quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Seja um Otário

Os chamados Otários, ontem, conversavam sobre o mundo. Não falavam de games, de moda, de música, de voltas do fim de semana, mas sim de política interna e externa, candidatos, auxílios financeiros, penitenciárias e sobre os Espertos - e tudo culminava num só problema: a inversão de valores.

Os Otários, juntos, sentados à porta da faculdade em que estudam - e, bem ou mal, se dedicam dia-a-dia pra aprenderem alguma coisa e serem alguém, como diziam seus pais, gente da outra geração - concordavam: os tempos mudaram. Hoje, são bem vistos, celebrados, a mulher que vende sua imagem, seu corpo, nome e, se é que existe, honra e o homem que, sendo um Esperto, ganha dinheiro às custas dos outros, trapaceando talvez, e tem ou corpo definido ou conta bancária com vários dígitos - o carro mais caro, a mulher mais bonita.

Se feliz ou infelizmente não sei, mas os Espertos estão se tornando maioria nessa nossa sociedade de ponta cabeça. São eles, os Espertos, os que sempre se dão bem, mesmo que para isso tenham que rebaixar-se a ponto de contrariar o que os pais e avós deles chamariam de princípios - que hoje ninguém mais sabe o que é nem pra que serve. Há a exposição física, os escândalos vazios, as polêmicas provocadas, pura e simplesmente, para atrair a imprensa e 'cair na mídia'. Não é necessário ser inteligente, dedicado, talentoso - o que conta é a novidade, mesmo escrota, o diferente, o ridículo, o fisicamente atraente.

O que diferencia um Otário de um Esperto é o esforço.

O Esperto dedica-se cinco minutos ou dez, a curto prazo, pois se interessa pelo sucesso ou dinheiro. Tem as cartas na manga, os contatos certos e, certo ou não, os atalhos perfeitos. Alcança a fama, vira celebridade instantânea e usufrui dos frutos que esse ibope lhe dá.

O Otário, em contraponto, rala. Batalha todo dia, toda hora - mesmo que as vezes tenha vontade de explodir tudo e todos e chorar e desistir - estuda, trabalha, madruga, seja pela estabilidade financeira ou por um objetivo, ou sonho, maior. Um ideal - como os próprios Otários chamam suas metas.

E chegamos, por fim, à inversão de valores.

Uma Otária falou para mim - que também sou uma Otária incurável - que uma de suas alunas disse a ela que, quando crescesse, gostaria de ser cantora. De funk. Quase cortei meus pulsos. Mas a pobre garota não tem culpa - é o mundo. É o que a sociedade lhe ensinou. 'Querida, se você colocar um shortinho mostrando o comecinho da bunca e rebolar cantando mal pra caramba você vai ser rica e famosa - talvez saia até na Playboy!' - e que culpa ela tem de querer ser rica e famosa?

(Como Geisy Arruda, que achou o máximo fazer sucesso por mostrar as pernas na universidade e dar uma chorada depois. É, pois é. Alguns ralam, estudam, pesquisam, trabalham e ganham o Nobel de Física, os outros botam vestidos indecentes, fazem filmes pornôs ou saem com travestis. É a vida.)

Antigamente, crianças tinham que estudar e brincar - e se não respeitasse os professores, só um olhar do pai bastava pra ela morrer de medo de levar um sova e começar a prometer que nunca mais isso ia acontecer. Sonhos? Professores, médicos, advogados - é, e jogadores de futebol.

Hoje, quem mandam são as crianças - não sabem o que é respeito, querem escolher o que vestir, o que comer, o que ganhar de presente de natal: se não deixam, fazem birra e conseguem - e são, mesmo assim absolutamente dependentes, ao contrário do que possa parecer. Fico pensando que mundo crianças como essas, daqui a vinte anos, vão construir. Tenho medo.


Dizem que eu não vou conseguir mudar o mundo.
Mas não é por isso que vou curvar-me à ele!



Campanha Seja um Otário! HAHA Um alguem que vai se esforçar ao máximo e que talvez, só talvez, consiga. Mas que não vai desistir e se render às mazelas do mundo.

Beeijos, Jaqueline. 

Nenhum comentário: