terça-feira, 21 de julho de 2015

Desabafo online, como manda o figurino

Se tem algo que me tira do sério é gente com síndrome de vira lata. Sabe quando a grama do vizinho é mais verde? Então. Mas a síndrome tem duas versões: o coitadinho e o revoltado. 

O coitadinho vê a si e às suas coisas como desprezíveis. Não sabe fazer nada, não consegue fazer nada, é feio, não sabe conversar, não tem jeito pra se relacionar, as pessoas não gostam dele, não é tão culto nem tão interessante - não importa o quanto você diz o contrário. E tem o revoltado. O Vira Lata revoltado é aquele que acha que tudo no mundo não é suficiente. Do tipo que reclama do buraco no asfalto, do ônibus que passa em cima do buraco, de ter que pagar pra andar em ônibus que passa em cima de buraco do asfalto, de não ter nem ar condicionado nos ônibus. "Na Suíça os ônibus tem ar condicionado, sabia?"

E o pior: o vira lata revoltado não tá contente com nada. Mesmo você provando que a grama do vizinho tá muito mais zuada do que a dele (e que ele tá lá enaltecendo uma porcaria de grama), ele olha pra você com aquele olhar de ódio e inventa uma asneira pra provar que você está errado.

E, pior ainda, o vira lata normalmente não levanta a bunda do sofá pra tentar melhorar a situação da própria grama. Fica lá: invejando a grama do vizinho (sendo ela mais verde ou não) ao invés de trabalhar pra melhorar a sua ou pra enxergar o quão boa ela é. E, puts, o vira lata nunca, nunca mesmo, faz as malas e vai embora - pra esse paraíso das gramas verdes e dos ônibus com ar condicionado e dos asfaltos sem buracos.

Não. Ele fica. Pra te aporrinhar.

E é aí que eu, com meu mau humor grau doze, me descabelo.

Porque primeiro, sou uma otimista. Segundo porque sou daquelas que acreditam que se você não tá feliz com algo você pode 1) mudar essa coisa 2) se livrar dela. Terceiro porque eu acho que temos que ter um pouco mais de respeito com aquilo que nós somos - nossa história, nossa identidade, nossa cidade, nossos conterrâneos, nossos colegas de trabalho - e, definitivamente, tentar enxergar seus pontos positivos.

O vira lata coitadinho não vê seus próprios pontos fortes. E Elis Pinheiro me disse: se você não conhece seus pontos fortes e não trabalha seus pontos fortes, você perde sua identidade. Perde aquilo que você tem de mais poderoso. Já o vira lata revoltado não vê pontos positivos em nada. Se chove, não dá pra lavar roupa, se faz sol se sente obrigado a lavar roupa pra aproveitar e hoje ele/a só queria ver Netflix. Sabe?



Cadê aquela gente bonita que valoriza a escola em que estudou, mesmo não sendo Princeton? Cadê aquele povo gentil que ama sua cidade, mesmo ela não sendo Nova Iorque? Aquela gente bacana que admira o português bem falado, mesmo não tendo o charme do francês? Cadê aquela gente boa que enxerga beleza na simplicidade, que consegue sair de casa e ir até o quintal e ver coisas bonitas lá pela primeira vez? Cadê aquela gente divertida, que não precisa ir na maior festa do mundo pra poder postar no Instagram que está se divertindo? Aquela gente ama o que tem, mas nem por isso deixa de correr atrás de coisas melhores?

Precisamos aprender a ter mais carinho com o que é nosso. Particularmente, sinto muito isso em relação à cidade que chamo de minha. Um brinde aos que a olham com carinho! Aos que enxergam beleza! Aos que entendem as potencialidades! Aos que conseguem ver além, enxergar mais longe, pensar maior. 

Alguém que consegue sentir as maravilhas qualquer coisa, de qualquer lugar, de qualquer pessoa - até de si mesmo. 

Um comentário:

Celso Duarte disse...

Concordo com tudo que você disse.Hoje mesmo aqui na Irlanda eu estava conversando com um Hondurenho, ele me disse que havia falado com um brasileiro, e este, lhe disse que preferia a Irlanda ao Brasil. De fato, pais da Europa, outra cultura e educação. Mas eu disse ao hondurenho que é uma coisa muito comum o brasileiro reclamar de tudo e não fazer nada para mudar, é um costume do povinho que se considera superior, mas eu disse a ele, que na verdade são uns babacas, porque problemas existem em todos os lugares, mas a diferença é o que você tenta fazer para mudar isso. “Há, eu jogo papel de bala na rua, é só um papelzinho; furo a fila no cinema, ninguém está vendo; pego o troco a mais que a caixa do supermercado me deu, que idiota haha; fura o sinal vermelho, dava tempo; voto nos mesmo candidatos todas as vezes, ele me pagou uma cesta básica (com o dinheiro que ele roubou do seu imposto seu idiota)”. Essas atitudes são normais de pessoas infelizes com suas vidas, e elas sempre vão existir, coitadas, sempre irão sofrem e passar o resto da vida olhando a grama do vizinho.