quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

a delícia de viver tudo o que a gente sempre quis

('Hoje, o que tem feito você feliz é o fato de você poder fazer o que você gosta, cuidar das suas coisas, cuidar de você', me lembrou meu terapeuta, como se eu pudesse esquecer a doce sensação de amar o que eu faço e, fazendo essas coisas, me amar também...)


Tenho tido uns momentos de me olhar e falar "Nossa!" surpresa com a surpresa de me achar surpreendente. E mais: uns momentos de sorrir toda boba, com o olhar perdido no verde e azul do horizonte. E uns outros de cantar umas músicas ou só ir tomar café no sol do quintal, totalmente em paz. 

Diversas aulas de dança, aquele filme sobre Modigliani, o show dos Filhos dos Caras, o café com bolo na casa dos afilhados, o café com o velho amigo, uma peça de teatro sobre Chopin, decidir ir no cinema meia hora antes - e ir. Bloquinhos de carnaval, álcool e marchinhas. Fantasia idiota em praça pública. Sair de casa de turbante e sapato dourado. Ler. Estar cansada e poder simplesmente ir pra casa. E valorizar cada instante largada na cama que ficou anos sem me aconchegar tão bem... 

Mas...

Falta alguém pra dividir a paz, sabe. Pra poder ser besta junto e dividir uma boa caixa de bis. Alguém pra ver um filme novo, discutir Caetano e morrer de rir. Alguém que seja tão aberto e tão direto e tão disposto a se deixar conhecer quanto eu... Que não tenha receio de se mostrar, de se doar, de investir. Que não tenha problema em ouvir e nem em falar. Alguém que descomplique as coisas, ao invés de complicar. Alguém com quem um café preto em copo americano vire o ponto alto do dia - e não só pelo café. 

Se não for pedir muito, um alguém com um abraço bem gostoso, daqueles que encaixam e preenchem todos os espacinhos e fazem a gente se fundir por um momento, mergulhando no cheiro daquela curva no fim no pescoço... Alguém com quem valha a pena ficar de conchinha, no aconchego de uma noite preguiçosa ou uma tarde de domingo. Mas não só. Alguém que, ao ouvir 'estou comprando ingressos pra um tributo ao Belchior que vai ter no Sesc', seja capaz de demonstrar sincera empolgação e não questionamento - que? quem? quando? mas quanto? não, pera. 

Sempre quis alguém leve, apesar de toda a bagagem assustadoramente pesada - como eu. E que, como eu, tivesse um olhar calibrado pras coisas boas e o foco na honestidade. Alguém que me olhasse do jeito que eu sei que mereço. E pra quem eu olhasse daquele jeito intenso sem receio de derreter (mesmo derretendo um pouco)... Um alguém com os olhos doces, mas com o olhar profundo.

Dizem que como você se ama é como você ensina os outros a te amarem... E essa é a grande sacada. Não estou aqui pensando nesse alguém porque me sinto mal de alguma maneira por não tê-lo. Mas porque meu sorriso já aberto se abre ainda mais se ele estiver. E porque, sei lá por quê, as coisas parecem mais simples e leves e gostosas e urgentes.

Tenho me feito feliz com meu amor próprio, que por anos me neguei. Cuido de mim, presto atenção nas minhas necessidades, nos meus desejos, no que me é importante ou não. Tenho paz. Tenho tempo. Tenho energia. Tenho disposição. Tenho minha casa e minha família - não outra, emprestada. Tenho minha rotina, meus horários, minhas prioridades... E, de repente,... tenho me encantado com a possibilidade de encontrar uma pessoa disposta, naturalmente, a compartilhar dessa minha complexidade. Alguém que, ao menos aparentemente, se encante com toda essa multiplicidade que me compõe... E, tão importante quanto, alguém disposto a se compartilhar comigo. A me inserir na sua rotina, na sua história, de um jeito especial. Alguém disposto a se deixar surpreender por textos, músicas, danças, showzinhos no Sesc, palha italiana, pastilhas pra dor de garganta e mimos em datas importantes.

Alguém disponível. Alguém disposto. A entender meu tempo. A me explicar o seu. 

Alguém que não tem pressa, mas que, definitivamente (de um jeito que me faz explodir de satisfação) também não perde tempo. Alguém que ame o que faz tanto quanto eu amo o que eu faço e que, portanto, entenda: os sacrifícios, os esforços, a dedicação, as horas extras, os fins de semana preenchidos... E que, de certa forma, se orgulhe do que eu me orgulho tanto: de sermos capazes de ir atrás dos nossos sonhos. 

Alguém que não precise me prender pra sentir que sou dele. Que não precise fazer exigências, mas que se sinta sempre confortável em expressar seus sentimentos. Alguém que pergunte (e ouça!), antes de acusar. Que entenda minha dificuldade de falar sobre certos assuntos.  Alguém que dez dias depois de conhecê-lo me faça pensar em ovos de páscoa caseiros e em sobremesas preferidas e almoços de família e viagens de fim de semana. 

Alguém que não se assuste com a minha intensidade. Com meu jeito objetivo de dizer as coisas e a minha sutileza de elefante em loja de cristais ou meu mau humor antes do café ou na hora da fome. Alguém que não se incomode que eu seja quem eu sou... Nem com os meus textos assustadoramente apaixonados (SEM OR)...

E que, principalmente, alguém que se sinta melhor ao meu lado. Alguém a quem possa acrescentar: leveza, alegria, auto conhecimento, vivências, amor (quem sabe?).







"O que vai acontecer com a gente eu não sei. O que eu sei é que o que quer que aconteça vai ser muito bom."

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