sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Só que não

"Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança. Mas só fico aqui parado, sem sentir nada, sem pedir nada, sem querer nada."

 (Caio Fernando Abreu)
 
A pior de todas as sensações é você acreditar que você não pode contar com ninguém. Só que não. Há coisas piores ainda, como você achar que pode contar e, de repente, não poder. As pessoas gostam de pessoas felizes, animadas, sem problemas, sem neuroses, dúvidas, medos ou desilusões. Na hora do perrengue, muitos vão embora. E quem pode julgar alguém por te deixar resolver sozinho seus próprios problemas? Acontece que eu não sou dessas que vai embora. Sou daquelas que fica. Que segura a mão, abraça e empresta o ombro pra chorar. Mesmo que, muitas vezes, eu preferisse estar sendo cremada a estar ali ouvindo lamúrias, eu sempre fico. E sempre, sempre, procuro ser atenciosa e dedicada e dizer algo que poderia ajudar. Se não há como ajudar, fico ali, quieta, tentando mostrar que aquela pessoa pode contar comigo, mesmo que eu não saiba direito como.
 
E é de morrer de espanto ver o quanto as pessoas não reconhecem esse esforço e não tentam, quando sou eu quem chora, perdida, ficar. Ficar comigo. Aquela coisa de 'pro que der e vier' e tudo mais. Sempre me achei boa amiga. E, do dia pra noite, o número de pessoas com quem posso contar, pra quem posso chorar meus pés na bunda e meus medos, diminuiram consideravelmente.
 
Não escrevo mais. Não danço mais. Meu corpo amolece a cada dia e meus pulmões fraquejam com a menor subida. Não me alimento direito, não consigo nem convencer meu pai de que eu posso pagar o pedreiro pra arrumar meu quarto. E nem sequer começamos a falar sobre pintá-lo. Toda vez que sento diante de um volante eu faço uma cagada. Cadê a garota que passou na prova de baaliza com tranquilidade e não perdeu nenhum ponto no percurso, fazendo apenas metade das aulas? Me sinto inútil. Não tenho coragem sequer de me matricular na academia. Não vou mais a igreja. Batizei uma adolescente órfã de mãe que não conversa comigo direito e que não vou conseguir orientar. Muito provavelmente, durante a vida, a verei tão pouco quanto vejo a minha madrinha.
 
Parece que tudo perdeu o charme, a cor, o mistério, a alegria. Não vejo graça em quase nada. Estou o tempo todo quase chorando, pensando em coisas ruins. Não gosto mais do meu emprego e passei o ano todo sem guardar um centavo pra arrancar os dentes do juízo (até porque, sem os dentes do juízo, simplesmente largaria tudo isso e partiria pra outra, sem ficar calculando aa segurança de ser concursada).
 
"Você jamais estará disposto a ser assustadoramente feliz sem estar disposto a sofrer assustadoramente."
 
(Gabito Nunes)
 
Continuo querendo coisas que não posso ter. A unica coisa que ando fazendo direito é limpar a pele e passar hidratante nas pernas (eu me sinto melhor). Desejo imensamente mudar de vida, mas não sei direito por onde começar. Quando estava feliz, animando, me encorajando, um idiota que eu tanto admirava me jogou do penhasco, se lixando pro meu esforço e pras minhas batalhas diárias pra ser um alguém melhor. Me empurrou lá de cima e me disse que nada do que eu dissesse o faria pensar diferente. Que todo o meu esforço não havia valido de nada. Que sou fraca. Não, ele não disse isso, que sou fraca, mas foi o que ele me fez entender.
 
E o pior é que eu vou ter que, de novo, fazer tudo sozinha. Resolver tudo. Achar forças e coragem pra recomeçar. Pra me reinventar, me reencantar pela vida.
 
Beijos, Jaqueline.
 

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