segunda-feira, 22 de outubro de 2018

3 de setembro

Fecho os olhos e te vejo nessa cena...
Tá foda pra mim e é pior te ver assim. Aguenta. Resiste.
Deus ajuda quem cedo madruga e há semanas não dormimos...
Nossa hora deve chegar.

'Todo dia é una nostalgia das besteiras que fizemos ontem', você disse... Sem falar do peso das coisas que nem fizemos. Todo dia eh una promessa de novidade, mas a gente carrega a lembrança do que foi e a saudade do que não aconteceu...

Não é fácil. Toda segunda é 03 de setembro. O Museu queimado, o dia tão cinza quanto meu coração... Os olhos cada vez mais marrons, empoeirados de desesperança, escurecidos longe daquele brilho azul que os esverdeava de esperança e alegria...

Ninguém consegue tampar o buraco, além de ti ninguém aqui cabe. Buraco específico do caralho. Ninguém se encaixa. Todos são menores, tudo falta. E mesmo as pessoas incríveis são vistas desbotadas por esses olhos opacos e ranzinzas.

Sobra tanta falta... Sobra tanta coisa pra dizer que me desespero...
Sobra tanto espaço dentro do abraço... Sei la...

Eu vou fingindo.
Fingindo que me engano, fingindo que acredito.
Fingindo que me interessam outras mãos na minha cintura.
Fingindo que não te procuro - com olhos que agora enxergam - na plateia.
Fingindo que não é por te amar que ainda repito suas onomatopeias e frases feitas.

Fingindo que não parece ter areia dentro desses olhos vermelhos de chorar no almoço...

Hoje eu não fingi e sinto que deu tudo errado. Deu?

Amanhã, vou fingir. Fingirei bem fingido que está mais fácil, mais leve, mais claro.
Que entendi, que aceitei. Que faz sentido. Que vou deixar você ir...
Fingir que o dia está bom e feliz e que há algo que eu queira celebrar.
Fingir que é dia de festa.

Fingir que não é pra você o bolo que faço. De prestígio. Aquele que tanto falamos durante o ano...

Vou fingir que me interesso pras perguntas que me fazem naquele aplicativo.
Fingir que ligo se são engenheiros ou advogados, pra que time torcem ou de que música gostam.
Todos tem seu nome e nenhum tem seus olhos.

Vou fingir que não sinto falta até mesmo do cheiro da sua casa.
Até mesmo dos seus cigarros que você nem mesmo fuma mais.
Fingir que não queria estar aspirando o pó do seu quarto, só pra podermos deitar no colchão no chão e nos amar, tranquilos.

Vou fingir.

Um poeta é um fingidor, já dizia Pessoa.
Eu nunca fui poeta, mas vou fingir que sou e vou fingir.
Fingir que não fui longe demais.
Nem que aguentei mais que podia. E fingir, principalmente, que não colocaria os rins a venda pra poder comprar a oportunidade de estar com você de novo.

Fingir que não desejo todos os dias que você apareça, simplesmente, e diga que não sabe como vai fazer, mas que não dá mais pra ficar sem mim.
Vou fingir amanhã, que não rezo todas as noites - quando isso obviamente não acontece - pra ter amnésia, pra me apaixonar pelo rapaz bonzinho que gosta de mim, pra não secar, pra que qualquer coisa aconteça...
Eu vou fingir que não vejo dia sim dia não passagens só de ida. Pra Portugal, pro Egito, pra Marte...!
E vou fingir que tem algo a mais que me impede de ir, além de esperar você.

Vou fingir que cresci, que amadureci.
Fingir que desejo que você seja feliz com outra pessoa.
Fingir que quero que você me esqueça.
Vou fingir que te esqueci.

E beber e rir e falar alto.
E depois me enfiar naquele travesseiro que morava na sua casa e finalmente parar de fingir...

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