terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Meu próprio divã

"Se ser feliz para sempre é aceitar com resignação caótica o pão nosso de cada dia e sentir-se imune a todas as tentações, então é desse paraíso que quero fugir. Não estou disposta a inventar dilemas que nçao existem, mas quero reencontrar aqueles que existem e que foram abafados por esta minha vida correta."
(Divã - Martha Medeiros)

Ganhei o livro Divã, a primeira novela da cronista Martha Medeiros, que estava morrendo de vontade de ler, hoje, do meu namorado. E hoje, assim que foi possível, comecei a ler. Estou na página quarenta e dois e pretendo ler pelo menos o dobro até a noite. Fato é que Martha faz com que eu me sinta meio que lendo meu blog. Fácil de ler, parece que foi escrito por mim mesma, que aquelas palavras já me eram conhecidas de algum lugar, como se tivesse sonhado com elas ou planejado pô-las no papel.

A questão, onde quero chegar, é a surpresa: o texto Cozinhar é meio como amar foi escrito por um acaso, num momento não muito inspirado, e no entando várias pessoas se disseram traduzidas naquelas palavras.

Como leitora, sei que não há nada mais gostoso que se encontrar em palavras que não foram escritas por você. Dá aquela vontadezinha de por seu nome embaixo e fingir que foram. A gente se sente compreendido, fazendo parte de um cosmo, de um mundo. E não um patinho feio, um peixe fora d'água. É uma sensação reconfortante, tanto que eu a considero vital pra quem escreve: ser espelho de quem lê.

O problema é que isso não dá pra forçar, porque quem escreve não sabe o que quer o leitor, não sabe o que se passa em sua cabeça, em seu coração, o que ele precisa ou quer ouvir. Então, é uma coisa que acontece por acaso. Você sente algo sinceramente e escreve. Escreve porque acredita naquilo piamente. E alguém lê e entende e se sente como que desvendado.

Fiquei mais que feliz quando disseram que consegui isso com esse texto. Eliel o indicou em seu blog sobre culinária, Eline viu-se no texto porque ama cozinhar, Renato disse que eu devia escrever assim mais vezes, que meu texto o traduziu.

Não pensem que estou orgulhosa ou prepotente. Eu o sou várias vezes, mas não com o Amnésia, porque é algo que faço com o coração e a alma, independente de quem isso alcance.

Se querem saber um segredo, apesar de jornalista, sempre quis ser escritora. Escritora de ficção, dessas que todo mundo já leu alguma coisa, tendo gostado ou não. Dessas que a gente lê e se pergunta da onde foi que ela tirou tudo aquilo. Dessas que a gente cita por aí.

Quando começarem a me citar saberei que sou alguém. E terei meu próprio divã.

Beeijos, Jaqueline.

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