Tive a oportunidade de conhecê-lo na III Jornada pelo Tietê e conversamos por volta de dez minutos. Posso dizer que ficamos amigos. Já me chamava de Jaque. Acabou me convidando para um passeio ecológico na sua cidade natal, Salto. Na hora, bateu aquela indecisão, aquela preguiça, mas todo mundo sabe que não se nega nada a crianças e idosos.
Então lá fui eu. Feriado em Cabréuva. Sete e meia: o despertador toca. Soneca. Sete e trinta e cinco: banho, café da manhã, carona. Fomos pra Salto e, incrível, chegamos no horário. Faz um ano que viajo todas as semanas para essa cidade. O que conheço dela? O CEUNSP e a igreja que o defronta - aliás, conheço de vista, pois seu interior nunca desvendei.
E eis que estávamos nós, sozinhos com as árvores, as formigas, as larvas gordas e o Rio Tietê - que nos fez companhia o dia todo. Nossa primeira parada foi o Parque do Lago. Alguns operários podavam a grama e esse era o único barulho do lugar, que nos fins de semana recebe visitantes, que correm, caminham, comem e admiram o lugar.
Nos deparamos com árvores floridas, com o lago um tanto desoxigenado, cheio de plantas, alguns cogumelos, muitas formigas e umas larvas-lagartas de origem desconhecida que empesteavam uma pobre árvore. Vimos mudas e umas já velhinhas se decompondo. Vimos pássaros e borboletas. Ao contornar o lago, é possível caminhar ladeada por ele e pelo rio, ambos silenciosos. O Tietê não tem cheiro nessa região, só lixo - que pode ser visto em lugares tão altos que nos admiramos de pensar que, numa enchente, é lá que o rio atinge.
De lá, fomos ao Parque Rocha Mountonée. Um lugar que, antes de mais nada, me remeteu imediatamente à minha infância, a um dia sossegado que passei naquele mesmo lugar com a minha família. Fizemos uma trilha incrível. Borboletas, pedras e, não deu pra escapar, alguns mosquitos. Chegamos as margens do Rio Tietê. A cena de desdobra em duas: de um lado, o parque, que bem ou mal está limpo, e do outro o rio, que corre arrastando garrafas PET, pedaços de isopor, tênis, bolinhas de ping pong, esgoto e resíduos industriais - como aquele mar negro que não para de jorrar da fábrica de papel.
Nós, que vemos os dois, ficamos como crianças imaginando coisas que não conhecemos, crendo que um dia poderemos ver o rio correr translúcido, forte e carregar em seu seio, abençoado por Gaia, vida nova.
No Parque de Lavras, onde há também o Museu de Lavras, a imagem de Nossa Senhora do Mont Serrat (que é maior que o Cristo redentor... quer dizer, você já viu ela em pé?) e a antiga Usina de Lavras, diz o poeta que 'tinha um pedra no meio do caminho'. Lá, os matacões, pedras gigantescas provavelmente arrastadas e lapidadas por ações avassaladoras como avalanches de gelo, competam a paisagem. O rio, como em toda a região, faz esforço pra passar, em meio a tanto lixo reciclável, que seria muito melhor aproveitado (aliás, seria aproveitado) se não estivesse ali.
É um misto de dor e beleza. Ao mesmo tempo que é bonito é triste, é cinza, é sujo. Queria ver a fábrica de papel jogar tanta água preta no rio se alguma lei fechasse suas portas e a obrigasse a tratar seus resíduos. Queria ver você jogar uma garrafinha de água no chão se depois a água que chegasse até a sua casa fosse toda contaminada. Se da torneira saíssem pedacinhos de isopor.
E me perguntam porque eu economizo papel. Porque, queridos, quanto maior o consumo maior a produção. E quanto maior a produção, maior o lixo.
O mais incrível e chocante é, com certeza, ver, não a destruição, mas a força com que a natureza tenta revidar. Ver que o rio, por mais degradado, por mais poluído, resiste. Os peixes estão lá. A mata está lá. A terra, os bichos. E vocês me perguntarão se não é bobagem essa guerra toda por um rio que, bem ou mal, está vivo. E direi a vocês que não questionamos se ele ainda respira. Nossa preocupação é por quanto tempo ele vai aguentar...
Beeijos, Jaqueline.
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