terça-feira, 10 de agosto de 2010

Incorruptível

"Só que ter descoberto súbita vida na nudez do quarto me assustara como se eu descobrisse que o quarto morto era na verdade potente. Tudo ali havia secado - mas restara uma barata. Uma barata tão velha que era imemorial. O  que sempre me repugnara em baratas é que elas eram obsoletas e no entanto atuais. Saber que elas já estavam na Terra, e iguais a hoje, antes mesmo que tivessem aparecido os primeiros dinossauros, saber que o primeiro homem surgido já as havia encontrado proliferadas e se arrastando vivas, saber que elas haviam testemunhado a formação das grandes jazidas de petróleo e carvão no mundo, e lá estavam durante o grande avanço e depois durante o grande recuo das geleiras - a resistência pacífica. Eu sabia que baratas resistiam a mais de um mês sem alimento ou água. E que até de madeira faziam substância nutritiva aproveitável. E que, mesmo depois de pisadas, descomprimiam-se lentamente e continuavam a andar. Mesmo congeladas, ao degelarem, prosseguiam na marcha... Há trezentos e cinqüenta milhões de anos elas se repetiam sem se transformarem. Quando o mundo era quase nu elas já o cobriam vagarosas."
(Clarice Lispector, A Paixão Segundo G. H.)


Clarice é louca. Sim, divina e invejavelmente louca. Adoraria ser louca - e o que mais fosse preciso - pra escrever tal qual Clarice.

'Ninguém sabe o que somos. Sabemos apenas que seremos o que restar do fim de nossas desilusões.'
(Arnaldo Jabor)

Estou lendo 'Armadilhas do Poder - Bastidores da Imprensa' de Gilberto Dimenstein. É interessante, porque realmente os jornalistas são constantemente vítimas e víboras da má informação.

Triste, porque, como toda profissão, há os bons e os maus profissionais. Mas, infelizmente, a atitude absurda dos maus acaba prejudicando uma parcela inteira da sociedade - os leitores de jornal. Fato. As pessoas confiam no que publicam os jornais. É pra isso que eles existem, afinal.

Por isso ser jornalista requer uma tremenda vontade de mudar o mundo, a extrema consciência da ação e influência social do jornalismo e, talvez principalmente, um caráter incorruptível - não, nem todo homem tem seu preço. O resto - Língua Portuguesa e sua gramática, história, política, economia, arte, regras de futebol, diplomacia e todo o resto - se aprende. É pra isso que fazemos faculdade. Estudamos e lemos tudo o que aparece na nossa frente, não é a toa. Mas caráter e seriedade, imagino, é algo que nasce com a gente.

Filhos da Pauta, sei que seremos os melhores.

Beeijos, Jaqueline.

Um comentário:

Carlos Strife disse...

A Clarice era uma baita jornalista também :D
Faça como ela e nos dê jornalismo de primeira linha ^^ sei que posso esperar isso de você.

Beijos, maninha ^^
:*