terça-feira, 1 de outubro de 2013

De barriga cheia...

"Na vida a coisa mais feia
é gente que vive chorando de barriga cheia..."

Estou sentada na cozinha. Sem óculos. Com os pés na cadeira, com aquela calça horrorosa laranja, olhando pra minha caneca de leite com chocolate vazia e ouvindo Have You Ever Seen The Rain. Hum. E daí, né?  Estou aqui pensando... Como eu reclamo da vida. Como eu desperdiço minha criatividade tendo medo de dar sugestões idiotas ou de não dar certo. Estou aqui pensando como eu sou mesquinha. Sempre tão preocupada em inventar desculpas pros meus erros, torcendo para que as pessoas gostem mais de mim sabendo que foi sem querer. Hunf. Sou só uma garota cheia de espinhas, preguiçosa e gulosa, que não acha tempo pra si. Que não acha espaço nem no guarda roupas. Que se lamenta por não ir a lançamentos de livros em SP. Sou uma pessoa mais rasa do que me mostro. Não sou artista, não sou filosofa, não sou fotografa, nem escritora de verdade, nem dançarina de verdade. Sou um eterno desejo. Um insaciável querer: ser, ter, fazer, provar.

No fim, que importa? Quais cursos você foi, quais palestras você assistiu... Aquelas fotos escondidas na nuvem... Aqueles textos enfiados na caixa embaixo da cama, aquelas fotos fora do porta retrato? Os livros que você comprou e não leu, de que servem? Os que você leu e trancou no guarda roupas? Que diferença fazem estando aí? E aquele sapato amarelo que você comprou pela Internet, sem nem pensar na greve dos Correios? Hum? Talvez quando chegar o salto quadrado já tenha saído de moda...

Queria ser bonita e ter pele boa pra por fotos gatas no facebook. Ter cabelos longos pra me elogiarem na dança. Queria ser alta, ter pés bonitos, um guarda roupas grande,... Aí, um minuto depois, quero mais é viver de tênis e camisetas e que-se-danem-os-saltos-altos e viajar. Ou não. Melhor ler, escrever, publicar... O que?

Nesse segundo, nao ligo a mínima pro TCC, pro trabalho,... estou feliz com as pessoas que tenho. Com as coisas que posso conquistar, com o presente que comprei pra você de Natal. Com a ansiedade gostosa pré-viagem, com a diversão que tem sido dirigir. Com o vento batendo no rosto quando andamos de moto. Com a vontade de comer morango. Me contento em te fazer cócegas. Em esfregar o nariz no seu cabelo enquanto você dorme deitado no meu peito. Me satisfaço com pizzas requentadas, com vinho barato bebido na cama, em copos de requeijão. Me contento com shows da Nova Brasil, ouvidos do rádio em cima do criado mudo. Sorrio com promessas de fins de semana leves. De, quem sabe, um cineminha domingo a tarde. De te fazer ouvir minhas histórias por telefone.

Me contento com meu sono largado com meu travesseiro fofo, contando as horas pro fim de semana. Em salivar vendo foto de comida japonesa. Em surtar com o combo Gabrilli+Lacombe.

 Nós já temos tanto... Já somos tanto... Pra que querer ser a musa do verão? Fazer um show de poderosas? Pra que querer ter razão? Se o que importa é ser o que você ja é: você mesmo. Simples assim. Fácil assim. Com suas qualidades, seus defeitos, suas falhas, suas nobrezas...

"Cada um sabe

a dor e a delícia

de ser o que é"


J.

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