segunda-feira, 22 de junho de 2020

É tri!

Sobrevivemos ao primeiro trimestre.
Doze longas semanas (oito, se contar a partir da descoberta!).

Longas porque o medo de não chegar na décima terceira é sempre um fantasma, pra todas as mulheres. O primeiro trimestre é o que tem a maior chance de abortos espontâneos, é nele que o projeto de bebê é formado em sua base, é nele que descobre-se as chances de anomalias e síndromes. é muito medo.

Segui uma estratégia simples: não me misturar com essa gentalha. Explico: é um tal de grupo, página, insta e tudo o mais que se possa imaginar reunindo grávidas mil do país e mundo. Amém, coisa linda. E aí cinco minutos depois comecei a notar os pensamentos negativos, as reclamações, as especulações sobre dores e medos e sangramentos. E aquilo me assustou. Decidi não cair nessa e dei dois passos largos pra trás. Eu hein.

Lembrei de quando tomei Roacutan - o mais forte remédio para espinhas, tão forte que precisava assinar várias guias de conhecimento sobre os efeitos colaterais para retirar o remédio da farmácia (coisa que nunca vi acontecer nem pros tarjas pretas - para o que, pelo que sei, bastam as receitas em dia). Eu li a bula na íntegra, antes de tomar o primeiro comprimido. Já sabia dos terrores que poderiam vir. Mas li inteira, cada linha miúda. E decidi ao final que não teria nenhum dos sintomas graves. Passei por quase um ano de tratamento com muita sede, cabelos maravilhosos e muito hidratante nos lábios. E só. Dos males o menor.

Quando descobri a gravidez, o primeiro medo foi do enjoo. Passei anos da minha vida vomitando todos os dias. Passava mal a toa, qualquer coisa tirava meu estômago dos eixos. E respirei fundo e disse: vou ter é nada.

Não sei se as palavras tem poder, se a lei da atração existe ou se Deus achou que minha cota de vômitos estava batida, mas sobrevivi ao primeiro trimestre totalmente incólume aos enjoos.

Tive sim muita fome, muito sono e alguns episódios de dores intensas de cabeça. Diminuí a cafeína, voltei ao chá de camomila. Aumentei um pouco o consumo de "comidas da minha mãe": frutas, verduras e legumes.

Tava tudo lindo, tudo certo.

Numa quinta-feira, quando completei 12 semanas, levei um tombo. Caí de cara, mão e joelho no chão. Me ralei, fiquei com dor no pulso, mas me levantei tranquila - não senti a barriga contra o chão, "acho que nem encostou." Quatro dias depois um sangramento mínimo (eu juro que era mínimo, quase que imperceptível), me assombrou. Será que bati a barriga quando caí? Será que tem algo acontecendo? Algo está errado? E então eu rezei. Eu rezei com a mão na barriga e mentalizei um mantra: "meu bebê é saudável, meu bebê é perfeito, meu bebê é feliz". Repeti inúmeras vezes. Há tempos eu não sentia um medo tão colossal. Tão avassalador. Nesse dia, chorei. Chorei quando achava que estava sangrando, chorei quando me dei conta que não estava. Então maternidade é assim? Até quando está tudo bem a gente tem medo de que isso mude nos próximos minutos? Deus me ajude hahaha

Na quarta-feira seguinte, fui fazer o tal do ultrassom morfológico do primeiro trimestre. Comi um chocolatinho na vã esperança do Bolotinha virar e deixar ver se é Helena ou se é Davi - apesar de estar cedo ainda... E foi sensacional ver o bichinho se revirando todo... Dobrava e esticava as perninhas, com aqueles pezinhos cheios de dedinhos. E mexia os bracinhos e dava cambalhotas, até que sossegou e parou de costas (o que, honestamente, eu amei! ver aquele pontilhado perfeito da coluna vertebral e minúsculos risquinhos, que na verdade eram costelinhas, quase me matou de tanto amor!). Teve também um coraçãozinho barulhento, que ouvimos por mais tempo que da outra vez e a boa notícia de que as medidas da translucência nucal estavam perfeitas - o que descarta síndromes e anomalias.

Então foi só alegria.

E agora, sobrevivemos ao primeiro trimestre.

A barriga começa a arredondar, começa a piorar o ódio às calças. Os vestidos e pijamas (agora tamanho G) viraram novos amigos. E eu to aqui só na ansiedade pra barriga ficar maior que os peitos e parecer mais do que uma pancinha de 90 dias sem atividade física só comendo de quarentena rsrs

Agora a brincadeira vai pra fase 2, fase de comprar coisinhas, preparar o quarto, crescer e crescer. Bora! Não vejo a hora!

domingo, 14 de junho de 2020

graças a deus a adolescência demora

Ontem me peguei com medo de ser mãe de um(a) adolescente.

Sim, pois é. Pulei a gestação, o parto, as fraldas, as noites sem dormir, o cocô até as orelhas, a socialização com os gatos, a introdução alimentar, o primeiro dia na escola, as crises, as doenças, as  birras, os tombos, os medos e pesadelos. Pulei os terríveis dois, três, cinco e quantos mais puderam inventar e me peguei com medo de ser mãe de adolescente.

Logo eu, que fui uma adolescente comportada, com notas boas, muitos livros, que passei a pré adolescência lendo a Bíblia para crianças menores e a adolescência em si em grêmios e voluntariado, entre aulas de dança e a associação do bairro, seguida de uma precoce candidatura a vereança... Logo eu que dei o primeiro beijo depois de velha e arrumei o primeiro namorado no colegial (lembro até hoje do meu choque ao saber que uma amiga já transava...). Logo eu que vi um cigarro de maconha pela primeira vez depois dos vinte (poderia ter aceitado, mas não tinha nem curiosidade nem estômago). Logo eu que nunca fugi de casa, nunca saí escondida, nunca menti sobre meu paradeiro até ser bem adulta pra isso. Logo eu, que não dei nenhum vexame no carnaval - não até comprar meu primeiro apartamento.

Logo eu. Me peguei com medo de ser mãe de adolescente. Medo dele encontrar com o mundo cedo demais e eu não saber o que fazer. Porque eu sei lidar com livros de poesia hipocondríaca e amores platônicos. Mas não sei se saberei lidar com a bebida e as drogas e as mentiras e as fugas e o celular desligado. Eu nunca deixei de atender a uma ligação dos meus pais. Mas já fui acordada inúmeras vezes por eles, na vã esperança de eu saber do paradeiro do meu irmão. Ontem me peguei com medo dessa agonia - e de outras piores.

Eu vivo dizendo que tem vários motivos pra um bebê demorar cerca de 40 semanas pra ficar pronto pra nascer. Um deles é pra dar tempo da gente se preparar pra chegada daquele serzinho tão dependente de nós. Começo a pensar que é exatamente por isso que a adolescência demora uma década e meia. Porque é uma preparação que demora. E as coisas vão ficando mais difíceis aos poucos, pra gente ir lidando com coisas cada vez mais complexas, até chegarmos na grandona. No chefão. Na coisa que tira o sono de pais pelo mundo inteiro - imagino eu.

Mas depois que lembrei de dá tempo de se preparar pra isso - e pensei que todo o processo ajuda a esse monstro não ser assim tão invencível - me acalmei e voltei a pensar em fraldas e no tal do pescocô.

Baby steps, né?