Cultura é tudo aquilo de que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. Revela-se no modo de falar, de sentar-se, de comer, de ler um texto, de olhar o mundo. É uma atitude que se aperfeiçoa no contato com a arte. Cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é o que modifica seu olhar.
Desde que nascemos, uma avalanche de informações e detalhes nos atinge. Vemos, sentimos e vivemos coisas que, sutilmente, formam a pessoa que somos. A isso chamamos cultura: o modo com que falamos, agimos e até pensamos, nosso caráter, nosso senso de certo e errado, nosso medo, nossa fé, nossa postura diante das situações mais diversas, o modo com que controlamos nosso corpo, o tom da nossa voz, a direção do nosso olhar... Todas as informações a nosso respeito que vão além da constituição física - cor, formato, grau de envelhecimento, sexo - é cultural. O fato de comermos é instinto - necessidade básica de qualquer ser vivo - mas quando passamos a comer utilizando garfos e facas passa a ser uma ação de caráter cultural.
Pode-se dizer, inclusive, que nossa cultura depende do local onde vivemos, da sociedade que nos cerca. E depende mesmo. Mas não exclusivamente, ou seríamos todos iguais numa determinada cidade ou região, visto que vivemos as mesmas coisas, vemos os mesmo lugares, seguimos as mesmas regras. O que, então, faz com que os seres humanos se diferenciem tanto culturalmente? A que nos expomos que nos transforma de maneira única, fazendo com que nos sintamos tão isoladamente ímpares que precisemos buscar com tanta intensidade um lugar para chamar de nosso? O que nos divide em tribos?
Se somos expostos aos mesmo estímulos, por que reagimos de modos tão divergentes? Por que alguns se indignam tanto enquanto outros não levantam sequer a sombrancelha? Por que uns continuam jogando lixo no chão, enquanto outros se estiram em frente a árvores para que elas não sejam derrubadas? O que será que transforma nossas opiniões? Nossas condições genéticas? Nossa família? Seria simplista demais afirmar que temos opiniões moldadas por nossos entes, como dizer que filho de político vira político e filho de bandido vira bandido. Simplista, generalizante e, como tudo com essas características, errôneo.
Será que são os livros que lemos? As músicas que ouvimos, os filmes que vemos, as aulas a que assistimos ou os bares pelos quais as trocamos? Será que é a TV? A tal da internet? Os amigos que fazemos? O modo com que nos apaixonamos? A religião que seguimos?
Será que são os conselhos que ouvimos ou são as pedras do meio do caminho que superamos? Será que se trata daquilo que aprendemos sozinhos? Das descobertas por acaso? Dos sonhos únicos que temos?
Tal qual nossa combinação genética, composta por vários tijolinhos de cores diferentes, com informações diferentes, que se unes e se cruzam e mutam - de maneira tão singular - e nos formam, nossas milhões de vivências, experiências, anseios, temores e paixões, tão minúsculas quanto milésimos de milésimos de segundos - tanto que nem nos damos conta - sinergicamente nos fazem nascer, como Deuses, sem iguais.
Um comentário:
Texto maravilhoso, adorei! *.*
Abraço
Nathy
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