quinta-feira, 20 de agosto de 2015

flores de coragem


"O mais importante para um escritor é publicar? Não. É escrever"

(Cora Coralina)


Quando o cursor pisca numa página em branco, eu sempre penso: 'não tenho o que escrever, vou embora'. E muitas vezes eu vou mesmo. Acontece que o mais difícil nessa vida é começar. Um texto, uma dança, uma história, uma conversa, um relacionamento, uma amizade, uma poesia, um hábito, um jantar. 

Antes de começar, a coisa tem um quê de impossível que nos faz titubear. Prevemos erros, imaginamos diálogos, achamos que vai chover, que não daremos conta, que nem será tão bom assim. E nos convencemos de que aquilo não era importante, não era uma boa ideia, não era pra ser, 'nem queria mesmo' e tal.

Tudo nessa vida, ao meu ver, depende de coisas como a coragem de tentar e a prática. Ou seja. Tem que começar para, depois, treinar muito e ficar bom naquilo. Seja falar e público, fazer maquiagem pra carnaval, dançar taksin de violino, tocar guitarra, aprender bolero, decorar uma canção, aprender uma língua, fazer macarons, pedir desculpas, falar com estranhos, pintar as unhas, programar uma máquina, pilotar um avião.

Se você nunca se propor a fazer algo, você nunca vai fazer. 

Simples assim. Claro que você vai errar. Claro que talvez a primeira vez seja uma droga e você até desanime um pouco. Talvez no fim da receita você descubra que precisava de forminhas porque a massa é mole e tenha que improvisar. E talvez você se surpreenda. Com seu potencial, seu jogo de cintura, seu talento, sua dedicação, com o sabor, com a música, com aquele passo que você nem sabe como inventou e que deu um charme a sua dança. Talvez você se divirta tanto que nem ligue se a performance está boa. Talvez você aprenda coisas que nunca imaginou. Talvez...

Na dúvida, que tal deixar florescer a tentativa. 

Se o erro brotar, a gente poda, aduba, rega e espera a próxima primavera pra ser flor de novo.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Encare

Nem tudo é como você quer
Nem tudo pode ser perfeito

De fato. E a vida é assim. A gente faz planos, pensa, quer, deseja, às vezes até começa a por em prática e, de repente, tudo dá errado. Foi assim quando sonhei ser bailarina - e meu pai não quis pagar minhas aulas. Foi assim quando quis fazer faculdade pública - mas nem vestibular prestei. Foi assim quando escolhi uma faculdade - e ela fechou o curso de Jornalismo. Foi assim quando consegui me inscrever no ballet - e tive que parar por causa da faculdade. Foi assim quando me dediquei à uma associação - e não consegui alcançar as metas propostas. Foi assim quando me candidatei - e o coeficiente não deu. Foi assim quando quis ser jornalista - e fui ser inspetora de alunos. 

Pode ser fácil se você
Ver o mundo de outro jeito

Dizem os otimistas (malditos otimistas! rs) que se não deu certo é porque não chegou ao final. Também dizem que Deus escreve certo por linhas tortas (o que talvez queira dizer que mesmo quando parece que tá dando tudo errado, na verdade tá dando certo e a gente é que não sabe porque não tem todas as informações que Deus tem).

O que acontece é que, anos depois, eu consigo ver que essas linhas tortas que me fizeram me afastar dos meus planos e ir dançando conforme a música, na verdade, me colocaram no lugar certo e na hora certa.

Se o que é errado ficou certo
As coisas são como elas são

A faculdade em que me formei, meu primeiro emprego, meu pouco dinheiro (ganhava menos de seissentos reais), a falta de tempo, ter perdido todas as festas de aniversário das minhas amigas de Itu durante sete anos em que estudei lá, nunca ter feito ballet quando pequena: cada uma dessas coisas "erradas" na verdade foram as certas. 

Na minha faculdade conheci pessoas e coisas incríveis. Professores, colegas, trabalhos - que me ensinaram e inspiraram. Desde pequena aprendi que dinheiro não é nada mais nada menos do que recompensa. Ele não cai do céu. É preciso trabalho e dedicação. E aprendi isso e muito mais com meu primeiro emprego. 

Um emprego que eu amei e odiei a cada dia. Onde fui querida e odiada. De onde saí com um sorriso que engolia as orelhas e pra onde eu não quero nunca mais voltar. Mas sei admitir: onde aprendi muitas coisas sobre pessoas, empregos, chefes, líderes, trabalho em equipe, maturidade, responsabilidade, dedicação, carinho, entrega, aprendi sobre honestidade. Onde sofri bullying, preconceito, onde fui humilhada, fui ofendida, onde fiz trabalhos que não eram meus, simplesmente porque ninguém fazia. Onde degustei o veneno dos fofoqueiros e a maldade dos desocupados. Sim. Tudo isso. Mas hoje, se estou num emprego que eu adoro, que me ensina diversas outras coisas, é porque estive lá primeiro. Comer a cebola pra poder sentir o sabor do mel. Ou algo assim.

Se a inteligência ficou cega
De tanta informação

Penso que somos tão forçados ao sucesso, tão cobrados da fama, da riqueza, da perfeição, que não nos deixam mais entender que é no erro (no ruim, na pobreza, na dureza, na dificuldade, no azedume, no ônibus cinco horas da manhã) que se aprende. E as vezes, cheios de medo de errar, não fazemos. Eu quase recusei o primeiro trabalho fotográfico que hoje, me rende vários freelas e vários ricos dinheirinhos. Quase. E se eu tivesse recusado? Hoje estaria menos feliz e realizada. Talvez nem tivesse uma câmera. Não tivesse visto do que eu sou capaz. Não tivesse aprendido a me virar. A fazer. A produzir. E não teria o reconhecimento, um cartão fofo, clientes felizes me dizendo que amaram meu trabalho.

Se não faz sentido
Discorde comigo
Não é nada demais

Claro que essa sou eu e essa é a minha história. Eu sou sim uma otimista irremediável. Sou dessas insuportáveis que acreditam, embora tenha passado alguns tempos desacreditando. E Ju Marconato, Flávia Vascon, Osho e companhia limitada me ensinam: seja grato. Gratidão move montanhas. Desobstrui caminhos. Acho que se não vemos o lado bom de alguma coisa, é porque não estamos olhando direito. Claro que não é fácil e claro que eu não sou a Madre Tereza de Calcutá. Eu mando a merda. Eu choro. Eu morro de desesperança as vezes. Mas quando a água bate na bunda, pode ter certeza: eu me ponho a nadar. Não importa se meu sonho é nadar crown. Na hora do vamos ver eu nado. Ponto. Não importa se não sei nadar. Se acho que não estou pronta. Se estou com medo. Depois chegando em casa eu choro. Mas eu nado. 

Insistir, se preocupar demais
Cada escolha é um dilema

Improviso na aula da Munira. Abrir uma empresa de fotografia. Dar entrada numa casa. Abrir uma poupança. Gastar fortunas em remédio. Emagrecer dez quilos. Começar uma aula completamente maluca. Entrevista de emprego. Primeiro encontro. Discussão de relacionamento. Apoiar a amiga. Viajar sozinha. Planejar. Falar em público. Criar uma marca. Tirar as próprias cutículas. Fazer a própria sobrancelha. Mudar de vida. Gerir crises alheias. Incentivar pessoas. Horta orgânica. Controlar o humor... 

Não to falando que é fácil. Mas o que a vida propor eu faço.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Com emoção ou sem emoção?

Ontem e hoje foram dias emocionantes. Mas não exatamente no meu sentido preferido da palavra. Sabe quando a pessoa espera você sentar no banco do passageiro pra perguntar "e aí, com emoção ou sem emoção?" e aí ela mesma responde engraçadinha "com emoção né", como se fosse garantia se um por do sol lindo na estrada ou uma música linda de doer na rádio.

Não. Ela quer dizer: quer calma ou sair daqui não querendo ter entrado?

E alguns dias são assim.

A gente entra no dia, põe o cinto, algumas vezes faz até o sinal da cruz e torce pra chegar no destino - o fim do dia - em segurança. E as vezes, você de fato chega ao fim do dia, mas pensando porquê você começou ele, pra início de conversa. 

Tem dias - a gente pensa - que era melhor nem ter saído da cama. Que era melhor ter ficado sem bateria. Sem gasolina. Sem despertador. Que era melhor perder o ônibus, pegar uma gripe. Era melhor ter acabado a energia. Que era melhor não tero dito nada, mesmo que na hora você tivesse pensado que queria muito dizer. Tem dias que é melhor não ver ninguém.

Tem dias que nem nós nos compreendemos e que ninguém mais o faz. Tem dias que só amanhã. 

Dias assim nos pedem o silêncio, querendo falar. A isenção, querendo opinar. A força, querendo chorar. A humildade, querendo provar suas teorias. A solidão, querendo abraçar. 

Dias assim, cheios da tal emoção, nos obrigam a ir contra a nossa própria vontade, que nem tempo e nem espaço conseguem efetivar no momento. São dias que interrompem nossa caminhada e nos fazem cambalear um instante. 

Onde estou?, nos perguntamos. Caraca, aconteceu alguma coisa aqui e eu não sei o que foi. Passou um furacão por aqui? Jesus, tá tudo bagunçado. 

É, está. 

Só que você nem sabe o que aconteceu. Você só queria falar, ser ouvido. Chorar e ser consolado. Abraçar e ser abraçado de volta. "E o que eu fiz de errado, afinal?"

Acontece que, tem dias, que não somos os únicos a ter emoções negativas. Não somos os únicos a não entender a bagunça,  a se sentir sozinho, perdido, desconfortável. Não. Tem dias que o outro - aquele de quem você queria atenção, compreensão, braços e ouvidos - está perdido em sua própria bagunça. Querendo, talvez, as mesmas coisas. Mas também sem saber propor. Sem saber pedir. 

E em dias assim, só resta esperar acabar. Esperar os astros mudarem de posição. O tumor cerebral desinchar. O tempo correr, a vida andar.

Resta dormir e aguardar. 

Não adianta pedir desculpas. Não adianta tentar prever. Não adianta nem mesmo escrever coisas que ninguém vai ler. 

Dias assim parecem não ter fim. 

Mas têm.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Me premia com seu retornar?


Vou compor agora
Minha alegria
A canção pro dia
Em que você voltar

Vou contar as horas
Tecer fantasias
Treinar cantorias
Vou me perfumar

E mandar embora
Tudo o que desvia
Sua travessia
Pra voltar pra cá

Vou cantar mais forte
Retocar a sorte
Botar o decote...

Pode se animar!

Não. Não vejo a hora. Aliás, eu vejo. A cada instante, fecho os olhos e imagino esse momento lindo, tão esperado. O momento de te reencontrar depois de longuíssimos noventa e três dias. E esse sentimento de espera, pela primeira vez não é uma agonia, mas uma felicidade. Como contar os dias pro Natal, quando se tem quatro anos e se acredita em Papai Noel. Finalmente, a ansiedade é uma coisa boa, que alimenta, que sustenta, que dá forças. A saudade, apesar de dolorida e apertada, mostra que existe uma coisa boa e forte e poderosa, que cresce a cada dia, dentro de mim. E de você também.

Vê se me alivia
Deixa de adiar
Deixa de demora
Esperar judia!
Vê se me elogia
Já vou me enfeitar

Vê se me incendeia
Vê se me irradia
Toma o meu conselho:
Vem, sem nem pensar

Não tem melhor hora
Nem tem melhor dia
Vem e me premia
Com seu retornar

Ô, pode se animar
Ô, vou te perfumar
Ô, vem sem nem pensar!

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Apagão de energia criativa

Não é fácil se manter produtivo o tempo todo. Também não é fácil correr atrás do prejuízo quando não fazemos o que tem que ser feito na hora que deve ser feito. Mas, as vezes, nosso cérebro simplesmente não faz o que mandamos. Simplesmente não foca no que é importante e nem entende que não é hora de pensar nisso ou naquilo outro. 

O nome disso (no meu caso), normalmente, é ansiedade.

Não sei se é. 

As vezes, temos que salvar o mundo (ou lidar com a burocracia do dia a dia e trabalhar, almoçar, pagar contas, programar coisas, mexer em planilhas, responder emails...) e tudo o que queremos de verdade é ouvir os bordões da Julia Petit (poix muito bein) ou descobrir um super tratamento de cabelo que você possa fazer em casa e salvar o seu mundo, que no momento tá ressecado, caindo e sem graça. Ou então, pular lá pra dezembro, onde eu imagino que eu não vou ter mais problemas com o espelho e, consequentemente, não vou estar com a cara ardendo ou sangrando ou coçando o tempo todo. 

São dias em que eu acho que minha unha do dedo médio é torta. Que penso que eu devia marcar pra fazer as sobrancelhas ou talvez trocar o shampoo. Dias em que eu tento me convencer de que eu me visto muito mal para trabalhar e que devia me cuidar mais e, pelo menos, parar de ter preguiça de buscar água. 

(incrível como nosso humor muda depois de um pão de queijo né?)

Mas voltando: não é fácil focar no necessário quando tem tanta coisa te atormentando. Faz três noites que eu durmo preocupada (ou não durmo) de medo do celular tocar com meu irmão ligando e eu não acordar pra atender. Há dois meses minha vida tem sido saudade e sabonete anti acne. E pomada de mais de sessenta reais. E bactérias boas. E ansiedade. E a busca pelo hidratante perfeito que hidrata mas não meleca que é oil free sem perder o efeito tão logo.

Parece futilidade.

Mas não é. 

A futilidade de pensamento (vamos chamar assim), acredito, é uma maneira do nosso cérebro escapar do que é urgente quando não queremos lidar com aquilo. Quando nossa energia criativa acaba, quando nosso fôlego com as burocracias da vida cessa, quando tudo é dor no abdome de respirar errado e cansaço, nosso cérebro tenta escapar. Tenta nos entreter com coisas diferentes, para que a gente recomponha as energias e restabeleça a rotina.

A boa notícia é que passa. Uma hora, tudo volta ao normal.

E passamos, até, a ver beleza nessa tal rotina maluca.