na barba, ora apenas parados por ali -  exatamente do jeito que imagino Caetano Veloso sentado num banco de madeira qualquer; ou como Freud certamente se punha pra pensar.

Os olhos continuam atentos. A conversa continua fluida. A adultice não lhe tirou a graça. Não houveram piadas sobre deuses e nem uma pitada de Kossovo. Tampouco falamos de Pessoa ou dos tempos do colégio. A vida ruge...


A calma continua a mesma, mas mais consolidada. Nem uma gota de insegurança. Café, só se for o mais café dos cafés. Existe uma confiança na voz, mais firme. E tanta história pra contar...


Esses dias li que não há coisa melhor do que tomar um café com um velho amigo. E de fato: foi tão bom, que tomei dois.