quinta-feira, 29 de maio de 2014

Será Bem Vindo Qualquer Sorriso

Então, eu fui sozinha na Virada Cultural. No fundo, sabia que ninguém mais deixaria o conforto da sua casa num domingo como aquele, chuvoso e frio, só para fazer companhia para uma amiga com o coração ainda mais gelado. De fato, eu compreendi e não esperei. 

Mas, pra quem não tem paciência pra si, é muito difícil ficar sozinha e fazer coisas sozinha, por mais que se queira. Mesmo assim, caminhei sob meu guarda-chuva até a rodoviária e entrei no ônibus sozinha. Num daqueles bancos individuais, fui sozinha pensando na vida. Tentei escrever algo que fizesse sentido. Escrevi "fds é foda" pra ver se surgia então alguma empatia pela minha saudade. Como não surgiu, gastei alguns minutos com pensamentos negativos, de raiva e rancor. Sozinha, pensei em coisas tristes e me senti mal. Sozinha, desci do ônibus no meu destino e de novo abri o guarda-chuva. Caminhei sozinha , subindo a rampa e atravessando a catraca. A moça revistou minha bolsa e me deixou entrar. 

Nesse minuto, ouvi o grupo de dança Shangri-la ser apresentado. Pensei "cheguei bem na hora!" e corri pra dentro do salão. Assisti com olhos atentos, arregalados e brilhantes as coreografias. E senti vontade de dançar junto com elas. E acho até que dancei. Bati pés e palmas e sorri e gritei. Gente, vocês não sabem que, quando começa do derbakão, se o público bater palma no ritmo direitinho, que a bailarina dança mais sorridente e bonito? E aquelas moças da dança cigana? Tão felizes... tão sorridentes, tão completas!! Vou ser feliz quando conseguir transmitir aquela alegria, aquela paz, ao dançar...

Depois, logo em seguida, veio a Companhia de Dança de Jundiaí. Je-sus. Depois que acabou eu peguei o meu queixo, que estava caído no chão. Que sutileza! Que leveza, que delicadeza... Que beleza! Gente, dança, pra mim, é assim. Não importa o quão profissional você é ou deixa de ser. Se você dança com o coração, eu sei. E eu gosto. Simples assim. E aquelas moças e moços... eles dançaram com o coração e com a alma, antes de pisar com suas meia-pontas altas no chão.

Eu babei, me emocionei, sorri. Eu gargalhei como há muito não fazia. Alegria pura. Da mais simples e pura.

Depois, veio a Academia Art no Ar com a triste notícia de que os bombeiros não tinham liberado a escalada da arte até o teto. Fiquei decepcionada, no começo. Queria ver a apresentação de tecido acrobático. Mas eles encantaram minha alma de um jeito lindo. Palhaços, mulheres elásticas, sapateado, dança, malabares e sorrisos - dos quais os meus eram sempre os maiores. Ganhei uma rosa do palhaço e que me foi tomada pela palhaça ciumenta. Ao fim, quando fui elogiar a dona da academia, ganhei a rosa de volta, acompanhada por um sorriso dela também.

Depois, um intervalo para o almoço: dois dos maiores e mais recheados pasteis do mundo, devorados com alegria, sentada em um banquinho de plástico, sozinha. Fiquei surpresa com a qualidade. Normalmente em festas, o pessoal vende comida a preços absurdos e não se preocupa muito com a qualidade, devido à falta de opções que obriga os presentes a comer o que tiver. Quando fui devolver a bandeja, devolvi junto um sorriso e um elogio. 

A senhora me sorriu de volta, feliz.

Aí, uma banda de jazz depois, fui finalmente vê-la: Bruna Caram. Com seu sorriso, sua meia calça roxa e seus passos de balé. Seu rosto me lembra o de uma pessoa querida que há muito eu não vejo, mas que me dá um super abraço carinhoso toda vez que me encontra. E suas músicas me fizeram sorrir. O frio me gelava as costas, os pés e o nariz. Mas por dentro, meu coração se aquecia pela primeira vez em muito tempo, se sentindo acolhido por versos simples.

E eu ri e quis dançar e abraçar aquela moça por cantar músicas tão bonitas!

E por mais gelada e solitária que tenha sido a tarde de domingo, ela me ensinou que às vezes, o que precisamos, é fazer amizade com a gente mesmo. Ser nossa melhor companhia. E fazer o que temos vontade, porque as oportunidades passam e não voltam. Nunca haverá outra tarde de domingo como essa. Com essas cores, essas músicas, esses sorrisos. Mas outras virão: melhores ou piores, geladas ou quentes, solitárias ou não. E cada momento deve ser vivido de acordo com o que a vida nos dá. E de cada um, devemos tirar nossas lições. E dar nosso melhor.

Fiquei feliz de estar lá. 

E daqui pra frente, só posso garantir uma coisa com toda a certeza: será bem vindo QUALQUER sorriso! E como diz Bruna Caram: "bem vindo, bem vindo, bem vindo, bem vindo, bem vindo, bem vindo..."

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