segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

um sonho verde e rosa [parte 1]

Foi tão mágico que adiei a escrita desse texto, com medo de não encontrar adjetivos suficientes pra descrever. Ao mesmo tempo em que cada detalhe foi pensado, escolhido a dedo, planejado, sonhado, tudo aconteceu naturalmente: sem poses, sem protocolos, sem frescuras. 





Lembro da sensação de estar no carro, vendo a chuva cair e o semáforo fechar e a hora correr. Foi aí que comecei a ficar nervosa. O frio ia tomando o estômago e o vestido apertado não ajudava muito na missão de manter a respiração lenta e profunda. Decidi colocar uma música da nossa playlist. Escolhi Partilhar, depois Medo Bobo, depois O Peso do Meu Coração... aos poucos, a chuva foi passando e o nervoso também...

Quando cheguei em frente à igreja - a mesma em que cresci - diante da mesma escadaria onde tivemos nossa primeira conversa ao vivo, nosso primeiro encontro... Os sentimentos afloraram e me segurei pra não chorar ali mesmo. Vi nossos amigos de gravatas e vestidos verdes, tão lindos, vi meus pais, vi seu pai (o que quase me fez chorar de emoção por imaginar sua surpresa!) e vi você! Nervoso, não parava quieto... andava de lá pra cá. Te achei lindo e quis abrir o vidro, mas lembrei que a noiva é uma espécie de surpresa...

Fiquei observando essa cena, com carinho. Dali a pouco as músicas começaram e as pessoas começaram a entrar. Foi preciso apenas duas notas de "Dia Branco" pra meus olhos se encherem d'água (calma, Jaqueline, se concentra!). Que lindo foi ver as entradas ali, da 'coxia'...

Quando chegou minha vez de sair do carro... Foi uma sensação bacana ver meu pai antes de encontrar qualquer pessoa. O homem que me criou e me ensinou quase tudo e que é um exemplo e uma referência pra mim, ali, me estendendo a mão. Ele parecia tão feliz e estava tão lindo de terno...!  

Entrar na igreja foi uma emoção à parte. Eram tantos sorrisos que quase não conseguia me concentrar nos olhos chorosos lá do altar. As pessoas todas estavam ali reunidas: gente que, em outras circunstâncias, não estariam no mesmo evento. Família de perto e de longe, amigos do trabalho, amigos da dança, amigos da arte, amigos de infância. Meus e do Gui. Uma miscelânea de gente querida, de gente fina, elegante e sincera! 

Entrei e vi as flores, as fitas, os arranjos e sorri um pouco mais rasgado. Recebia carinho em cada passo...

Vi Guilherme secar os olhos, carregar um lenço em uma das mãos. Abraçou meu pai - e jamais imaginaria até viver o quanto esse momento é simbólico: pela confiança, pelo respeito, pela aceitação de alguém novo na família.

Ele me olhava com aqueles olhos de mergulhar - azuis da cor do céu, nesse dia - e eu quase que não conseguia olhar para o padre e me concentrar no que era dito (queria apenas ficar admirando aquele belo exemplar de homem, naquele belíssimo terno azul, barba feita e emoção à flor da pele. 

A gravata dele estava torta e fiquei pensando se seria de bom tom interromper a cerimônia pra ter uma boa desculpa para levar ambas as mãos ao seu colarinho e ajeitá-la, sorrindo sem levantar o olhar - foi o que fiz assim que o pároco nos colocou frente a frente. Fiz e fiz rindo por dentro, de imaginar a cena da ótica do público. 

E eu, que curto mesmo é ficar empoleirada naqueles braços, fui me achegando pra perto e mais perto dele, pra ver de pertinho e, quem sabe, sentir seu perfume. 



Foi uma cerimônia simples, sem floreios, que acabou logo, com abraços e fotos. Em algum momento me perguntei se alguém estava ouvindo o que o padre falava, pois o microfone parecia desligado (cadê o retorno no palco, produção?). Eu e o Guilherme  nos olhávamos e sorríamos e foi muito fofo. 

Na saída, coloridas bolas de sabão nos esperavam, com todas as pessoas de verde e coisa e tal. Erguemos as mãos num interno "aeee caraioooo" e rimos! 

Minha maior lembrança desse dia (tirando os pulmões esmagados no espartilho) foi a quantia de risadas... As pessoas gritaram e aplaudiram e sorriram!  Descemos as escadas, como era o combinado, atravessando o corredor de bolotas de sabão. 

E aí, nesse momento, aconteceu a parte mais divertida até então. Marido olhou pra mim e disse: "E aí, vamos?"  e eu disse "vamos!"

Eis que ele arranca o buquê da minha mão e o entrega pra primeira pessoa à vista, a Fabiana, dizendo: "Segura aqui, que essa parte nem você sabe que vai acontecer!" 






Ela pegou o buquê sem entender nada. Da mesma forma, catei a barra do meu vestido e o noivo me segurou pelo braço. E corremos! Fugimos! Dos protocolos, das regrinhas, das frescuras...! E fomos de encontro com o que realmente importava pra nós, pra simplicidade do que é real... Gargalhávamos sem dó ao entrar no Empório Plano Bê, onde Coca Cola e Stella Artois nos esperavam. Brindamos! Sei que nem bebi toda a cerveja, mas aquele gole, aquele primeiro gole, foi de uma alegria sem fim. Pela tontice, pela brincadeira, pela sede que o frio na barriga deu e que a cerveja gelada veio matar...! 

É o que sempre digo: "se não te permite a idiotice, não case!" 

O Empório também fez parte do nosso primeiro encontro e, honestamente, adorei fazer o primeiro brinde por lá. Estava tão entretida que nem vi o fotógrafo registrando o momento. Na real, não estava nem um pouco preocupada com fotos... Estava só vivendo o momento! Feliz como nunca...! 



E antes de ir pra comemoração desse momento lindo, conseguimos essa foto, com a qual tanto sonhei. A foto que me fez decidir ir de véu e grinalda. Uma das realizações desse dia... Com certeza, uma lembrança eterna da magia que foi esse dia...






Fotos: Fabio Bueno, Marcel Batroff e Josiele Bueno 

sábado, 23 de novembro de 2019

e encher nossa casa de paz




Um dia, nos perguntamos se sorte viria num realejo, trazendo o pão da manhã, a faca, o queijo ou talvez um beijo... E que sorte a nossa! Trouxe tantos bons momentos que parece que estamos juntos há uma década!

Com você, pude ter a prova do que sempre acreditei: que relacionamento é pra somar, pra nos dar ainda mais força pra sermos exatamente aquilo que somos e pra nos lançar pro voo mais alto, aquele que talvez não tivéssemos coragem sozinhos.

Com você, comprovei uma teoria que não me canso de repetir: não é o amor que sustenta o relacionamento, mas a forma de se relacionar que sustenta o amor. E que dá pra ser simples, da pra ser leve, da pra ser natural, sincero, divertido. Sem ciúmes tolos, sem desconfianças sem fundamento, sem implicâncias desnecessárias... Com parceria, respeito, amor.

Desde o começo, fomos namorados parças! Haha e agora seremos marido e mulher parças. Somos amigos, somos companheiros. E amigos, aqueles de verdade, respeitam quem nós somos. Nossa história, nossas escolhas, nossos sonhos...

Você me ensinou tantas coisas desde que nos conhecemos... Que mesmo a vida sendo cheia dessas coisas que a gente não pode entender, eu olho pra vc e sinto que você sabe tudo, que não importa o perrengue, você vai ter a resposta. E que se não tiver, a gente descobre junto. Com você, me sinto segura, protegida, amparada. E o melhor é que você não me protege tentando, de maneira alguma, me prender. Ao contrário, você olha pra mim e diz "vai, voa, que estarei aqui te esperando".

Bom, cara pálida, você sabe que não é pelo seu par de olhos azuis que estamos aqui, né hahaha mas sim pela firmeza deles e, principalmente, porque eles se enchem de lágrimas sorridentes quando você canta pra mim.

Eu admiro sua força, sua coragem, sua inteligência, sua gentileza e adaptabilidade e até seu poder de manipulação hahaha admiro como você trata sua família, como você sempre fala com respeito, como você sempre é empático e, na maioria das vezes, confiante e tranquilo. Adoro que você tope minhas loucuras e dance comigo na sala de casa. Como não querer viver pra sempre com alguém assim, que além de tudo ainda faz o melhor Strogonoff, topa um café a qualquer hora, ouve as melhores músicas e divide comigo sonhos de conhecer o mundo, de aumentar a familia, de envelhecer sem perder o bom humor?

Te falei mil vezes que os votos eram promessas. Uma lista de coisas com que nos comprometemos. Mas "defina coisas, cara pálida!" Haha Bom, eu me comprometo a tratar você sempre com a dignidade e respeito que vc merece. A te ouvir na intenção de te entender, não de responder. A partilhar a vida boa com você e com os nossos. Me comprometo a fazer palhaçadas e tirar várias fotos engraçadas quando você estiver distraído. Me comprometo a tentar te fazer sorrir ao menos uma vez ao dia. Sabe como é: se não gostar não paga, mas daí não pode sorrir se não vou saber que você gostou. Haha me comprometo a te escrever textoes e preparar jantares e fazer surpresas. Me comprometo a encher nossa casa de paz (até pq de gatos eu já enchi né) hahaha me comprometo a te fazer companhia em ótimos shows e filmes chatos, mesmo que seja dormindo (pq filme de guerra ngm merece...)

Me comprometo a continuar escolhendo você. A continuar construindo, com vc, uma linda história.

Tá preparado, cara pálida?! Tá preparado pra ser imensamente feliz? Haha então casa comigo então hahaha te amo!

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Bora casar?

Às vezes ele fica monossilábico. Fica quieto e fuma meia dúzia de cigarros em meia hora. De vez em quando, ele esquece de carregar o celular e esquece o carregador. Mesmo prestando muita atenção no que falo, as vezes ele pergunta o que eu já tinha dito. De vez em quando, teima. Faz birra. Por um tempo deu de trocar o dia pela noite e, sem querer, atrapalhar meu sono e meu humor.

No tempo em que eu crio uma odisseia mental, ele sequer pensou no assunto. E vê tv com a cara tão amarrada que acho que ele sequer está prestando atenção no filme e sim pensando em algo muito muito ruim.

De vez em quando eu falo algo e ele entra num filme mental e esquece de responder rs e aí me diz sorrindo 'eu já estava lá'.

Quando se emociona, ele deixa marejar aqueles olhos-de-mergulhar. E ele sorri e tosse ao mesmo tempo em que mareja os dele e os meus e enche nossa sala de amor. Ele me faz sentir segura, protegida, só de estar ali. Só de saber que estamos...

Ele me faz sonhar com voos e viagens e filhos e acampamentos e piqueniques e casas na árvore. Ele me liberta e é essa a corrente que me une a ele mais e mais. Ele olha pra mim e diz: "vai", porque ele sabe que eu volto.

Ele dança comigo e diz sim pra mim, todos os dias, das mais diferentes formas. E a gente ri até se curvar e nos escoramos um na risada do outro. A gente se olha e se beija e volta a rir até perder o fôlego.

A gente faz piada e faz careta e faz manha só pra fazer graça.

A gente faz o passado ser raiz e não fardo. Faz o presente ser leve e o futuro uma deliciosa sobremesa, que ansiamos por comer sem deixar de aproveitar da refeição principal.

Por essas e diversas outras que casar é a coisa mais natural a acontecer. Quem não quereria ser pra sempre, ao lado de um mar de diversão, empatia, respeito, amor, braços fortes e olhos azuis?

Então é isso. Bora, cara pálida? Bora dizer sim pra essa aventura que é dividir uma vida? Bora aumentar a casa, a convivência, a parceria, a família?

Bora casar?









segunda-feira, 15 de julho de 2019

Discurso do lançamento do livro Devaneios Atemporais

Para Fernando Pessoa, escrever é esquecer. "A literatura é uma das formas mais agradáveis de ignorar a vida", escreveu. Eu no entanto, sempre vi a escrita como uma forma de lembrar das coisas. E, ainda, de enxergar detalhes que não tinha visto quando comecei o texto. Não é à toa que meu blog, que me acompanha há mais de uma década, se chama Amnésia.

Quando fomos gravar esse documentário, me perguntaram como a escrita tinha entrado na minha vida. Acho que ela sempre esteve por lá, mas tenho memórias muito fortes de quando tinha 10 anos: eu queria entrar pra Academia de Letras e pro Jornal do colégio em que eu estudava, mas isso só era permitido aos estudantes com mais de 11 anos. Nesse meio tempo, eu e minha amiga Ana Luiza Savioli - que sempre foi uma escritora e que hoje tem dois livros publicados - escrevíamos nossas histórias em cadernos durante os recreios. Ana foi a minha primeira referencia de alguem talentosa, com foco no que queria fazer, e tão jovem quanto eu. Outra pessoa que não consigo não citar hoje é minha professora de Lingua Portuguesa, Lucimar de Matos, já falecida, que incentivava a escritade um jeito tão leve que nem parecia ser lição de casa. Lembro que foi numa aula dela, na sexta-série, que escrevi um poema tão ruim que, numa risada, decidi que só escreveria prosa.

Quando entrei pro jornal da escola, aos 11 anos, entendi na minha cabeça de criança que queria fazer Jornalismo. Escrever, contar histórias... Seis anos depois, lá estava eu no curso de Jornalismo, cercada das pessoas mais diferentes possíveis, de todas as tribos: galera de cinema, fotografia, publicidade, design...

Mas não estou aqui pra falar de mim. Como diz meu colega André, o artista não deve aparecer mais que a própria obra. Quis contar essa parte da história por um motivo. Porque, de alguma maneira, sempre duvidei que o que escrevia poderia compor um livro. Afinal, como é que sabemos que nosso texto deixou de ser apenas um texto e virou arte?

Fui me descobrir artista há pouquíssimo tempo e graças não à escrita, mas à dança. Foi preciso muita terapia pra me referir a mim com esse título. A gente sempre pensa em arte como aquelas coisas que estão nas paredes e corredores dos museus e em artistas como aquelas grandes personalidades. É difícil enxergar arte na nossa mãe com seu caderno de desenhos. Na criança que aprende um instrumento e ainda é meio desafinada. Na pessoa que quer aprender a dançar depois de adulta. No senhor que transforma montes de plantas em belos jardins.

E eu tinha essa mesma dificuldade. Volto a pergunta: quando um texto deixa de ser apenas um apanhado de caracteres e vira arte? Quando uma dança deixa de ser apenas uma sequencia de movimentos e passa a ser arte? Pra mim, bons textos são os que fazem pensar e boas danças as que fazem sentir. Não importa muito o gostar ou não gostar. A mim, importa que ao final da dança ou do livro você esteja um pouquinho diferente de como começou. Que algo te faça sorrir ou franzir as  sobrancelhas.

No mais, fica aqui meu agradecimento a cada artista que contribuiu para que esse livro saísse. Ontem, as cinco e  meia da tarde, quando recebi as caixas, achei que ia finalmente ter certeza de que tudo daria certo. Mas só me dei conta de que sempre tive essa certeza.

Sabe aquela frase clichê que diz que um sonho que se sonha junto é realidade? Pois então. Não é. Apenas os sonhos construídos juntos é que se tornam realidade. Podemos ficar aqui falando sobre mil formas mirabolantes da arte mudar o mundo, salvar o Brasil da Idade Média ou emancipar os nossos pensamentos e emoções. Mas apenas pondo a mão na massa e fazendo as pequenas ações, é que teremos contribuído com algo.

E se você está aí pensando "ok, mas eu não sou artista". A minha resposta é: talvez você, como eu um ano atrás, apenas não tenha se dado conta. Antes de uma criança escrever, ela desenha; antes dela andar, ela já dança; antes de falar, ela canta. A arte nasce com a gente. Cabe a nós dar a ela a chance de continuar respirando.

Obrigada.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

metade


porque metade de mim é o que penso

e a outra metade é um vulcão

(O. Montenegro)

Notem: metade desse triste ano (acabei de ler uma matéria de política, desculpem...) passou. Sobrevivemos ao primeiro semestre do governo Bolsonaro (sim, sim, à duras penas, mas sobrevivemos) e hoje o dia começou inspirado pelo mais belo sotaque do mundo: o português. 

Ao som de Tiago Nacaratto, Ana Bacalhau, Antonio Azambujo e outros portugueses, cáixtôu refletindo sobre esse primeiro semestre. Longe de querer fazer um texto com tom natalino, penso, penso e não escrevo. Mas quem disse que só em dezembro é que podemos fazer análises e retrospectivas?! Enfim, ainda assim, não é o que quero.

Só queria registrar - aqui, pra mim: dois mil e dezenove está sendo, como previsto e desejado em janeiro, um ano de colheitas! Plantei tanto e muito e agora fico cada dia feliz por uma colheita nova, uma nova flor ou mesmo os pequenos brotinhos que vão surgindo - figuradamente e também os literais da bela samambaia que agora adorna o meu banheiro. 

Eu tenho vivido momentos de imensa gratidão e felicidade. Olho pro Guilherme penteando o cabelo de manhã para ir trabalhar e sinto felicidade. Penso: "que sorte a minha! Como eu te amo! Olha que lindo, aff Maria!" . Olho pra minha samambaia toda prosa, com as folhinhas felizes pra cima  e sinto felicidade. Penso: "ai que linda, toda verdinha, toda feliz, toma uma aguinha fresquinha pra você, que lindeza!". Vou pra sala, sento no sofá azul e sou grata pelo conforto. Olho pro lado e penso "ai como eu amo essa parede cinza!". Olho pro outro: "vou amar quando essa for azul...!". As vezes, mesmo meio mal humorada, lavando a louça n'água gelada, penso "eu amo essa panela". Olho o gato que acabou de mijar no tapete e pra outra que comeu a ração golfada e penso "eu amo esses pestinhas". 

Amor. Volto a citar Osho:"Tudo o que lhe der paz, tudo o que o deixar em estado de graça, tudo o que lhe der serenidade, tudo o que o aproximar da existência e de sua imensa harmonia, é amor e será bom."

Eu batalhei muito pra ter o meu apartamento. Minha casa. Meu lar. E mais ainda: batalhei pra ter essa paz no coração. Pra me sentir confortável. Essa serenidade de saber que pode vir o B.O. que for que eu dou um jeito, nem que o jeito seja fingir demência pra não gastar o réu primário. Batalhei pra ouvir uma mentira sobre mim e, minutos depois, conseguir dizer "ok, se é o que você acha, paciência!", tranquila por não ocupar um lugar que não é meu.

Claro que eu ainda não virei orquídea, existindo em perfeita harmonia. Eu também tenho dor nas costas, garganta inflamada, medo. Mas olhando com honestidade, eu vejo que tenho muito mais força e potência do que fraquezas. Muito mais jogo de cintura que rigidez. Muito mais borogodó que medo de ser feliz. 

Esse semestre foi uma loucura de lindo. Esse trimestre então, nem se fale! O combo casa-marido-gatos é muito melhor do que eu pensava! Só consigo sentir gratidão, mesmo quando ela está toda bagunçada e faltam móveis rss









quarta-feira, 12 de junho de 2019

mais um ou menos um

Premissas primeiras: namore alguém que te faça esquecer do mundo lá fora não por te dar problemas demais pra se preocupar, mas sim por criar toda uma atmosfera de felicidade e paz; namore alguém que afague sua dor e que te faça rir generosamente; namore alguém tenha paixão e brilho nos olhos; e se esse alguém tiver dotes culinários, conhecimentos básicos de hidráulica, elétrica, marcenaria e veterinária, braços fortes, mãos firmes e olhar bondoso, case.




Não é o amor que sustenta o relacionamento, mas sim a forma de se relacionar que sustenta o amor, né cara pálida? Não basta o amor. É preciso cuidado. Carinho. Gentileza. Empatia. Pois nem a luz dos olhos mais azuis consegue atravessar um ambiente de treta e disputa. Nosso amor é grande, mas o que me orgulha é a qualidade do nosso convívio, a qualidade do nosso relacionamento, que é todo baseado em honestidade, respeito e partilha. Eu recolho as xícaras que você deixa pela casa e você recolhe meus sapatos. Sem gritos, sem cutucões. Adoro que a gente só grita de tanto rir, espalhafatosos, recebendo cócegas. Adoro que nossos combinados são todos respeitados. Adoro que temos a mesma vontade louca de viver e sermos felizes juntos. Adoro que nossos planos se encontrem. Você me respeita e respeita quem eu sou. E eu retribuo. Você se empolga com as minhas propostas doidas e eu derreto. Eu me permito conhecer seu mundo e me descubro toda nova.

Eu bem disse, ano passado, que aquele seria nosso último dia dos namorados como namorados. Algo dentro de mim sempre soube, desde que pôs os olhos em você, que seríamos mais. E hoje, independentemente das burocracias e assinaturas, somos casados. E isso enche meu coração de alegria e paz. Os olhos transbordam o orgulho da escolha. Amo morar com você. Amo dividir a bagunça, a louça, as crises e os gatos. Amo poder ter orgulho do nosso canto. Amo poder olhar as nossas conquistas e celebrar cada uma delas com você. Você me faz sentir potente, forte, especial. O tempo todo me fita com seu par de olhos de bola de gude e me lembra que você está ali. Que ama. Que é feliz. Você me olha com amor e gratidão e paz.

Obrigada por me deixar ser uma idiota. Por dançar comigo na sala. Por todas as caretas e piadas internas. Por toda a risada. Obrigada por não julgar minhas perguntas, por me ensinar com paciência coisas que eu ainda não sei. Obrigada por ser tão digno. Meu namorido! kkkkkkk

NEOQUEAV, cara pálida!

E parabéns pra mim, que escolhi certinho! hahahahahaha
#tantantantan #sóvem #docenovembro

terça-feira, 11 de junho de 2019

mesmo quando a boca cala o corpo quer falar

Ela é carne, sangue, suor e ossos.
Ossos que sentam, carne que dobra, sangue que pulsa, suor que escorre. 
Dela e por ela, escorrem lágrimas e chuva. 
Chove a mente, derrete o corpo, impulsa o voo, amacia o pouso.

Ela é feita de gritos, de frases, de pausas. 
Ela é silêncio. É respiro. 
É a força que a empurra de fora pra dentro...
E é a maciez que a leva de dentro pra fora.
É rio que flui com cada nota e é a folha que se deixa levar sobre as águas da melodia.
É peso. É fluxo. É caminhada. 
Loucura e tesão, frescor de alecrim.

Ela é amor e ódio, mas nunca indiferença.
Se não se faz boa literatura com bons sentimentos
Boa dança não se faz sem nenhum: bom ou ruim.
Dança é comida que não cozinha insossa.
Precisa de tempero pra dar liga, sabor.

É preciso sentir o cheiro,
arder os olhos ao cortar as camadas,
vazar o peito. Deixar ir e deixar vir.
Como o mar.
Com amar.

É preciso dançar com dedos e nervos e nariz.
Dançar com a esperança de que no fim da música o mundo não será mais o mesmo.
Dançar como se fosse só disso que o mundo precisa...

Porque, às vezes...

É.


“We dance for laughter, we dance for tears, we dance for madness, we dance for fears, we dance for hopes, we dance for screams, we are the dancers, we create the dreams.”


― Albert Einstein

terça-feira, 21 de maio de 2019

Encantamento

“a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros... a importância de uma coisa há de ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós... um osso é mais importante para um cachorro do que uma pedra de diamante...”
Manoel de Barros




Tem histórias que são tão nossas que não fazem sentido contar pros outros, mesmo querendo contar para todo o mundo. Tem histórias que são tão nossas, tão profundas e verdadeiras, que poderiam ser contadas em uma frase, sem vírgula e nem respiro. 

Escrevo pois acho que tenho memória ruim e tem momentos que não admito esquecer. 

Como quando você estava na varanda, encostado na porta de vidro: pijama e cigarro na mão. Eu largada no sofá, segurando o celular. Perguntei se queria ouvir minha música, a que escolhi pra minha entrada no grande dia. Você disse que sim e eu liguei o som.

Seus olhos fitavam o ar, mostrando os ouvidos atentos. Fixei meu olhar ali, ora nos seus olhos azuis, ora na sua boca. E fui vendo pouco a pouco sua expressão mudar. Quando a música deu aquela virada, seu corpo engasgou com o compasso do seu coração e você me olhou arregalado. Sorriu e vi o brilho azul marejar conforme o sorriso abria. Você levou a mão no coração e deu uma tossida tudo ao mesmo tempo, sem deixar de sorrir. Sem que seus olhos perdessem aquela magia...

Você disse "ai, quase chorei, aff maria"... 

E eu ri. Ri de alegria transbordando e disse: "pode chorar!"







Encantamento. Nunca vou esquecer dessa noite.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

ingrato gato

Hoje o gato fugiu. Viu a porta aberta e correu rumo à liberdade, que não encontrou pois a porta do hall estava fechada. Tentei pegá-lo e ele continuou correndo. Mirou a janela, mas caiu e consegui pegá-lo pela pela pança.

Me senti como meu pai deve ter se sentido quando, ainda criança, falei que não via a hora de sair de casa. Tentei bater-lhe na bunda, mas o zé ruela correu pra debaixo da cama pra planejar a próxima tentativa. Isso porque eu lhe encho de comida de qualidade, sachês de carne de cordeiro, água filtrada e bolinhas de papel.

Ingrato.


terça-feira, 9 de abril de 2019

Jorge, Julieta e Frajola

Era uma vez uma gata anã. Ela não era anã, exatamente, mas sua magrelice e pequenez me faziam chamá-la assim. Quando ela começou a parir filhotes, passei a querer um de seus bebês, que certamente também seriam anões como ela. Ora, um apartamento anão só poderia abrigar um gato igualmente anão. Claro que a querer um gatinho somava-se uma súbita vontade de estar perto do dono da gata anã. Mas isso não vem ao caso.

No dia 2 de outubro de 2018, a gata anã, preta e branca, paria em silêncio em uma caixa gatinhos minúsculos. Sempre me disseram que as gatas davam cria no telhado, longe da intromissão dos humanos. Buscamos deixa-la em paz. Vínhamos olhar de vez em quando se de seus gemidinhos baixos havia saído outro gatinho.

Saíram três no total. Um deles, preto e branco; um completamente preto e um que, lambida a meleca que o envolvia, revelou-se literalmente meio preto e meio cinza. Havia um risco que parecia feito à régua no meio de sua cintura que dividia os dois tons. E eu, que sempre quis um gato cinza, adorei a ideia de ter um meio cinza... afinal... as coisas não podem ser apenas preto e branco, já dizia meu terapeuta.

Então pronto. Tinha um gato, macho, anão e meio cinza. Jorge, batizei-o. E era Jorge pra cá, Jorge pra lá. Jorge, o gato anão meio cinza, não gostava muito de colo e miava desesperadamente ao sair do chão. Medroso, se escondia nas tetas da mãe e, as vezes, embaixo dos irmãos.

Passado uns dias, esticaram as pernas, começaram a desbravar o quintal. Logo, roubavam ração da cachorra. Foi aí que o gato preto e branco revelou ter bolas que aos outros dois faltavam. Jorge era fêmea.

Chamei-a Julieta.

Julieta estava prestes a se tornar a única gata do apartamento quando surgiu uma ninhada resgatada em São Paulo onde havia alguns exemplares brancos acinzentados. Um deles, macho. Eis: tinha achado meu Jorge. Sua salva-vidas concordou em lhe dar lar temporário até que o apartamento fosse entregue. Sosseguei. Teria dois nenéns pra mimar.

Eis que a gatinha preta irmã de Julieta fora adotada e seu irmão, o gato preto e branco, fora prometido a uma família. Chamamos ele de Frajola, por pura falta de criatividade e a família que o queria nunca apareceu para buscá-lo. Nesse meio tempo, Frajola começou a se mostrar um gato sem igual. Carinhoso, curioso, extremamente inteligente. 

Julieta, no entanto, continuava fugindo ao me ver. Gata ingrata. Eu é que te adotei! Vou te levar pra casa, te dar cama, comida e carinho...! Eu resmungava e Julieta fugia ainda mais. Frajola, no entanto, deitava no colchão comigo nas noites solitárias e brincava com as bolinhas de papel que eu amassava e jogava pra ele no chão. 

Decretou-se: Frajola estava fora da lista de adoção!

Jesus Cristo, três gatos em um apartamento. Meu cérebro tentava calcular quantos eram os quilos de ração que iriam me levar à falência. Logo eu, mãe de trigêmeos! Foi quando contatei a salva-vidas do Jorge, que me relatou constrangida que imaginou, pela demora, que eu havia desistido de adotar o gato, a quem seu marido estava extremamente apegado. Dei-lhe a guarda do gato e disse que poderia ser como sua madrinha, já que o havia batizado. Era justo. Ela havia cuidado dele desde o resgate, dando amor, carinho, comida, vacinas e tudo o mais. 

A moça ficou feliz da vida e eu, felizmente, com apenas dois gatos. Frajola: o gato que conquistou seu espaço no meu coração e Julieta, que era Jorge e que era meio cinza (pois a gata-ingrata ficou totalmente preta umas semanas depois de nascer, sendo diferenciada da irmã apenas pelo escândalo ao ser tirada do chão). 

Uns meses e duas castrações depois, ambos foram recebidos no novo lar, onde encontraram mais caixas de papelão do que tinham visto em sua vida toda. 

Tudo isso pra dizer que, às vezes fazemos planos e - na grande maioria - os planos é que nos fazem. Planejei um gato-macho-cinza-Jorge e acabei com um casal de irmãos que me acordam antes do despertador. 

Hoje, Julieta não tem mais tanto medo de colo: ao contrário, ronrona feito um trator. Frajola tem o dobro do tamanho, apesar da mesma idade. Os dois esnobaram a cama que comprei e gostam das caixas, como prometem os memes. Ele brinca com a bolinha de papel e Julieta observa. Estrearam a caixinha de areia do apartamento com um xixi coletivo e no dia que a casa alagou porque deixei a janela aberta, ficaram escondidos juntos embaixo da cama, no meio do alagamento. Frajola já fez xixi na parede uma vez. Surtei. Depois pedi desculpas pela bronca e expliquei que não pode, porque dona de gato quando vê já tá falando com eles, como se fossem gente. Eles se escondem quando varro a casa e arregalam os olhos quando ligo o secador de cabelos. Outro dia, nos desesperamos com a fuga da Julieta e, quando vimos, estava embaixo do sofá. Todo dia, pelo menos uma vez, acho que a gata sumiu mas ela está só camuflada no tapete preto. Eles veneram a caixa onde escondi a ração. Eles têm apelidos. Jólis e Jubs. Ou Jubilubs. Ou Ju. Mas minha mãe não aprova esse último, em defesa da minha amiga Juliana. 








Lambeijos! 

terça-feira, 2 de abril de 2019

#o13dobloco5

Não, não da pra chamar de solidão. Ao contrário: sobram mãos dispostas a ajudar e agora nem tem mais um lado vazio no sofá.

Não dá pra chamar de aperto. Ao contrário: os 55m² são bem maiores que o quarto dividido, com guarda roupa, cama e barulho alheio.

Não dá pra chamar de improviso. Ao contrário: já tem chuveiro, box, cama boa, fogão, armários, mesa, sofá e até tapete. E apesar de ainda não ter pratos ou geladeira, o que não falta é jeito pra dar. 

Não dá pra chamar de bagunça. Embora seja também. 

Não dá pra chamar de silêncio. Há gatos que arranham caixas de papelão, derrubam o pote de água e perseguem um ao outro durante a madrugada. 

Mas existe sim: um silêncio que mora no meio da bagunça e uma ordem improvisada (e aperto todo dia cada um dos gatos)...

E logo eu que sempre desejei tudo pronto, me pego apreciando cada passo. Cada detalhe. Cada novidade. Cada conquista.






terça-feira, 12 de março de 2019

que horas são?

Houve o tempo de me preocupar com números. O salário baixo, o empréstimo debitando na conta, o aperto, a impossibilidade de pagar 50 mil de entrada. Tempo de esperar, acalmar, procurar outras possibilidades. Tempo de dar tudo errado pra poder dar certo. E então veio o momento de círculos perfeitos: a entrada pequena, o subsídio generoso, o FGTS necessário, um bom chá pra curar aquela azia... 

Houve tempo de me preocupar com papéis. Eram xerox e documentos e cláusulas e rubricas. Milhares delas. Fila, paciência. Não pode mexer no celular dentro do banco, senhora. Assina com a construtora. Assina com a imobiliária. Assina com a Caixa. Uma assinatura atrelada a outra. Se um não autoriza o outro não vende e ponto final. Paga taxa, paga corretagem, para sinal, paga seguro. Questiona venda casada. Liga mil vezes e não é atendida. Espera na fila. Perde tempo, perde dia de serviço pra conseguir um ressarcimento proporcional. Dinheiro que você nem tinha mas deu um jeito de pagar. 

Houve tempo de me preocupar com pisos e móveis e cores e estampas. Não era hora, mas eu precisava preencher meu cérebro com algo melhor que "esperar". Foi tempo de pesquisa, fita métrica e pantone. E dinheiro muito bem gasto. Eram tecidos e cerâmicas e tapetes felpudos.

Houve tempo de pensar em solidão, gatos e vinhos.

Houve tempo de comprar panelas. Acompanhar a flutuação do preço dos fogões de embutir. E adquirir facas e tábuas e copos e taças e potes de plástico e liquidificadores e aspiradores de pó e tal. Sendo as aquisições mais importantes o saca-rolhas de dez reais e a cama box queen size maravilhosa na promoção.

Houve tempo de querer pias e bancadas e chuveiros... e meus mil armários milimetricamente planejados. Tempo de me irritar com medidas e impossibilidades. Tempo me preocupar com futuros distantes e na reforma do quarto depois dos filhos e no apartamento pequeno demais pra família em crescimento. Tempo de virar a noite rabiscando móveis e paredes. Tempo de trena, lápis e caderno de desenho. Teve tempo de ir em loja e comprar madeira e metal. Tempo de ver a primeira delas ser cortada sob medida.

Houve um tempo de promessas. De datas, prazos e empolgação seguida de frustração. Setembro, novembro, dezembro, janeiro... A energia da empolgação foi acabando. Mas com diz a música "tristeza não tem fim" e a frustração só aumentando.

Março chegou e com ele vieram as chaves. Um monte delas. Barulhentas, umas contra as outras, em um chaveiro porcaria. Reais. Palpáveis. Olho pra elas e nada acontece além da boca se contorcer numa careta desdenhosa. Lembro de Clarice Falcão cantando "um relógio parado não existe, todo telefone quer tocar" e penso pra que raios servem chaves sem as portas que elas devem abrir.

Coloquei o vinho da comemoração na geladeira. vou esticar o tapete no chão e beber o vinho português na minha taça nova, ouvindo fado e me lamentando da demora, até sentir vontade de comemorar.

E foda-se. Cansei.



quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

longanimidade

substantivo feminino
  1. 1.
    virtude de se suportar com firmeza contrariedades em benefício de outrem; magnanimidade, generosidade.
  2. 2.
    POR EXTENSÃO
    paciência, resignação com que se suportam contrariedades, malogros, dificuldades etc.



Não sei se são os hormônios ou se é só decorrência da espera.
A cada minuto, mais se esgota a minha boa vontade.
Não tenho mais paciência nem quero ter.
Entrei na fase de ouvir Leoni, tamanha desilusão.

Coincidentemente, dei de cara com essa palavra esquisita cujo significado desconhecia: longanimidade, que parece ter a ver com a capacidade de aguentar firme. Ontem foi mais um dia assim. Com a cabeça pesada, o coração aflito, os pulmões espremidos numa caixa torácica muito apertada, sem conseguir o ar necessário pras células todas.

Platão deve estar rindo da minha cara agora mesmo. Balançando a cabeça pra cá e pra lá com um sorriso de pena, ciente de que esse meu sofrimento todo não resolve nada e nem acelera os processos. 

Certo também de que, quando em posse das chaves, elas não parecerão mais tão urgentes assim.