sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Só que não

"Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança. Mas só fico aqui parado, sem sentir nada, sem pedir nada, sem querer nada."

 (Caio Fernando Abreu)
 
A pior de todas as sensações é você acreditar que você não pode contar com ninguém. Só que não. Há coisas piores ainda, como você achar que pode contar e, de repente, não poder. As pessoas gostam de pessoas felizes, animadas, sem problemas, sem neuroses, dúvidas, medos ou desilusões. Na hora do perrengue, muitos vão embora. E quem pode julgar alguém por te deixar resolver sozinho seus próprios problemas? Acontece que eu não sou dessas que vai embora. Sou daquelas que fica. Que segura a mão, abraça e empresta o ombro pra chorar. Mesmo que, muitas vezes, eu preferisse estar sendo cremada a estar ali ouvindo lamúrias, eu sempre fico. E sempre, sempre, procuro ser atenciosa e dedicada e dizer algo que poderia ajudar. Se não há como ajudar, fico ali, quieta, tentando mostrar que aquela pessoa pode contar comigo, mesmo que eu não saiba direito como.
 
E é de morrer de espanto ver o quanto as pessoas não reconhecem esse esforço e não tentam, quando sou eu quem chora, perdida, ficar. Ficar comigo. Aquela coisa de 'pro que der e vier' e tudo mais. Sempre me achei boa amiga. E, do dia pra noite, o número de pessoas com quem posso contar, pra quem posso chorar meus pés na bunda e meus medos, diminuiram consideravelmente.
 
Não escrevo mais. Não danço mais. Meu corpo amolece a cada dia e meus pulmões fraquejam com a menor subida. Não me alimento direito, não consigo nem convencer meu pai de que eu posso pagar o pedreiro pra arrumar meu quarto. E nem sequer começamos a falar sobre pintá-lo. Toda vez que sento diante de um volante eu faço uma cagada. Cadê a garota que passou na prova de baaliza com tranquilidade e não perdeu nenhum ponto no percurso, fazendo apenas metade das aulas? Me sinto inútil. Não tenho coragem sequer de me matricular na academia. Não vou mais a igreja. Batizei uma adolescente órfã de mãe que não conversa comigo direito e que não vou conseguir orientar. Muito provavelmente, durante a vida, a verei tão pouco quanto vejo a minha madrinha.
 
Parece que tudo perdeu o charme, a cor, o mistério, a alegria. Não vejo graça em quase nada. Estou o tempo todo quase chorando, pensando em coisas ruins. Não gosto mais do meu emprego e passei o ano todo sem guardar um centavo pra arrancar os dentes do juízo (até porque, sem os dentes do juízo, simplesmente largaria tudo isso e partiria pra outra, sem ficar calculando aa segurança de ser concursada).
 
"Você jamais estará disposto a ser assustadoramente feliz sem estar disposto a sofrer assustadoramente."
 
(Gabito Nunes)
 
Continuo querendo coisas que não posso ter. A unica coisa que ando fazendo direito é limpar a pele e passar hidratante nas pernas (eu me sinto melhor). Desejo imensamente mudar de vida, mas não sei direito por onde começar. Quando estava feliz, animando, me encorajando, um idiota que eu tanto admirava me jogou do penhasco, se lixando pro meu esforço e pras minhas batalhas diárias pra ser um alguém melhor. Me empurrou lá de cima e me disse que nada do que eu dissesse o faria pensar diferente. Que todo o meu esforço não havia valido de nada. Que sou fraca. Não, ele não disse isso, que sou fraca, mas foi o que ele me fez entender.
 
E o pior é que eu vou ter que, de novo, fazer tudo sozinha. Resolver tudo. Achar forças e coragem pra recomeçar. Pra me reinventar, me reencantar pela vida.
 
Beijos, Jaqueline.
 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Há muito não me reconheço

Esse ano não foi fácil. Foi um período de autoconhecimento, de aprendizado, de batalhas... Mas pra aprender, muitas vezes, a gente cai, se machuca, fica triste. No fim, a gente entende que tudo isso serviu pra nos fazer crescer. E que essas tais "dores do crescimento" (decepções, angústias, medos, erros...) nos fizeram mais fortes. Mais fortes para encarar o ano que está por vir e os desafios e aventuras que ele trouxer. Poucos anos serão tão intensos como 2012. Faltou dança. Mas ainda sim, tive alegria, diversão, amigos e amor. E é isso que faz nossa retrospectiva fazer sentido: descobrir que valeu a pena.

Doeu. Crescer doeu muito. Perder a ingenuidade, a tranquilidade e, muitas vezes, a esperança doeu demais. A angústia apertou tanto o meu peito que as lágrimas rolaram soltas, inclusive na frente de pessoas que, antes por mim admiradas, me machucaram e decepcionaram. Outras, fizeram companhia somente a mim, a sujeira que cai do teto e ao meu travesseiro. Tudo bem... crecer dói mesmo. Não me arrependo das coisas que fiz e vivi, mas sei das cicatrizes que ficaram. Se viveria tudo de novo? Talvez não. Estou tão cansada... Tão diferente de tudo o que eu era... Não consigo traçar planos, nem sequer escolher meu presente de Natal.

Há muito não me reconheço...

Resolusões 2013, por enquanto.

1) Afastar o que me machuca. Reaproximar o que me faz bem.
2) Quem quer dá um jeito, quem não quer arruma uma desculpa.
3) Eu me amo, não posso mais viver sem mim.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Chega o carnaval, mas não chega dia vinte

Cá estou (por que sempre começo meus textos assim, com "cá estou", ao invés de "estou indo" ou "fui"?? Talvez porque esteja sempre inerte... Será?) de novo angustiada por não estar desbravando o mundo, vivendo aventuras, descobrindo coisas e, dessa vez, buscando em mim um jeito de realizar aquilo que eu desejo.
 
Ontem comprei um espelho pro quarto. Simples, barato, com a moldura de plástico branco tão fraca que em breve ele vai quebrar. Mas eu comprei. Parece algo idiota, mas queremos um espelho no quarto desde que nos mudamos pra casa, há quase sete anos... E quebramos o galho com o que foi retirado do guardarroupas velho do meu irmão... Mas esperar sete anos pra comprar uma porcariazinha de vinte reais, além de não fazer sentido demonstra aquela eterna displicência em fazer coisas que, simplesmente, queremos.
 
E passei a reparar quais são as coisas que me arrancam risadas sinceras. Dançar me faz rir. Ver dança me faz rir. Seja a Cia Faces Ocultas, o Espaço Shiva ou o "Você é o Artista" da escola. As pessoas são felizes quando dançam... Elas sorriem e se libertam e são ainda mais incríveis e poderosas. Elas amam. Elas... elas dnaçam e não são julgadas se caem ou se não esticam a ponta do pé direito.
 
Resolução número um para 2013:
 
Afastar o que me machuca. Reaproximar o que me faz bem.
 
Dançar me faz bem.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Temakeriada

E aí você percebe que o próximo feriado do ano é o Natal. Percebe que suas contas estão de cabeça pra baixo e que você não escreveu nenhuma linha a mais do seu projeto de TCC. Ainda sim, seu celular novo é lindo. Você, finalmente, resolveu encurtar aquele vestido longo que você teria usado no Natal passado, se seu namorado tivesse te achado bonita nele. Já está na quarta temporada de Grey's e, pra variar, começou a gostar das aulas de Expressão Oral (pelo menos...). Além disso, ao que parece, você criou um vício ridiculamente caro por pedacinhos de salmão enfiados no meio de alga e arroz. Particularmente, eu acho que eles ficam deliciosos boiando no shoyo...

sábado, 17 de novembro de 2012

Querer

Queria paz... Poder ficar quieta no meu canto sem ninguém me fazendo perguntas que eu não quero responder. Parece que eu me adapto tão rápido aos lugares e, ao mesmo tempo, me desacostumo com certas coisas e pessoas. Estava tão alegre ontem... e agora, tão, tão preguiçosa e irritada. Só quero ficar aqui, quietinha, com meus médicos de roupas azuis e suas vidas sexuais transtornadas ou lá, naquele colo quente, sentindo aquele perfume amadeirado e gostoso. Queria que ninguém me falasse o que eu posso ou devo fazer quando, na realidade, a única coisa que queria era não fazer nada. Não quero conversar, não quero comer cebola, não quero ver filmes chatos, não quero escrever sobre política.
 
Não sei o que quero.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

mimimi

Todos os anos, um pouco antes do meu aniversário (sim, já foi), eu acabo ficando introspectiva. Meio hipocondríada. Melancólica. Pensativa. Não é tristeza. É só o tal do inferno astral (deve existir, não é possível). Terça passada me dei pedaços de salmão com cream cheese e chopp de presente. Mas era mais uma maneira de satisfazer minha vontade de não pensar-entristecer (sou mais feliz e satisfeita com a vida quando estou comendo algo bem gostoso).
 
É que nessa época vem aquele sentimento "mais um ano da minha vida passou e eu continuo não fazendo nada de corajoso". Quer dizer,... eu fui candidata a vereadora: considero isso muito, muito corajoso. Enfrentar a análise das pessoas, estar exposta a coisas boas e ruins, julgamentos justos ou não, palavras carinhosas e também àquelas suaves como arame farpado. E, há uns anos, ainda de fraldas e meias, me estiquei toda cambaleante, sustentando-me, encontrando aquele tal de eixo de que as professoras de ballet tanto falam e, como dizem, andei com as minhas própias pernas. (Talvez as duas coisas mais corajosas da minha breve existência).

Sinto falta de coisas que nunca fiz. Como fazer as malas e encarar uma nova cidade, um novo emprego. Gritar com aqueles que estragam vários dos meus dias e me demitir. Pegar um ônibus e ir fazer estágio, mesmo que longe. Ousar.

Não me candidatei pra faculdades federais por medo de não aguentar a distância, as dificuldades. Mimimi, colinho da mamãe, mimimi roupa lavada, mimimi comida na mesa... AHHHH às favas com os medos. Pro inferno com as dificuldades! Como queria poder voltar no tempo pra poder alças vôos mais longos. Mais distantes.

Jaqueline Rosa

TENTENTENDER

Parece que ele é meu terapeuta. Um alguém que a gente paga ou pega de jeito pra ouvir minhas asneiras hipocondríacas... Porque só sinto essa necessidade torta de vir aqui quando estou com essa angústia me engasgando.
 
Parece clichê de blog adolescente, mas ando cercada de gente que me julga e não me dá o direito de resposta. Gente que me ignora. Pior: gente que pergunta, mas não quer resposta. Gente que fala e, depois, vai embora sem ouvir. Acho engraçado, mas sei que a culpa é minha por me meter no que não é da minha conta, por tentar ajudar e entender os dramas dos corações de pessoas que eu mal conheço. É minha culpa se tento, o tempo todo, ser gentil e educada e não magoar ninguém. O problema é que, nessa, sou a que sai com os espinhos enfincados nas mãos. Sou aquela que, depois de um tempo, perde os amigos.
 
Com o tempo, confesso, vou cansando de sorrir e acenar. Vou desgastando meu sorriso amarelo, minha vontade de mascarar as minhas dores, minha vontade de simplesmente, mandar todos praquele lugar.
 
Como dizem por aí, o que falta no mundo é "um bar chamado cu, pra muita gente ir tomar lá." Parece que quanto mais eu me esforço pra fazer as coisas da melhor maneira possível, mais elas dão errado. Parece que quanto mais eu tento ser amiga e ajudar, mas as pessoas me acusam de estar atrapalhando.
 
De novo, me vem aquela vontade de resignar. Não deslocar um músculo sequer, pra nada.
 
Eu, que andei colorindo papelão e lendo livros. Eu que, há muito, não fazia nada naquela faculdade com fervor, que tanto havia me animado com a ideia para a monografia... Queria ler Fernando Pessoa, sentada ao Sol, estirada na grama gelada de inverno, com músicas nos ouvidos: mas vou assistir Greys Anatomy.
 
Tanto pra dizer. E é tudo uma confusão de palavras...
 
Jaqueline Rosa.
 
 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

o que será que será

"A notícia mais importante deste ano é para você escorpiano, pois Saturno deixa o signo de Libra, no qual esteve durante os últimos quase três anos e começa a caminhar através de seu signo. Saturno é um deus frio, exigente e o pai e professor mais severo do zodíaco. Nos próximos quase três anos, você será exigido em todos os setores de sua vida. Você estará mais sério, introspectivo, fechado, organizado, exigente e muitas vezes com um humor que nem mesmo você vai suportar. Estará focado em suas metas e não vai sossegar enquanto não conseguir atingi-las. Certamente enfrentará dificuldades, obstáculos e muitas frustrações na construção de um novo caminho que ficará mais claro a cada dia. Saturno chega para cobrar, e você deve pagar com satisfação e respeito, mesmo diante das dificuldades. No final de tudo, ele deixará a você um grande e precioso presente: a experiência e o crescimento."
 
 
Ninguém disse que ia ser fácil. E nem eu queria que fosse assim, mas também não achei que fosse pra tanto. Parece que quanto mais a gente tenta ajudar, mas os outros pensam que estamos atrapalhando. E, nessas horas, manter-se focado e firme nas convicções parece mais difícil ainda. No entanto, vou provar que eu tenho um pouco de razão.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

João e Maria

João e Maria. Não, não são as crianças gulosas que comeram a casa de doces. São meus tios. Avós. Dois fofos, fazendo compras no supermercado. Maria pegou as mexericas dizendo que aquelas eram as preferidas de João. Depois reclamou do preço dos tomates e disse que precisava comprar cebolas. João, enquanto isso, com seus mais de oitenta anos, andava do outro lado do mercado devagarinho. Daqui a pouco, João pega mais mexericas. "Mas João, eu já peguei mixirica", "não, é dessa aqui que eu gosto"...  

Juntos apesar de todas as rugas, linhas, esquecimentos, dificuldades... Juntos, apesar do corpo envelhecer, da mente falhar... Juntos, pra sempre.

de novo

Não, não estou ansiosa. Nem pra voltar pra faculdade, nem de voltar a dividir a pouca paciência que me restar ao fim do dia com quinze pessoas barulhentas e atrasadas. Keep calm and compre um fone de ouvido potente. Já comprei. Já estou baixando músicas novas e separando minhas blusas de capuz, pra poder fingir estar dormindo. Minha sociabilidade morre na faculdade: sim sou um ET. A única coisa que quero fazer voltando pra facul é ir no show da Revolução Mental sexta-feira e usar meu anel de caveirinhas novo, porque não tá fácil sequer pensar em AECA e aula da Fina.






terça-feira, 17 de julho de 2012

:p

"Relaxa, sei que esqueço a qualquer momento, qualquer dia desses, qualquer viagem daquelas.
Mas enquanto isso, ainda escrevo sobre você."
SOULSTRIPPER

HA HA HA.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Amnesiando

Ele olhou pra mim com os olhos confusos através do insulfim. A porta do carro meio aberta não me deixava ve-lo, mas eu sabia que ele não havia me reconhecido. Dei tchau com a mão trêmula, com um nó no coração. Queria poder bater na cabeça dele e tê-lo de volta, com todas as lembranças no lugar. Mas a Amnésia, cedo ou tarde, cederá.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Apostas

Bom dia, último dia... Mas se o mundo é redondo e cada fim pode ser o começo, ou cada começo o fim, se alfa e ômega não existem e início, fim e meio são coisas que se misturam e se completam, então não há com o que me preocupar. Novos caminhos devem mesmo ser trilhados, mesmo que deêm aquele frio na barriga e arrepiem a pele e sequem a garganta. O nó na garganta é o nó que nos prende ao conforto, à rotina, aos amigos. Desatá-lo, muitas vezes, significa dar início à momentos conflitantes, de solidão e novidade. Coisas novas acontecem o tempo todo, mas em alguns casos, a necessidade de transformação é maior. Precisamos sair da nossa zona de conforto... Ultrapassar o limite da segurança, soltar da barra da saia de quem nos protege e nos faz não temer nada. O novo dá medo. Assusta. E, por isso, muitos evitam o caminho desconhecido. Porque nunca se sabe aonde ele vai nos levar. Pode ser ruim. Aí voltamos pro estado de pessimismo. Buscamos mãos quentes e pijamas de plush, pantufas e chocolate quente. Sofás confortabilíssimos que fazem com que o mundo pareça uma coisa muito, muito distante. Talvez não seja nada demais e a jornada não compense. Nem ter ido, nem voltar. Pode ser que nada seja descoberto. Pode ser que nada nos encante e que a gente se conforme que coisas novas não devem ser tentadas, por não compensarem a dor de cabeça. Ou pode ser incrível. Uma experiência que nem você acreditava que pudesse acontecer, que faz a vida parecer um sonho! Coisas que tornam a nossa existência muito mais interessante. Viver é apostar que nossas descobertas valerão a pena. Que nossas tentativas não serão em vão. É apostar na nossa capacidade de transformar nossa própria vida. É escrever a história que queremos contar pros nossos netos.

Beijos, Jaqueline.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Cara nova


A Associação de Moradores do Vale Verde votou e escolheu seu novo logotipo. Essa será, a partir de agora, a marca da entidade. A imagem faz parte do projeto Identidade, que visa divulgar o nome da AMVV como a entidade séria que é.

O logotipo foi desenvolvido pelo sócio Márcio Michel Dias e aprovado em reunião pelos presentes.

Parabéns, Márcio, e obrigada pela dedicação. 


sexta-feira, 30 de março de 2012

De overdose

Esse texto foi escrito, originalmente, para o livro, em processo de edição e criação, Incorrespondências, que há de sair um dia. É uma meia-ficção, uma tentativa de inventar algo. Espero que gostem. Eu, particularmente, o tenho como a um filho mais bonito que os outros, do qual eu gosto mais. Esse bebê me arrepia toda a vez que leio. Espero que represente algo pros que aqui vierem se entreter.

De overdose - Jaqueline Defendi Rosa
Querido, sei que há anos não lhe escrevo e que há muito estou com outro alguém, noutra cidade, noutra história, noutro rumo. Mas acontece que há várias noites venho sonhando com você com tal grau de realidade que pensei que nunca, meu Deus, nunca mais conseguiria dormir se não lhe enviasse uma carta. Não teria sossego, entende.
 
Sei que combinamos não guardar mágoas e nem revirar as areias nas quais enterramos nossa vida juntos – imagino que você, sempre tão honesto, tenha cumprido sua parte do trato. Mas volto através desta pra tentar livrar minha consciência desses sonhos melancólicos e saudosistas que me perseguem noite após noite, pois com eles não consigo sobreviver incólume.
Acredite, andei me sentindo culpada pelas broncas que te dava pelas roupas espalhadas e copos na mesinha de centro na sala – elas manchavam a madeira, querido, e todas as vezes em que a casa estava de pernas pro ar as visitas chegavam, você se lembra? E aquela vez em que você deixou o cachorro entrar, pra protegê-lo da chuva, e ele deitou do meu lado da cama, ahh como eu te odiei naquele dia... Mas você não me ouviu quando disse pra deixa-lo lá fora.
Depois de um tempo, comecei a esquecer a raiva que eu sentia quando você ignorava meus penteados e roupas novas, sempre tão atento ao futebol, e passei mesmo a sentir falta do silêncio que você providenciava quando eu queria ler, das suas piadas sujas e de você contando como fora o seu dia no trabalho. Comecei a ansiar todos os dias pela hora da sua chegada, que não chegava nunca. Queria poder te ouvir roncar ou cantar no chuveiro. Pra ter ideia, comecei a assistir aqueles filmes de guerra e a encher minha comida de pimenta, assim, imperceptivelmente. Dá pra imaginar? Só notei quanto já tinha adotado completamente hábitos que eu sabia que eram originalmente seus. Quando já era tarde demais para o tratamento – meu terapeuta disse que é meu subconsciente dizendo pra onde quer voltar, e não sei bem se consigo ignorar esse diagnóstico.
Fazer o quê, né. O que não tem remédio, remediado está. Minha vó sempre dizia. O que sei é não devia nem mesmo lembrar da sua existência – minhas amigas vivem me lembrando que eu devia te esquecer – e só servem mesmo pra fazer com que eu me lembre ainda mais. E todas as lojas agora decidiram vender coisas com o seu perfume e parece que são sempre suas cores favoritas que estão na moda. No rádio, só tocam as suas preferidas, aquelas que eu detestava, e pra onde quer que eu corra dou de cara com você. Que nem deve estar sentindo a minha falta.
Mas se estiver, um tiquinho que seja, me liga, me alcança, me espera. Me junta, me agarra e não larga de jeito nenhum. Se houver em você um grama de saudade. Uma colherinha de arrependimento, de vontade. Se seu café não estiver forte o bastante, suas roupas não estiverem engomadas, se seu coração estiver precisando de uma boa faxina e seus sentimentos de organização: me chama, me clama, inflama, incendeia. Aceito qualquer desculpa, qualquer motivo, qualquer intenção, qualquer migalha, qualquer faísca.
Pouco importa o que dirão os vizinhos, os parentes, as ruas, os passarinhos. Não me importo mais em ir pro céu, que o próprio nada vale sem que nessa vida se viva com fervor. Me incomoda a ausência de você, que nenhum outro consegue suprir. Me adoece essa distância, essa culpa, esse amor.
Se for pra morrer de amor, quero morrer por ele afogada e não só úmida. Quero que me incinere de uma vez e não só avermelhe as pontas dos dedos com suas chamas. Nada de homeopatia. Nada de gotinhas, daquelas doses pequenas.
Já que eu vou mesmo morrer de amor, me deixa morrer de overdose?

quinta-feira, 15 de março de 2012

Inferno

Salto, 15 de março de 2012, para o Amnésia.

Faço dos meus dias sempre uma mistura esquisita. Acho que sou um liquidificador. Estou cansando disso. Não basta o dia ser um suco de quietude. Ele tem de ser uma vitamina de quietude, chuva, vestido branco e dor. E palavras idiotas, pra enfeitar o copo, junto com o guarda chuva. Aliás, junto com a fatia de limão, porque a burra aqui esqueceu o guarda chuva. Sim, porque quem anda com um peso idiota o dia todo, mesmo quando não há a mínima probabilidade de chover e está noite, logo não há sol, é esperto. É prevenido. E todo mundo sabe que uma mulher prevenida vale por duas. Dãr.

Mas de boa. To aqui com a Cássia, sentada numa cadeira verde superconfortável no corredor do bloco G, esperando pra responder a chamada das duas últimas aulas. Ridículo estar aqui, na faculdade, e não estar lá, na aula. Mas a chuva me deu frio e dor de cabeça, e aquele babaca do bloco E me deu raiva. Me sinto uma barata, de tão desprezível, quando um babaca faz uma piadinha machista pra mim, ou de mim. Principalmente de mim. E BRANCO É UMA BOSTA. Não é lindo. Você só acha lindo porque não é você que está com uma roupa transparente grudada no seu sutiã que, sim, sua tia reparou, não é branco! Inferno.
Jaqueline.

sexta-feira, 2 de março de 2012

trégua

Têm dias em que a gente, simplesmente, deveria ter decidido ceder ao nosso mais íntimo desejo e ter ficado na cama. Dias em que não importa sua paciência, vontade, atenção ou persistência. Parece que o mundo briga com você. Conspira contra você. Que as pessoas se unem pra tentar pisar justo no seu calo no dedinho.

Na maioria deles, eu mantenho a compostura, o rebolado, o botão do foda-se acionado. Mas é que às vezes, isso não acontece. De vez em quando eu canso e quero colo. Quero água, quero trégua.

Hoje foi um desses dias.

Bjs, Jaque.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

ponto e vírgula

Tensão pré CFC. Descobrir horários de ônibus, me matar com o inglês, correr pra auto-escola, ter aulas muito chatas, esperar ônibus sozinha, morrer de medo e frio, chegar tarde na casa da ria e acordar bem mais cedo, pra ir à pé trabalhar. So good.

*

Quando encostei no fortinho do seu peito, como diria Tati Bernardi, e senti  aquele seu perfume amadeirado; quando sua respiração fez minhas ideias subirem e descerem, acompanhando o movimento; quando sua mão quente tocou a minha, protetoramente e eu, de súbito, olhei nos seus olhos sorridentes, um branco impossível de camiseta de propaganda de sabão em pó me tomou a mente e não consegui pensar nem dizer nada. Prendi a respiração, pra que não corresse o risco de atrapalhar aquele momento ou, vai saber, acordar do que parecia ser um sonho.

*

Beeijos, Jaqueline.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Lista de reprodução automática

Música me inspira como um sorriso. Cá estou eu com Leoni, dessa vez. Acho a música dele tão triste. Sério. E não estou triste. Começou a cantar sozinho, na minha lista de reprodução com um zilhão de sons. Mas acho também que a tristeza dele é a mais romântica de todas as coisas que doem. É a solidão de quem está rodeado de gente, o silêncio, o vazio, num lugar onde tudo é vida. Acho que em cada um dos seus versos, o que ele canta é aquele amor verdadeiramente dolorido. Aquele que a gente nunca quer sentir, mas sente. Aquele que pode acabar nos matando, mas que não abandonamos nem sob essa ameaça.

Agora está tocando Lifehouse. The Joke. Gosto da batida da música. Se não estivesse com tanto sono, tentaria cantar. É uma música que me faz bater o pé no chão, marcando compasso. Não lembrava que tinha ela aqui, que coisa. Tanta porcaria no meu computador. Metade das músicas que tem aqui eu nunca vou escutar pela segunda vez (e no caso de algumas que a Luana passou pra cá, não vou ouvir sequer uma vez). Acho que Lifehouse tem cara de trilha sonora daqueles filmes água com açúcar que eu adoro! Easier To Be, por exemplo, seria uma boa trilha praqueles momentos em que a mocinha está indo embora da cidade, daí filmam ela encostada na janela do táxi, com olhar triste, e depois o mocinho-príncipe-encantado sentado na escada da casa onde ela morava, com aquela cara de cachorro que caiu do caminhão. Adoro essa música.

Até hoje não sei se gosto da Lily Allen. Depois de uns três minutos, a voz dela me enjoa. Muito doce, muito suave, muito menininha de cor de rosa. Boa mesmo é a voz da Ana Carolina, da Cássia Eller, da Maria Gadú...! Lily Allen, Regina Spektor, Vanessa da Mata,... Duas ou três músicas só. No máximo. E eu, acho, gosto das três.

Não gosto do Lobão. Já ouvi Me Chama em versões melhores. Próxima. It’s Gonna Be Love, na voz da Mandy Moore. Linda. Mas altamente depressiva. Vide Um Amor Pra Recordar.

Sertanejo. Pula. Funk (foi a Luana!). Pula. Man in the mirror, MJ. Não gosto dessa música. Acho um desperdício de Michael. Bom mesmo é They Don’t Realy Care About Us, Black or White e Dangerous.


Falta do que fazer dá nisso: análise de lista de reprodução automática, rs.
Beeijos, Jaqueline.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

All my heart ir yours

"Porque eu respiro só para poder sentir o seu perfume, enxergo só para poder ver seus olhos, seu sorriso... Tenho ouvidos só para saborear o som da sua voz. Meu paladar é só para sentir seu gosto e toda a superfície da minha pele só faz sentido de existir se for pra tatear você..."
(Jaqueline Rosa)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

E lá se foi 2011...

escrito em 30 (ou 31?) de dezembro de 2011

Cá estamos: eu, Jack - Johnson - e a minha televisão barulhenta (que agora está no mute, pra não atrapalhar o doce som da voz desse surfista lindo, digo, talentoso). Como ia dizendo, cá estou, com Jack, fazendo um balanço final de 2011. Parece-me que foi bom, apesar de ser capaz de lembrar de um punhado de coisas que me fizeram chorar.

Não seria nunca capaz de lembrar de tudo. Parece que ontem mesmo foi a Páscoa e estávamos nós dois no estacionamento do Serra Azul. Hum. Lembro pouca coisa de janeiro. Lembro de um bêbado e divertido carnaval - misturado com um punhado de terapia e discussão de mapas as trológicos. Lembro de feriados longos, de quartas-feiras sem aula na faculdade. Lembro da tristeza de trabalhar num horário ruim.

Lembro da Páscoa, do teatro, dos ovos de chocolate. Lembro do seu aniversário, do aniversário do meu pai, do nosso aniversário de namoro. Lembro que consegui mudar de horário no trabalho e voltar pro ballet. Lembro que cada terça e casa quinta me pareciam como um pedaço de sonho, de algodão doce, de céu.

Lembro dos meus salários caindo na conta e me fazendo sentir a pessoa mais rica da humanidade - até que vinham as contas e puft! o dinheiro sumia! Lembro das férias de julho, dos churrascos, dos amigos, dos filmes, dos livros.

Lembro do pior semestre de toda a minha vida estudantil. Lembro da preguiça, do marasmo, da falta de ânimo, de coragem, de ideias. Lembro da falta de criatividade. Da falta de tesão, da falta de vontade de enfrentar um novo desafio.

Lembro das mil páginas da apostila de psicologia, que não acabavam nunca. Lembro de aulas perfeitas com o professor Agnelo, que me fizeram literalmente rir e chorar.

Lembro de madrugadas inteiras chorando. Lembro de tardes gostosas deitada na rede, vendo o sol se por. Lembro das músicas que ouvimos baixinho na Nova Brasil antes de dormir. Lembro dos livros que comprei por impulso e não por vontade de ler. Dos dias que passei pensando bobagens, das noites insones sonhando acordada. Lembro do meu aniversário, das coisas bonitas que li em cartões, das brigas bobas com a minha irmã, das vezes em que eu, simplesmente, dormi.

Lembro de ter me importado muito com algumas coisas e pouco com outras. Lembro de querer dar mais cor a minha vida. Lembro de viver em função de te fazer feliz. Lembro de finalmente, admitir que gosto do cachorro que minha mãe adotou. Lembro de fazer um esforço pra ser legal com o pirralho do meu irmão. Lembro o quanto temi, o quanto rezei, por pessoas que nem gostam tanto assim de mim.

Lembranças são só isso. Mas é de lembranças que se faz história. E é de história que fazemos um futuro. Posso lembrar de tudo o que me aconteceu este ano. O que importa, afinal, não são os fatos, mas o modo com que lidamos com eles. Chorei muito, ri bastante, fui preguiçosa, medrosa, infantil,... mas não deixem em nenhum momento que minhas emoções verdadeiras se escondessem atrás de uma máscara. O tempo todo fui sincera e fiel àquilo que eu acredito e vivi cada segundo visando o meu único objetivo: terminar o ano sabendo que fiz o que devia, o que podia e o que queria. Não necessariamente nessa ordem...

Beeijos, Jaqueline.