sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Ahhh...

O tempo passa e, de repente, percebemos que paramos de passar as mãos nos cabelos e nos fazer cafuné para não deixar os fios oleosos. Nos culpamos por cada batata frita saboreada porque sabemos que vamos ficar com a pele feia - mesmo regozijando com cada mordida. Com o tempo, deixamos um compromisso para ir a outro e começamos a nos punir mentalmente por não poder estar em dois lugares ao mesmo tempo. Esquecemos aquelas coisas que gostamos de fazer, mas que "não nos trazem nada de bom" além de um bem estar pelo qual nos sentimos mal, afinal, com certeza tínhamos outras coisas pra fazer. 

Com o passar dos anos, passamos a ler cada vez menos, a comprar roupas que não temos onde usar e sapatos bonitos e desconfortáveis. Enquanto isso, o colo do pé se enrijece a cada passo não dançado. Os ombros estalam, a cabeça dói. A Mini Horta que você tanto queria fazer com seus temperos preferidos vai sempre ficando pra depois. Passear com o cachorro? Salão de Jornalismo? Museus? Ou mesmo não fazer nada o dia todo, estirada embaixo de uma arvore, com a cabeça apoiada nas mãos, parece ser uma ideia absurda.

Cada dia mais, sinto a necessidade de me exercitar - mas sem a pressão de virar panicat no terceiro mês - de dançar, de ler, de não ter nada pra fazer. Me afastar das coisas do mundo e cuidar de mim. Do meu espírito, da minha alma.

Queria poder escolher. Escolher não fazer nada, escolher desligar o telefone, escolher mudar de canal. Queria uma vida mais Cult, mas mais Light. Queria sim poder passear com o cachorro, cuidar da Horta, pisar na grama, cozinhar aos Domingos pras pessoas que eu amo. E de vez em quando, passar o dia inteiro em meditação silenciosa junto de Clarice, Pessoa, Dan, Joanne, Zafón ou outros, sem precisar falar com mais ninguém.

Queria poder escolher quando largar tudo pra ajudar alguém, mesmo se não fosse problema meu. Poder escolher quando sumir do mapa pra ver um amigo distante.

... No fim das contas, a cada dia fazemos mais o que esperam de nós e menos o que esperamos de nos mesmos. Deixamos pra trás nossas vontades mais simples para cumprir horários, metas, prazos, expectativas...

E se você acha que essa cobrança toda vem do mundo? Do vizinho? Do namorado, chefe, das amigas ou da mãe? Muito se engana. A gente se faz de vitima, mas no fim das contas, os culpados somos nós mesmos. Que nos exigimos além do que podemos cumprir. Que nos diminuímos, que podamos nossos sonhos, que tememos o salto sem paraquedas assim como um templo de calmaria e paz.

Maldito os que praguejam o oito e o oitenta e pregam aquele maldito equilíbrio, aquela inalcançável perfeição.

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