segunda-feira, 12 de julho de 2010

Cebolas

E eu me recostei na grade, entre a sacada e o infinito, e joguei a cabeça para trás para olhar as estrelas. Havia várias - brilhantes, discretas; distantes - e eu me assustei quando notei que há muito tempo não parava pra conversar com elas. Apesar do desconforto inicial, com os trapézios reclamando, mantive-me quieta ao seu lado, ouvindo aquela música escrita pra você, com certeza. Foi um momento deliciosamente silencioso, com seus cigarros e meus pensamentos.

Parecia que aquele lugar sempre fora meu e que aquelas estrelas brilhavam pra gente.

E é incrível como não precisamos gastar palavras pra preencher o vazio. Não existe vazio. É gostosamente diferente nosso modo de calar futilidades e cada conversa nossa tem se mostrado ainda mais interessante - e há tanto que eu gostaria de lhe falar e ainda não sei como!

Talvez elas, as estrelas, gostem de nós. Sim, eu acho.
Afinal, se eu gosto de nós, por que elas não gostariam, rs?

*

O 'outro' inspira curiosidade, e da curiosidade vem as cambalhotas no estômago e a vontade de traduzir aquele alguém. E pessoas são como cebolas. Cebolas têm camadas. Pessoas têm camadas.

As de fora são as disponíveis vinte e quatro horas por dia, pra quem quiser ver; é a aparência, as roupas, o corte de cabelo, o perfume que você usa, as marcas que você ostenta, as cores que você tem e usa. São aquelas que qualquer um que vê, avalia, percebe.

As camadas do meio já requerem que o observador gaste um pouco mais de tempo, demonstre talvez um pouco mais de interesse no observado e atente para alguns sinais, que são normalmente confundidos com as camadas de cima, mas que não as são. Essas, as intermediárias, são o jeito que você cruza as pernas, o ritmo com que respira, se fecha ou não os olhos pra ouvir aquela música; são o tom de voz e a firmeza do aperto de mão, a profundidade do olhar e a altura da risada. As camadas do meio são o vocabulário, a expressão, as escolhas cotidianas entre doce e salgado, quente e frio. 

As camadas mais profundas - ahh, essas danadas! - são aquelas peculiaridades que nos fazem ser quem somos, que somadas às outras - do meio e de fora - nos tornam ímpares, únicos. As camadas de dentro não são vistas por aqueles que olham, pois dependem, na verdade, do dono as querer divulgar. É necessário uma entrega e confiança diferentes, pois só o possuidor dessas camadas pode escolher se as mostrará ou não. E o observador deve querer vê-las e entendê-las, ou continuarão invisíveis. É indispensável esse mutualismo, pois são - essas camadas - feitas de sutilezas; são as ideias loucas que temos vontade de realizar, os desejos escondidos, são as paixões, os ódios, as dores. É aquilo que as vezes não queremos lembrar, quem dirá contar pra alguém. São os dilemas, as vontades, os amores, os preconceitos. É a opinião. São as palavras sussurradas no ouvido praquela pessoa especial. Aquilo que você só diz pro seu melhor amigo, as confissões, segredos, dúvidas; as camadas profundas são feitas das nossas verdades, dos nossos medos, curiosidades. 

E vai de cada um saber qual delas é mais importante. Mas, acreditem quando digo, quando alguém começa a compartilhar com você suas camadas mais profundas e você se vê desvendando o mistério de alguém, mesmo que aos poucos, mesmo que revelando milímetro a milímetro, a sensação é inexplicável. É um misto de felicidade com orgulho e honra. Ou qualquer coisa assim, que te deixe como que flutuando, sorrindo sozinho no escuro duma magrugada super estrelada.

*

Foi um final de semana delicioso.
E estrelado.

Beeijos, Jaqueline.

Um comentário:

Celso disse...

Tambem acho q as estrelas gostam de nós, gostamos elas, smepre presentes conosco, até mesmo dentro do quarto elas olham por nós, mas são fluorescente
ou fosforescente? haha bjs minha linda.