sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Pseudocorrespondência

à Luiz Francisco Loureiro, meu amigo futuro historiador, filósofo e meio poeta, que ainda me deve seu escrito acerca do Homem Sintético e um passeio à cavalo.


Cabreúva, 06 de agosto de 2010

'crido amigo,

venho através desta pseudocorrespondência parabenizar-lhe pela absurda paciência que tem tido nos últimos anos com a minha pessoa. E também para agradecer-lhe de ser sempre tão bondoso e presente nos meus dias de profundo descontentamento filosófico, assim como naqueles em que não possuo nada de interessante para oferecer-lhe nem nada de engraçado ou inovador. Obrigada, inclusive, por me acalmar com seus gracejos quando estou eufórica ou preocupada e por me animar quando a vida me deprime.

Posteriormente a tais agradecimentos, sinto-me obrigada a redimir-me das minhas falhas para com você. De novo e de novo. Note que sempre peço-lhe perdão pelos mesmos erros. Vai ver que esses erros fazem parte da minha formação genética, não é possível. Ou então já teria mudado. Desculpe. A ausência, o silêncio, a distância e os mil compromissos desmarcados. E os outros mil que não desmarquei, mas também não apareci. Desculpe ter roubado sua revista sobre mitologia e seu Madame Bovary. Mas eu prometo lê-los, para compensar o furto, ou ao menos justificá-lo.

Sinto falta das aulas na janela, filosofando juntos ou comentando livros, de poetas portugueses à receitas de bacalhau, dos  recados no caderno escrito à lápis por alguém que jurava que nunca estivera lá, sequer. Sinto falta dos dias frios sentados ao sol e das músicas novas, dividindo a mesma esquisistice e paixão por coisas que ninguém por lá gostava, dos bombons surpresa, da cumplicidade, das caras estranhas que só nós entendíamos.

Sinto falta porque já perdi uma vez e não queria perder de novo. Mas sei que não perdi, mesmo que tudo isso esteja tão distante. Mesmo assim, sinto falta. Compreende? Até porque, acho, você é a única pessoa que lembra de mim com uma figada. E a única pessoa que lembra de mim no meio de um bilhão de livros, numa Bienal - e inda me traz um Pessoa de presente. Ah, também é o único que fica feliz de ganhar o livro mais velho do mundo de amigo secreto, mesmo que você tenha comprado o mais novo e lindo pra presentear a ameba que te deu o livro velho.

No words, rs.

Aliás, foi com você que aprendi a ler coisas que ninguém lia. Como Pessoa, Lispector, Saramago,... Obrigada. Me ensinou que mais vale o conteúdo à capa e que não tem absolutamente nada de errado em ser exceção. E, bem ou mal, me ensinou a ver Deus com outros olhos, talvez mais apurados, menos míopes e dogmáticos. Me fez ser um pouco, bem pouco, mais atenciosa: às palavras, cores, pessoas, ao desenho das nuvens, e me mostrou que muitas vezes não é preciso falar. Aprendi que posso, sim, ficar em silêncio comigo mesma - e você sempre respeitou o meu silêncio e ficou do meu lado mesmo assim.

E não queria lhe dar feliz Natal, hoje. Porque desejo felicidade pra você a cada minuto da minha vida, porque é um alguém mui especial pra mim e porque não devemos desejar coisas boas só quando há um motivo específico, sabe. Rezo sempre pra que seu destino se realize de uma maneira sutil, sem grandes solavancos, pra que não corra o risco de cair e se machucar. Torço pela paz e pela sua saúde. Que os deuses o abençoem e protejam e guiem e estejam sempre ao seu lado.

Desejo que você continue calmo, divertido e inteligente como quando o conheci e que mantenha sua disciplina e bom gosto - e até mesmo as suas manias e defeitinhos, que são também responsáveis por quem você é.

E que, por favor, não se esqueça de mim, mesmo que o Alzheimer ou a Amnésia - seriam eles um casal? - insistam em tentar apagar de você minhas lembranças, esforce-se um pouquinho pra lembrar, pelo menos, que tentei ser sempre uma boa amiga e que te amo muito. Mesmo que meu rosto desapareça e minha voz esteja distante.

Fico por aqui, com meus mais sinceros votos de tudo o que há de bom pra desejar, antes que consiga marejar-lhe os olhos - pois sei que és, no fundo, um sentimental, haha.

Com um bocado de saudade, açúcar e afeto,
de quem lher quer mui bem,

Jaqueline.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caraleo, Jaque... Olhos marejados, fiquei eu, irmã do homenageado. Lindo texto, pelas palavras, mas principalmente, belo sentimento, se seja assim para todo o sempre.

Bjos
Leda

Jaque disse...

*-* que bom, Leda. HAHA fico feliz. É a idéia. Vamos ver, depois, o que o homenageado achou, rs. Beeijos, Jaque.

Luiz Loureiro disse...

Jaque minha flor!!! desculpe a demora em comentar minha carta! estive meio correndo e tal! mas saiba q eu já a li pelo emnos 6 vezes!!! haha

lindo, lindo Jaque! obrigado minha crida, vc sabe q eu tmbm te gosto muito muito né? e essas palavras todas q vc escreveu velho, muito obrigado msm! sinceramente, eu me alegro muito por saber q te inspiro esse carinho, e me alegro muiot tmbm por saber q apesar dos 350 Km estamos proximos assim, o suficiente pra nos possibilitarmos outros sentimentos alem da pura saudade!

se a ideia era me deixar bobo e cheio de nostalgia, de boas lembranças e td, vc conseguiu metade! pq bobo eu já era! hahahahaha

te lembrar tmbm q tds essas qualidades q vc disse q eu tenho, se eu as tenho e vc as conhece sao só pq as merece conhecer! haha pq nao sou tão paciente e nem tão boa compania assim haha isso tmbm é culpa sua, somos espelhos! haha

vi q a Leda ja passou aqui né? irmãos mais velhos sao intromissivos né?! hahahaha fazer o que? é a lei natural! hahaha

bom noa tenho mais nada a dizer (na verdade tenho, até muito... mas noa agora), digo apenas obrigado, pelos votos de boa sorte e por estar sempre por perto, msm longe!

amo-te minha crida!

bjos!
até breve!!!