sábado, 6 de junho de 2009

“Capoeira: luta disfarçada em dança”

Por Jaqueline Defendi Rosa

"Capoeira é luta de bailarinos. É dança de gladiadores. É duelo de camaradas. É jogo, é bailado, é disputa - simbiose perfeita de força e ritmo, poesia e agilidade. Única em que os movimentos são comandados pela música e pelo canto. A submissão da força ao ritmo. Da violência à melodia. A sublimação dos antagonismos. Na Capoeira, os contendores não são adversários, são 'camaradas'. Não lutam, fingem lutar. Procuram genialmente dar a visão artística de um combate. Acima do espírito de competição, há neles um sentido de beleza. O capoeira é um artista e um atleta, um jogador e um poeta". (Dias Gomes)

A história da Capoeira começa na época em que o Brasil era colônia de Portugal e que se utilizava a mão-de-obra escrava africana, principalmente nos engenhos do nordeste. Muitos dos escravos trazidos pra o Brasil vinham de Angola, também colônia lusitana, que dançavam ao som de seus instrumentos.
Os escravos eram tratados nos engenhos como propriedade dos seus senhores e sofriam grande violência, açoitados e castigados, principalmente quando fugiam das fazendas e eram capturados pelos capitães-do-mato.
Surgiu como forma dos escravos resistirem aos opressores, além de praticar a sua arte, transmitir a sua cultura e melhorar o seu moral, mas, por serem proibidos de praticar qualquer tipo de luta, eles a disfarçaram com a música, adaptando os golpes com o ritmo e movimentos de suas danças.
A Capoeira era proibida no Brasil, por ser considerada uma prática violenta e subversiva e a polícia recebia orientações para prender os capoeiristas. Mestre Bimba transformou esse conceito quando - ao fundir a capoeira Angola que havia aprendido à sua criatividade, acrescentando golpes, movimentos e elementos do batuque - criou a Capoeira Regional. Ele apresentou esse novo estilo ao então presidente Getúlio Vargas, que gostou tanto desta arte que a oficializou como esporte, afirmando: “a Capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”.

Para entendermos melhor sobre esse esporte brasileiríssimo, eu conversei com o Graduado Fabrício da Costa Silva, mais conhecido como Palmito, pertencente ao Grupo Água de Beber (CECAB), que ensina Capoeira em Cabréuva nas academias Coiote e Podium.

J - Quais são os estilos da Capoeira?
F - Na Capoeira existem dois estilos: a Capoeira Angola, que teve como principal representante Mestre Pastinha, e a Capoeira Regional, criada por Mestre Bimba.
J - Quais as características da Capoeira Angola?
F - É uma Capoeira mais tradicionalista, os movimentos são na maioria das vezes lentos e rentes ao chão. É um jogo onde a malicia conta muito, por isso se torna tão ou mais perigoso que o jogo da Regional.
J - E da Regional?
F - A Capoeira Regional caracteriza-se por um jogo mais ágil, em que os capoeiristas ficam mais em pé. Esse estilo de Capoeira sofreu evoluções com o tempo, é o que chamamos de Capoeira Regional Contemporânea, pois a tradicional é praticada apenas na academia do Mestre Nenél (filho de Mestre Bimba), em Salvador. A Regional Contemporânea recebeu outros instrumentos, como o atabaque, e movimentos de ginástica, como os saltos e acrobacias. É o estilo mais praticado no mundo nos dias atuais.
J - Qual a importância da música na Capoeira
F - A Capoeira é a única arte marcial a ser praticada com musica, o ritmo diz aos capoeiristas como deve ser o jogo. Existem vários toques de berimbau, e cada toque pede aos capoeiristas um jogo diferente. Uma roda de capoeira com um bom ritmo faz com que os jogadores muitas vezes ultrapassem seus limites, já que a musica de Capoeira contagia mesmo quem esta apenas de passagem, assistindo a roda. Na Capoeira utilizam-se três berimbaus, cada um com uma afinação e tonalidade de som, atabaque e pandeiro, e em algumas escolas ainda há a utilização de agogô e reco-reco.
J - O que se aprende nas aulas?
F - Em uma aula de capoeira aprende-se todo o fundamento dessa pratica: golpes, acrobacias, defesas e movimentos desequilibrantes, além de aprenderem os instrumentos e músicas. Mas o mais importante é criar ao praticante uma identidade cultural com seu país.
J - Como funciona a graduação (troca de cordas)?
F - Cada escola tem seu método de graduar o aluno. Normalmente é feito através de cordas coloridas que são amarradas a cintura, sendo que cada cor representa a fase pela qual o aluno esta passando. O aluno recebe sua corda no evento em que chamamos de “Batizado” (lembrando que não tem nenhum aspecto religioso), que acontecem, geralmente, uma vez por ano. O aluno é avaliado no dia-a-dia de treino para receber a corda de acordo com seu desenvolvimento.
J - Quais são os benefícios que a Capoeira pode proporcionar para o corpo?
F - A Capoeira, como atividade física, é completa, pois trabalha o corpo todo, desenvolvendo todas as aptidões físicas: força, agilidade, equilíbrio estático e dinâmico, flexibilidade, resistência muscular... Além de trabalhar todo o sistema cardiorespiratório. Podemos dizer, também, que a Capoeira trabalha diretamente com a nossa auto-estima proporcionando, desse modo, uma nova forma de encararmos nosso cotidiano, com maior disposição e visão otimista.
J - Crianças, em especial, adquirem benefícios psicológicos com a prática da Capoeira?
F - Para a criança, a Capoeira tem um papel muito importante que é a de passar valores como disciplina, dedicação, respeito ao colega e aos mais velhos, já que a hierarquia é levada muito a sério. Além disso, tentamos através das aulas e dos bate-papos trabalhar diretamente na formação do caráter da criança, mostrando a importância de ser um bom aluno na escola e evitar caminhos errados, como as drogas. Nessa fase criança/adolescente é mais importante para nós formamos bons cidadãos do que bons capoeiristas.
J - Qualquer pessoa pode praticar?
F - A Capoeira é uma atividade que proporciona ao individuo desenvolver seu jogo de acordo com suas limitações. Ninguém joga igual a ninguém, portanto qualquer um pode praticá-la: homens, mulheres, crianças, idosos, gordos, magros,... não existe preconceito com nenhum tipo de pessoa e todos podem ter o prazer de praticar essa arte genuinamente brasileira.

Beeijos, Jaqueline.

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