quarta-feira, 27 de outubro de 2010

OSPB e EMC

Por Jaqueline Defendi Rosa, do blog SinergiaK. - Dedicado ao querido Renato Violardi, sem o qual (pra variar) não teria saído do primeiro parágrafo, ao Prof. Pedro, sempre tão atencioso, e ao Izak, vulgo cretno, que em ajudou a raciocinar, quando eu queria tudo de mão beijada do Google.

Provavelmente será publicado em O Arauto, jornal da faculdade.



Em 1962, pouco antes do regime militar, colégios brasileiros sofreram alterações em suas grades curriculares e os estudantes que cursavam a 4ª série do ginásio, que hoje corresponderia ao 9º ano (8ª série), passaram a ter aulas de Organização Política e Social do Brasil (OSPB). A disciplina, proposta pelo Conselho Federal de Educação (CFE) e idealizada pelo educador Anísio Teixeira, visava superar uma falha na educação, que não atentava aos valores cívicos nem preparava os jovens para exercerem suas obrigações como cidadãos, e suprir as exigências da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (LDB), de 1961, segundo a qual os alunos deveriam ter, além das disciplinas convencionais, as obrigatórias complementares (OSPB, línguas estrangeiras, desenho) e as optativas (música, artes industriais, técnicas comerciais, técnicas agrícolas).

Depois, já durante a ditadura, foi instituída a disciplina Educação Moral e Cívica (EMC). A matéria, obrigatória a partir de 1969 em todos os sistemas de ensino do país para alunos da 2ª série do ginásio (6ª série ou 7º ano atuais), visava doutrinar ideologicamente as crianças de acordo com os interesses dos ditadores, que disfarçavam essa intenção utilizando o mesmo discurso de OSPB a respeito da necessidade de se fortalecer a unidade nacional e o sentimento patriótico. “Era uma forma dos governos militares doutrinarem e ensinarem história política, mais ou menos como os governos nazista e fascista faziam na Alemanha de Hitler e na Itália de Mussolini, sem esquecer a Espanha de Franco...”, conta Renato Violardi, 40, administrador de empresas e vice-presidente do diretório do PSB em Cabreúva.

O ensino do exercício cívico e patriótico dos militares não se limitava às salas de aula: todos os artifícios eram válidos para influenciar os brasileiros, jovens ou não. Na imprensa escrita e falada, por exemplo, eram disseminadas propagandas que enalteciam a potência industrial do Brasil e alertavam a população quanto ao seu dever de contribuir com o desenvolvimento da nação – a Rede Globo, por exemplo, exibia nas manhãs de domingo o programa do ex-militar Amaral Neto, que mostrava as belezas do Brasil, como o rio Amazonas, exalando patriotismo. Essa contribuição abrangia desde participar de desfiles e cumprir as determinações do governo até denunciar pessoas envolvidas em atividades questionáveis e respeitar as autoridades militares. Nas escolas, era obrigatório o hasteamento da bandeira do Brasil às segundas-feiras e seu arriamento às sextas-feiras, no pátio, onde o hino era entoado. Hastear a bandeira era considerado uma honra e só os melhores alunos tinham esse privilégio.

No entanto, apesar da doutrina ditatorial imposta através de OSPB e EMC, as aulas contribuíram com a conscientização e politização dos brasileiros, despertando neles o interesse em participar da vida pública. “Tive essas aulas e, acredite, ajudou muitas pessoas a se politizarem. Para o bem ou para o mal, mas ajudou”, conta Renato.

O Brasil, depois de tanto lutar pelo fim da ditadura e pela redemocratização, sofre de um mal estranhamente contraditório: o desinteresse político. Em relação a 2006 houve uma queda de 7% entre os eleitores de 16 e 17 anos, que não são constitucionalmente obrigados a votar. Muitos não querem tirar seus títulos de eleitor e afirmam não gostar de política. Talvez a solução para esse problema, que faz com que maus políticos sejam eleitos, seja adaptar o estudo das ciências políticas da grade de 1969 para os dias atuais e retirar dessas aulas a parcialidade.

“Acredito que o estudo político, tenha o nome que tiver, deveria fazer parte do aprendizado do que é ser cidadão. Quando não se investe em conhecimento e educação, criamos uma ditadura que domina a informação e a formação intelectual. Sem conhecimento e formação de opiniões, cerceamos a formação da dúvida, que é o grande trunfo da democracia.”, explica Renato. “No entanto, dependendo de quem está no poder, o ensino será sempre diferente. O governo atual, por exemplo, satanizaria a política anterior e evidenciaria a política atual. O ensino político exige seriedade, mas quem está no poder sempre se beneficiaria”, lamenta.

O Senador Acir Gurgacz (PDT-RO) defendeu no Plenário, em meados de 2010, a volta de OSPB às grades curriculares: “eles estão mais preparados para atuar dentro de nossa sociedade organizada e mais aptos a interceder na coletividade com uma postura mais crítica e consciente”, disse, referindo-se aos alunos do Colégio Diocesano Seridoense, localizado no Rio Grande do Norte, que ainda têm aulas de OSPB e EMC.

Felipe Neto, jovem famoso por seus vídeos satíricos e críticos, opina em uma das suas filmagens, sobre políticos, da série Não Faz Sentido: “Se você tivesse matérias na escola que incentivassem a realmente pesquisar sobre o assunto, talvez tivessem muitos jovens por aí defendendo valores, fazendo revoltas”. Ele diz, inclusive, que os cidadãos só se tornaram completamente alheios à política porque, durante anos, foram condicionados a isso.

“Somente a educação muda o Brasil”, sentencia Felipe. “Então larga o Ipod por quinze minutos do seu dia e vai estudar um pouco, vai buscar saber o que é a Constituição Brasileira, o que é democracia... E quem sabe se a gente criar uma conscientização de revolta geral a gente talvez consiga mudar isso daqui a uma ou duas gerações”, recomenda enfaticamente, cobrindo seus espectadores de palavrões.

É claro que, para essas aulas voltarem às grades curriculares, seria absolutamente necessário reformulá-las, reformatá-las, de maneira que não se prendessem às ideologias dos que estiverem no poder e, no entanto, educassem, pois sua verdadeira missão, no nosso regime democrático, deverá ser a formação de cidadãos que olham o mundo pensando nele - pois educação é o caminho rumo ao destino digno que os brasileiros obviamente merecem.
 
 
Beeijos, Jaqueline.

4 comentários:

Harley Man disse...

Vou dizer o que achei do texto como se não a conhecese.
Moça, Meus parabéns, ja´assisti o video do Felipe NEto e você pensa como ele e como eu, onde a sociedade é moldada a não se interessar por politica para manter no poder os maus, seu texto é de exelente quaidade muito superior a cabeça da massa dos jovens e se mais jovens penssasem igual a você talvez acontecese o que esperariamos que ocorrese de fato uma revolta para mudanças readicais no mundo politico onde só tem filhos da puta, ladrões corruptos que vão se foder no inferno, se houver justiça para eles ao menos depois de mortos e que isso não demore. Sem perder o foco, deveria procurar um meio maior de comunicação para divulgar esse texto, jornal local, sites relacionados, mandar a jornais grandes, aonde conseguise, pois merece ser divulgado, muito bom, adorei, não sou ninguem importante, mas sou um jovem que pensa como vocês com relação a política e acredita que ainda podemos mudar alguma coisa, não mudar o mundo, mas mudar o nosso pais. Novamente meu parabéns, e se não fose seu namorado pediria seu telefone! Bjss! =P s2

Renato Violardi disse...

O jornalista, o bom jornalista, que fique claro, é como um ourives: transforma a pepita bruta numa obra de arte, quase sempre eterna. Extrair de uma conversa, coisas que são real e necessariamente importantes e, transformar essa conversa num texto brilhante, como você o fez, para mim ficou claro: você é, e pode considerar-se, "a jornalista". Claro que sou suspeito em dizer, afinal ninguém, em meu momento de puro egoísmo, tira de mim o título de "SEU FÃ Nº 1". Porém, temos que ser justos e procurar sempre a imparcialidade. Por isso, digo sem parecer pretencioso ou tendencioso que, você soube tirar a essência daquilo que conversamos, sem pender para lado algum, mas dando um rumo preciso ao texto. A política, acredite, faz daqueles que se interessam por ela, transformações maravilhosas em nossas vidas, ou melhor, na vida de todas as pessoas. Podemos amá-la ou odiá-la, mas nunca sermos indiferentes a ela. Parabéns! Brilhante trabalho!

Renato Violardi disse...

Jaqueline, sinto-me lisonjeado por fazer parte de um texto seu.
Isso implica, para mim, numa obrigação e responsabilidade enorme em fazer um comentário.
“A política é a forma de tornar possível a esperança das pessoas”. Ouvi essa frase , dita por um grande político que conheci e, desde então, a tenho como um mantra, que sempre repito ao refletir e referir-me a política
Entender as relações políticas demandam muito tempo. Por isso mesmo, não temos mais tempo a perder.
Precisamos aproximar a política da juventude, pois, afinal, "serão os jovens de hoje que serão os políticos do amanhã". Isso me faz refletir: por que amanhã e não hoje?
Se não temos uma formação formal política, se a política não faz parte da grade curricular, como formaremos os futuros políticos? Qual a visão que a juventude terá sobre a política? Somente com exemplos? Mas será que os exemplos que temos no mundo político de hoje, são bons para serem seguidos?
Ao questionarmos a posição dos nossos jovens, vemos que a grande maioria não demonstra interesse algum em seguir a carreira política. Isso acontece por não haver uma formação formal política, por não estudarmos a política e os político.
Devemos repensar, questionar, refletir, contrapor idéias, sempre com respeito às opiniões, com conversas francas e verdadeiras. Os jovens tem que ser tratados com o devido respeito que merecem, e não tratá-los de forma tutelada. Devemos, nós políticos que somos, buscar meios de interagir e integrar a juventude na política, a boa política. Que é linda! Uma arte, uma ciência.
Devemos estimular os jovens a buscar conhecimento, debater idéias. Dar aos jovens os instrumentos da sociologia, do direito, da história e das ciências políticas para elaborar um estudo amplo da compreensão do nosso país, da interpretação do nosso Brasil, começando pela compreenssão das nossas cidades.
Acredito que os movimentos de valorização da ética, do voto consciente, da ecologia, da sustentabilidade, da gestão, sejam bons exemplos do engajamento do jovem na política.
Buscar conhecer aqueles que querem nos representar, questioná-los, buscar uma gestão compartilhada, ouvir opiniões é o caminho a ser seguido por todos nós.
Acredito que o interesse da juventude, deva ser estimulado, sempre, pois os nossos jovens, o nosso futuro tem sonhos. Por isso, nossa juventude “pode voar mais alto, caminhar mais longe”.
Parabéns pelo seu texto. Li e reli várias vezes. Não para amaciar meu ego, de ser seu parte de seu tema e assunto, mas por respeitar seu brilhantismo e imparcialidade, qualidades que fazem de você uma ótima jornalista.

MPierre disse...

Também sou a favor dessas 2 disciplinas que, hoje em dia, fazem falta. Claro que o foco seria os dias atuais e tal e explanando as Eleições, o funcionamento dos Três Poderes, a geração de um projeto de Lei e essas coisas. Nesse exemplo, eu vi em EMC e em OSPB. Nesse último, lembro da abordagem da questão econômica com moedas fracas e tal e, se não fosse extinta, creio que a abordagem de OSPB seria a falta de segurança para o cidadão mais o caos na Saúde nos dias de hoje.

Obviamente, seriam com outros nomes e achei na Internet uma informação que está em banho-maria no Congresso com o projeto de Lei de 2 Senadores pedindo a volta dessas 2 disciplinas (com outros nomes, claro). Um deles é o Pedro Simon (PMDB-RS).

Para encerrar, não são todos, mas, pelas redes sociais, eu percebo que essa atual geração de 18, 19 ou 20 anos não tem a menor noção de democracia onde, lamentavelmente, essa maioria desses jovens tem INTOLERÂNCIA à opinião contrária. Provavelmente, a ausência dessas 2 matérias contribui e MUITO.