segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Flashback

A luz do sol vinha de fora e invadia o ambiente. Ela entrou e, momentaneamente cego pela luz, demorei pra vê-la por completo. Era só uma sombra, mas a cada passo - será que foi em câmera lenta? - foi surgindo uma garota. E em seu rosto, um sorriso lindo...


*

A sua mão repousa gentilmente sobre o cós da minha calça e eu, prendendo a respiração, torço para que seus dedos escorreguem um centímetro para cima e toquem minhas costas nuas. Quando isso acontece, sinto a energia que sai de você e vem em disparada na minha direção - e me arrepio. 

As vezes me distraio e assusto com a maciez das suas mãos - não me lembro com clareza do toque de mãos que não fossem de alguma forma calejadas - e quando elas percorrem meus braços me sinto duplamente acariciada. 

Eu me lembro daquele encontro inesperado que fez seu corpo tremer. Das palavras repetidas mil vezes, gaguejadas, tropeçando ao sair da minha boca... Do domingo de manhã em que pagamos com um beijo a aposta de que valeria a pena... 

Volto pra realidade e lá está você me olhando com seus olhos calmos. Dá pra ver neles o filtro de gentileza com o qual me olha - e fico sem saber se realmente mereço. Afasto esse pensamento com um sorriso, que você retribui.

O ar em volta é todo leve e mesmo no meio da multidão, estamos em total silêncio. Vez outra um fala, mas sem a obrigação de dizer nada. As palavras não vêm numa tentativa de preencher o desconforto - pois não há. A gente consegue não dizer nada e isso é um alívio. Por dentro, minha mente ferve palavras que virão a compor esse texto, um dia.


Deito a cabeça no seu ombro e continuo silenciosa, reparando no desejo que vem e vai. Quando me abraça, sinto seu coração galopante contra a minha costela. O meu meio que pára pra ouvir o seu, que acelera mas nunca perde o ritmo...


De teletransporte, de carro, de mãos dadas. Mãos que se soltam e se buscam sem urgência. Tudo acontece devagar. Os anseios, os medos e flashbacks vêm um atrás do outro, se mostram e se despedem... Não temos pressa. A única coisa rápida é a forma com que você abre o vinho. Que destreza...


E, gole a gole, o vinho sobe à face, os olhos queimam. Você repousa a garrafa e me toma pelas mãos... Me me abraça e finalmente, novamente, toca minhas costas nuas. É imediato o suspiro...
O arrepio.


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