sexta-feira, 28 de setembro de 2018

aceite ser rio



Meu Deus. Se prepara pra um texto muito louco com várias histórias aparentemente desconectadas que a gente só entende no final o que uma tem a ver com a outra. Pelo menos a ideia é essa... Não me julguem se não der certo haha



Uns anos atrás, minha irmã tinha muitas espinhas no queixo. Internas, doloridas, eternas. Chegou um momento em que aprendemos que, na medicina chinesa, inflamações nesse local estavam relacionadas a problemas no aparelho reprodutor. Quando ela foi ver, tinha um enorme cisto em um dos ovários, o que desregulou seus hormônios e afins. Tratamento, cura. Mais espinhas. Mais cistos. Cirurgia. 

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Há semanas, venho tentando aprender a lidar com as minhas raivas na terapia e na vida. Nessa mesma fase, tenho tido no ouvido direito um zumbido irritante, sem nenhuma causa clínica. Segui negando veementemente a necessidade de lidar com raiva (afinal, que raiva?), mas, por confiança no meu terapeuta, também tentando trilhar esse caminho. Até que um dia, uma amiga que - parece-me - enxerga a aura das pessoas, me disse que eu precisava comer rúcula. E acelga. E coisas verdes e amargas, porque eu precisava cuidar do meu fígado. Ahn. Ergui uma sobrancelha. Fiquei de cara, olhando pra ela sem entender nada. Dei um Google e descobri que as tretas com o fígado são reflexo justamente... da raiva. Quando ela me falou isso sem saber de nada do que eu estava lidando, entendi que tinha mesmo que lidar com as danadinhas (e comer matos verde-escuro amargos e afins). Dei uns gritos, combinei de transformar a raiva em uma coisa artística, desabafei. Enfim. Estou no processo...

Eis que há uns dias, noto minha orelha direita inflamada. Infeccionada do brinco - apesar da pomada que resolveu o problema da esquerda - espinhas por dentro e por fora. Hoje, decidi pesquisar o que a Medicina Chinesa (a mesma que diagnosticou o problema silencioso dos ovários da minha irmã) tinha a dizer sobre espinhas na orelha: problemas nos rins. 

Pensei das minhas idas e vindas à Santa Casa no fim de 2012 e depois no começo de 2013, com cólicas insuportáveis nos rins e nenhuma pedra... Meses complicados para mim... 

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Sábado passado, um ensaio de dança me levou de volta à rotina com as amigas. Carro, almoço, dança, carro. Papos aleatórios. Falávamos sobre signos. Eu, escorpiana. Elas: duas librianas e uma geminiana. Comentei que o elemento do meu signo era a Água. Uma delas se assustou, comentou que achava que era Fogo. E aí no papo vai papo vem de amigas, abrimos um site sobre os elementos e os signos. 

Água - os signos de Água geralmente têm uma predileção pelo mar, pelo contato com a água, adoram natação, hidroginástica e reencontram a serenidade e o bem-estar quando estão junto do seu Elemento. 

Lembrei das minhas tardes à beira mar em Cascais... Poderia ir pra qualquer lugar de Portugal e até mesmo dar um pulo na Espanha, mas deitei naquela areia e ali fiquei. Eu esqueço disso com uma frequência maluca, mas meus dias de maior paz e serenidade são aqueles na beira d'água. Ali, em frente ao mar ou à piscina ou ouvindo o barulho da chuva, eu consigo silenciar minha mente e meu coração. E não fosse a professora me tratar como se eu tivesse oito anos, estaria até hoje nas aulas de natação, tamanho o bem-estar. 

Estes signos são volúveis, fluem como a água e não gostam que os prendam, mas levam sempre consigo as suas memórias, o passado que fez deles quem hoje são, a sua intensa densidade emocional. Como o mar, que é tão profundo que não conhecemos aquilo que se esconde nas suas extensas profundezas, também os nativos destes signos são pessoas muito profundas, cujos sentimentos e pensamentos são difíceis de conhecer, muitas vezes até para eles próprios. A Água está ligada às emoções, e estes signos são os mais sensíveis e mais sentimentais do Zodíaco. Tudo os marca, e provoca neles uma marca que dificilmente esquecem.

Eu sempre digo: só me conhece quem me lê. E quem me conhece sabe como eu não descarto a importância das coisas que me aconteceram, mesmo as que me magoaram. Como eu acho que tudo acontece como tem que acontecer e como, pra mim, tudo é aprendizado: benção ou lição. Da intensidade ninguém duvida né. E de como eu raciocino com as emoções, também não.

Próxima parte do texto falava sobre a influência dos elementos na nossa saúde. 

Os signos de Água estão ligados aos processos mais profundos e a sua saúde pode sofrer com problemas digestivos, no aparelho reprodutor, com os órgãos internos e o metabolismo. A vida emocional é de tal modo importante para eles que são, também, sugestionáveis, sendo mais sensíveis a depressões e doenças psicossomáticas. 
Acreditem ou não: se não falo uma coisa que gostaria de dizer e essa for uma coisa que me angustia, imediatamente minha garganta dói. Somatizo com uma velocidade incrível... A ansiedade e a tristeza me doem o estômago, me enjoam, me fazem vomitar - como se quisesse com isso por pra fora toda a angústia que me habita.
Indiscutível...

.Ju Marconato fala muito sobre os quatro elementos e lembro bem dela falando que a água - na dança e na vida - está ligada ao improviso, à capacidade de adaptação, à fluência, à alegria. Ontem mesmo falei ao meu terapeuta sobre como, pra mim, a dança está ligada à essa entrega. Só vai e faz. Sem planejar, sem pensar. Em como meus momentos de improviso são mais ricos do que as minhas coreografias. 
Também comentei com ele - e outro texto virá disso - sobre minha incapacidade - já aceita - de escrever versos. Disse pra ele: eu abro o blog e lá eu me derramo. Não sei fazer isso em linhas pequenas, palavras contadas, rimas e regras. Não consigo fazer isso me contendo... Preciso de espaço pra me desabar. Como uma avalanche, uma enxurrada...

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Sei que resolvi pesquisar as causas emocionais de problemas nos rins, já que as espinhas estariam relacionadas a isso. Eis que a emoção que desequilibra os rins é o medo. Os ouvidos - aqueles que zumbem - são o canal de abertura dos rins, seja lá o que isso signifique. Raiva e medo. Água, que tem a ver com as emoções, é totalmente filtrada pelos rins, que escolhem o que fica e o que sai. Se as emoções ruins não são excretadas, ficam pelo corpo. As mágoas ficam pelos pulmões. As raivas, no fígado. Os medos, os desapontamentos, as críticas e os fracassos, nos rins (e, aparentemente, nas porras das espinhas nas orelhas). 

Segundo a pesquisa, pessoas com problemas nos rins são pessoas que tem uma necessidade se se sentirem apoiadas e tratadas com consideração e afeto. São também pessoas que costumam, inconscientemente, se mostrar como auto-suficientes.
E, por fim,  (eu juro que está escrito isso) o excesso de trabalho enfraquece os rins. (risos nervosos)
Última pesquisa da medicina tradicional chinesa hoje: doenças do lado direito (lembra que é só o ouvido e orelha direitos que estão zuados?) estão ligados a autocobrança excessiva, inflexibilidade consigo mesma, culpa consciente ou inconsciente. 

(risos nervosíssimos)
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Li outro dia na internê: "você pode comer brócolis, tomar água alcalina, fazer yoga, mas se você não lidar com as porcarias que estão acontecendo no seu coração e na sua cabeça, você continua doente." 
Somos carne, matéria. Coisa pegável, tangível, vista e sentida através da pele, do calor, do movimento, do cheiro, do olhar, do suor, do peso.
Mas também somos pensamento e emoção. Mente e alma, como diriam. Tudo invisível. Se abrem a nossa cabeça, acham o cérebro, mas não os pensamentos. Se nos rasgam o peito, encontram carne e sangue e veias e músculos que antes palpitavam. Mas não acham as emoções e sentimentos que conduzem nossas escolhas. 
A questão é que as coisas invisíveis estão conectadas nas visíveis. Quer a gente aceite ou não. Espíritos inflexíveis normalmente habitam corpos inflexíveis...

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Para Osho, o amor é o oposto do medo. O amor (e a gente sabe que o Osho não tá falando de amor romântico, né? Pro Osho, amor é um estado de ser e não um relacionamento) dá coragem, afasta o medo.  E onde o medo habita, habita também o ódio, a raiva.

"Tudo o que lhe der paz, tudo o que o deixar em estado de graça, tudo o que lhe der serenidade, tudo o que o aproximar da existência e de sua imensa harmonia, é amor e será bom."

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Lá (naquela primeira pesquisa sobre as causas emocionais dos problemas nos rins) qualquer coisa sobre a dificuldade em deixar fluir, relacionada aos encerramentos de ciclos. Deixar ir. Deixar escorrer, se desfazer do que não faz mais sentido. Chover, evaporar, secar, pra então chover de novo. Ciclos. De água, de emoções, de acontecimentos. 
Exatamente nesse momento, estou no inferno astral - o último mês do ciclo. Meu dezembro, na contagem regressiva pro meu ano novo, que é 23 de outubro. Ou seja, vivendo toda a energia dos encerramentos, dos desenlaces, das mudanças e transformações. Toda a energia do deixar ir, do desprender, do deixar pra lá, do cicatrizar, do entender.
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A arte - seja a dança, seja a fotografia ou os meus textos - sempre me trazem analogias sensacionais em relação "à vida". Se na arte eu sou essa pessoa fluida, alegre, sem fronteiras, desprendida das regras, intensa, flexível, livre... Como que na vida não seria? Mas as vezes não sou. Daí, o corpo estranha e adoece. Faz sentido?

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A conclusão, se é que há, é que preciso me reconectar com a minha essência de água. De fluir, seguir em frente, sempre em frente.

"Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo. Olha pra trás, para toda a jornada que percorreu, para os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados e vê a sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre..." - Osho.


E deixar pra trás as coisas que ficaram para trás. Mesmo que tenham me transformado e permitido ser quem sou. Entender que, pra que coisas novas venham, eu preciso filtrar o que não mais me serve e deixar ir... Dá medo, frustra, da raiva. Recomeçar, mais uma vez, cansa. Mas também empolga.

"Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano, é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano." - Osho.

E, principalmente, entender que posso deixar meu lado direito - o lado feminino - em paz. E deixar de sentir dores por auto cobranças, por uma perfeição de versos que não me refletem. Eu sou prosa. Eu sou grito. Eu sou olhares marcantes e silêncios profundos. Eu sou prolixa nas palavras escritas. Sou água derramada, chuva pesada e entregue. Rio que corre sem olhar pra trás, sou quem absorve coisas e sou transformada e transformo - sim - onde eu passo.

Arrisco a dizer que todo meu sofrimento têm vindo dessa querência de querer ser rocha. Ser eterna. Fixa. Firme. Concreta. Segura. Indiscutível. Indestrutível. Está na hora de aceitar. Eu não sou. Eu estou sendo.

Chega de tentar ser rocha.

Eu sou rio.

Só rio.




(E com esse pensamento: sorrio)

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