terça-feira, 21 de novembro de 2017

Motivo (melancolia não dá ibope)

A gente finge que sabe o que quer por tanto, tanto tempo, e vai fazendo as coisas e tomando decisões, interpretando aquela pessoa que achamos que devemos ser... Temos todos os motivos, todos os argumentos, toda a lógica, todas as desculpas pra continuar agindo daquela maneira, seguir com o plano, com o jogo, com o baile.

Exceto pela infelicidade.

A carga vai ficando pesada. Em determinado momento, os argumentos não fazem sentido. Porque sempre tem um 'mas'. 

A infelicidade pesa.

A esperança vai. 

E tudo vira só melancolia.

As coisas boas ficam rasas. Os sorrisos, superficiais. O pessimismo toma conta e fica cada vez mais mal humorado o olhar. Mais devagar a caminhada até lá. Menos ansioso o encontro. Menos confortável a rotina. 

As coisas param de encaixar porque o peso do 'mas' desalinha ossos, músculos, alma e coração.

E nesse ponto, não há o que argumentar.

Contra fatos, não há argumentos, dizem. 

No entanto, as pessoas ainda se queixam da falta deles. 

Querem explicações para as coisas óbvias.

Julgam, sem tentar entender. 

Acusam, sem dar ouvidos. 

Ninguém gosta de mudanças. Ninguém gosta de instabilidade. Ninguém gosta de sair - ou ser forçado a sair - da sua zona de conforto. Ninguém quer se dar ao trabalho de ser feliz. Todos querem que a felicidade lhes caia no colo. Que a felicidade desabe sobre nós, de forma que não possamos nos esconder ou escapar. E querem uma felicidade não só indolor, mas eterna. Perene. Inquestionável. Pode querer mais, mas não muito mais. Afinal de contas você já tem o que precisa. O que tinha pedido. O que tinha sonhado. Não era exatamente isso que você queria?

Ninguém aceita muito bem ser deixado pra trás. Mesmo quando é você mesmo quem se deixa pra trás, de livre e espontânea vontade. Mesmo quando é você que pede pra ser deixado pra trás. Quando é você que não se aperfeiçoa ou, conscientemente, pede demissão (e aceitam). 

E cobram explicações. Justificativas. Argumentos...

Queremos entender. Queremos ter controle. Queremos ter certezas...

No entanto, às vezes, as coisas que a gente menos entende são, na verdade, as mais óbvias. 






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