domingo, 26 de dezembro de 2010

Transtorno Obsessivo Compulsivo

“Às vezes acho que não sou o melhor pra você,
Mas às vezes acho que poderíamos ser
O melhor pra nós dois.”

*

Sempre sou prepotente quando piloto o fogão. Não quero nada menos do que um prato delicioso, pra não dizer perfeito. Quero elogios, flores, perfumes, delícias. Quero que todos vejam e sintam de longe o quão gostoso aquilo é.

*

Foi então que eu acordei hipocondríaca, preguiçosa. Tive sonhos sem sentido outra vez – um diferente dos que vem me ver diariamente. Não lembro mais o que sonhei, mas acordei de novo com dor no braço por ter dormido com ele embaixo do travesseiro – como sempre.

E lá estava eu no fim do dia, maquiada, com os olhos pintados de preto e as bochechas rosadas, sentada na varanda observando a chuva fininha cair, ouvindo músicas desconhecidas na rádio e pensando bobagens aleatórias. Estava impaciente e ao mesmo tempo muito quieta, como só consigo nos dias mais cinzas. Via ao longe as pessoas andando e os carros subindo ou descendo o morro - e atrás de tudo isso nuvens densas e esfumaçadas, que deixavam meu domingo um mar cinza silencioso.

Não era nada demais. Às vezes acordo descontente (e isso é tão natural quanto sentir sede, fome ou saudade). Às vezes acordo com preguiça até de abrir os olhos pra ver que horas são e nesses dias meu transtorno obsessivo compulsivo de organização, limpeza e catalogação ataca.

Hoje foi a vez dos livros, caixinhas e papeis. Esvaziei aquelas duas prateleiras e limpei, livrando-me de toda a poeira, pra depois voltar cada livro em fila indiana, com o título virado para frente, organizados do maior para o menor. Olhei antes dentro de cada um pra ver que segredos guardavam e encontrei marca-páginas que há muito havia perdido.

Não entendo porque isso acontece. Imagino que as tarefas distraiam minha cabeça das bobagens que insistem em aparecer. Acredito que sim. Se for isso, funciona. Ma sé natural, uma vontade que me dá sinceramente, nada de propósito.

Como isso acontece sempre, sei que o grau da minha insatisfação é proporcional ao grau da minha organização. Não gosto de ser superorganizada, pois sempre me vem à cabeça a ideia de ser infeliz, como nas novelas das nove em que a mãe recém-divorciada perde tempo alinhando quadros que já estão no lugar certo e mudando as flores de lugar, por não ter mais com quem estar ou o que fazer. Você não tem um namorado, por isso seu guarda-roupas é arrumado por cores, em degradê. Você não sai muito de casa, né? Por isso seus sapatos são tão limpos? Você não sofre, não chora e não ama, não vive, não corre e não transpira (e muito provavelmente não faz sexo), por isso perde minutos preciosos de sol lustrando as louças e encerando o chão.
Claro que não é assim, mas é essa a sensação. Parece que a vida está acontecendo lá fora e você está perdendo algo muito importante e divertido. Então, sei que estou realmente triste quando organizo tanto as coisas que chego na gaveta de pijamas. Ai sim, a situação é grave. Hoje, foram só os livros, caixinhas e papeis. Nada pelo que se preocupar. Duas prateleiras, somente. Depois disso, da limpeza, me senti melhor. É como se isso pusesse também em ordem minha cabeça e meu coração, ambos sempre tão inquietos quanto cavalos selvagens.

Ai, não gosto de escrever coisas assim. O blog é meu, o diário é meu. Mas quando sei que alguém vai ler, poxa, estremeço. Não estou em pré-depressão, caramba. São essas nuvens cinzas, entende. E aquele celular que não se mexe nem pra tirar a mãe da forca. Além disso, o Natal já passou e é época de se ficar introspectiva, de se pensar. Só prefiro fazer isso em dias de sol.

*

Agora, nesse segundo em que vos escrevo (21h28 do dia vinte e seis do décimo segundo mês do ano de dois mil e dez) estou feliz. Animada até. E com probleminha: estou com vontade de fazer esteira – sinal claro e indiscutível de que eu perdi mais um pino. Estou com carência de endorfina. Precisando mais que urgentemente obrigar meus poros a se abrirem com o suor, minha pele a se bronzear com o sol e meus cabelos voarem pra trás com o vento.

Quero janeiro.

*

Acho que estou precisando requentar a comida de ontem.

*

Quero um vestido branco lindo e sexy pra usar dia trinta e um. Vou pro inferno?

Beeijos, Jaqueline.

2 comentários:

Erick disse...

Vc disse que ninguem le e nem comenta entao eu vou comentar tudo aqui, porra! (diga se palavroes nao sao um recurso linguistico eloquente pra caralho?)

Mas só vou comentar depois de ler... e nao será tudo agora primeiro pq nesse exato momento preciso dormir, afinal estou ha mais de 24h acordado. Segundo pq ainda preciso me preparar pra segunda fase do vestibular...mas vou chegar la.. todos serão lidos e comentados, promessa de ano novo haha.

Ps: eu amo, amo de paixão, esse inferninho chamado verificação de palavras aqui em baixo. Como se "INGSA" fosse uma palavra. E tudo isso pra que? pra ver se eu sou um ser humano? Aí o treco que tava escrito antes eu errei... me bate duvida... ou quanto ao fato de eu ser um ser humano ou quanto a minha capacidade mental de decifrar tao complexo codigo... pelo menos "INGSA" acho que vou acertar... se der errado de novo vou perguntar pra minha mae de onde eu vim

Rosi Ribeiro disse...

Jack,
Cada vez fico mais encantada de como você usa as palavras para expressar exatamente o que você está sentindo. Ou melhor para expressar você!Li e curiosamente hoje também fiz uma limpeza nas minhas gavetas e organizei meus livros. Mas na verdade quando faço isso o que me assola é um alívio incomum.Aquela sensação de que tudo está no lugar onde deveria estar(incluindo eu)!Enfim, só posso dizer:Amei,amei e amei!