segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

E é o fim daquele medo bobo

Todo dia tenho um pouco de medo de te perder. Um receio que da um apertão no peito e me faz pensar por uns momentos que talvez você me deixe outra vez. Acontece quando fico sem notícias ou sozinha por muito tempo. Talvez por isso mal te deixe dormir e queira te ver todos os dias.

Acho que ainda me surpreendo com a verdade. Acho que ainda duvido um pouquinho que eu mereça tanto...! No fundo, sei que sim, porque esse amor é recíproco. Mas meu lado apavorado e pessimista fica pensando por quanto tempo você amará a bailarina ansiosa com zumbido no ouvido.

Eu, no entanto, conhecedora das minhas próprias neuroses, tenho umas táticas infalíveis pra esquecer tudo isso. Me enfio no meu canto preferido: dentro do seu abraço. Chego de surpresa e olho sua expressão se transformar de felicidade ao me notar. Ouço você cantando pra mim, dizendo que está apaixonado ou com saudade. Resgato as declarações de amor e me derreto.

E vinte minutos com você tem o poder de salvar meu dia...! E de repente, já estou pensando em presentes de natal, móveis planejados e jantares a dois, três (ou, no futuro, quatro...).

Penso dia e noite em dividir a vida com você e torço pra que isso aconteça! São pensamentos como esse (tão simples como imaginar a compra do mês...) que tiram de mim o medo bobo. Pois quando estou com você sei que estou no lugar certo, na hora certa, com a pessoa certa.

E é como eu digo: quando seu lugar de paz não for um lugar (mas alguém) fique. Aproveite. Desfrute. E ame de volta com todas as suas forças.

"Cada dia tenho mais convicção sobre você..." e tenho mais convicção sobre nós!

Porque seus olhos brilham enquanto você caminha pra mim, no fim da dança.  
Porque você diz que vai pegar orçamento do box do banheiro e pega! 
Porque você me olha nos olhos e não tem pressa de ver outra coisa.
Porque você se preocupa comigo e meus zumbidos e ansiedades.
Porque você me faz rir, me faz acreditar, me faz mais serena. 

Você me ensinou que 'primeiro as primeiras coisas' e até agora não acredito que aprendi!! haha
Você me faz ser mais proativa, mais divertida, mais tranquila, mais grata...! 
Você deixa mais leve o peso do meu coração...



Neoqueav.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

quando seu lugar de paz não for um lugar... fique

Você tem flores na cabeça e pétalas no coração, tem raízes nos olhos, excitação, acalanta o meu coração... 

Disse ontem que até dormindo você me ama. Acorda com um olho só pra ver se estou bem acomodada no travesseiro improvisado. Me abraça entre um ronco e outro e balbucia que seus braços doem do trabalho até mais tarde e que é por isso que você não me abraça mais forte... Quando acorda abre os braços bem abertos e depois os fecha em volta de mim, como quem nunca mais vai me deixar escapar dali. Seus olhos sorriem pra mim e até no escuro posso ver... 

E é assim. A gente funciona. Você faz espaguete enquanto me arrumo pra um show. Eu faço café pra você conseguir acordar pro vestibular. Monto lanches enquanto você se arruma pro trabalho. E você verifica se estraguei mesmo minha espada de dança com minha falta de cuidado. Você mede meu apartamento e me faz sentir segura com coisas que eu não faço ideia de como lidar e eu penduro suas tolhas no sol... 

Seu queixo se encaixa no meu ombro e minha lombar se encaixa na sua barriga e esse é o meu lugar de paz, com as suas mãos em volta da minha cintura e meus olhos fechados e o sorriso aberto.

Eu olho pra você e agradeço... Pois quando meu ouvido zumbe você me aninha nos seus braços e me faz cafuné, até que eu durma. E você não tem frescura e me liberta com seu chinelo e meia. Me autoriza a ser simples, a ser menos nutelinha, me faz ter vontade de acampar...

Eu olho pra você e agradeço... A cada passo dado que me trouxe até aqui. A cada passo seu que te fez ser quem você é (qualquer outra pessoa teria brigado com quem queimou o guardanapo e estragou de vez o aspirador de pó). A vida é leve e simples ao seu lado. Gostosa, agradável e cheia de risadas...





E eu só penso em cuidar de você e deixar você cuidar de mim...
Que sorte a nossa...!

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Xiu

Não grite felicidade
Pois a inveja tem sono leve
E te vigia quando acorda

Não gargalhe felicidade
Pois o ódio é a bibliotecária
Meio cega
Que lê em silêncio

Não aumente o volume
Nem da felicidade nem do amor
Que só você tem que saber
Do que se passa em você

Não grite empolgação
Que logo vem
O balde de água fria

Não compartilhe ansiedades.
Foque.
Olhe pra sua mão
Pro celular
Pra dentro.
É lá que tem que estar a informação.
A certeza tem que estar em você.

Só você viveu.
Só você sentiu.
Só você soube...

Quem antes não se importou em saber
em entender
em estar perto
que se dane!

Seja dona das suas verdades.
E sustente suas decisões
Sem esperar pela validação.

Tape os ouvidos e os olhos pro que não te leva pra mais perto de onde você quer estar.
Tape os ouvidos e os olhos pro que não te deixa em paz.

E morda a língua antes de gritar felicidade.
Não grite felicidade.
Ainda.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

forte sou, mas não tem jeito

estou só e não resisto: muito tenho pra falar

Acabei de ver uma daquelas campanhas sensacionais da Dove, sobre fortalecimento de auto estima, e apareceu escrito "nem sempre o que elas falam é tudo o que sentem". História da minha vida.


'Pra namorar com você o cara tem que ter três bolas', me disseram.
Eu ri, porque é bem verdade que eu não sou uma pessoa fácil. Daí senti que precisava escrever sobre o assunto...

Depois, fiquei sabendo que era um elogio, mas aí o texto já estava escrito e não se pode voltar atrás com a palavra dita...

Bom, eu poderia simplesmente dizer que sou escorpião com ascendente em capricórnio e lua em virgem e encerrar esse texto. Mas vamos lá falar um pouco sobre mim.

Eu não sou exatamente uma pessoa fácil e, por isso, tenho uma tendência desgastante (pra mim) de querer facilitar a vida da outra pessoa, como se isso fosse tornar a minha presença mais agradável (o que é uma bobagem sem tamanho, visto que eu sou uma pessoa agradável). Isso significa que, do café ao currículo, da faxina ao muro das lamentações, de levantar sua bola pra você ser mais positivo (mesmo eu sendo uma pessoa pessimista e mal tendo otimismo pra mim) a reorganizar a minha agenda louca pra estar com você, de divulgar o seu negócio pra sua vida financeira melhorar a pensar nos seus boletos que vencem hoje e você provavelmente esqueceu: eu faço tudo. E faço não porque você pediu, ao contrário: faço tão de coração que vou fazendo, vou ajudando, e quando vejo estou fazendo tudo pelo outro. 

Até aí você deve estar pensando como isso deve ser delícia. Como deve ser perfeito ter alguém ao lado tão disposta a fazer tudo por você. Tenha calma, jovem. Não estou falando do seu lado da história.

Acontece que o pulo pro outro lado da fronteira é muito fácil de dar.

O primeiro pé, é bem rápido: eu faço tanto pela outra pessoa que espero ser retribuída na mesma moeda. E é aí que nasce a frustração - o segundo pé. 

Sobre o primeiro: ser eficiente me faz ser insuportavelmente exigente. Por dentro eu fagulho, querendo mais. Mais olhar, mais atenção, mais tempo na sua agenda, mais organização, mais memória sobre as coisas importantes, mais demonstrações, mais abraços inesperados, mais animação, mais palavras escritas, mais. Mais você na minha casa, mais você nos meus shows, mais você nos meus planos. Por fora, um eu-blasé que jamais falará uma palavra enquanto suportar segurar, porque - lembram? - eu quero ser uma pessoa fácil de lidar. E sigo fazendo tudo. Cálculos, planos, balizas, contatos profissionais. Eu acordo mais cedo, durmo mais tarde, fico dias fora de casa com uma sacola de roupas, volto de viagem e vou correndo pra você. E não exijo nada. Não cobro nada. Fico em silêncio, pra não incomodar, não pesar, não doer, não afastar. Mas por dentro eu estou gritando...! 

E eu não quero mais pouco

Eu forço a barra. Eu sou uma pessoa presente demais. Eu sou tudo ou tudo. Não sei deixar a pessoa quieta no canto dela e não sei ficar quieta no meu. E eu sou escorpiana né. Eu simplesmente sei quando você diz que está tudo bem, mas não está. E o simples fato de você não querer me falar, não ter me falado sem eu perguntar e insistir em não dividir o que está acontecendo quando perguntado acende luzes vermelhas e me faz desejar essa informação até o inferno. Afinal, tá escondendo o que? Hein? O que tá pegando que você não quer me falar? Então você não confia em mim pra te ajudar com os seus problemas? Então você tá me escanteando? Então eu só sirvo pra beijinhos e carinhos sem ter fim e na hora do vamo ver você fica aí carregando o mundo nas costas? Se eu não pergunto você não me fala né?  Hein? É isso que é namorar pra você?!?!

(risos nervosos)

Quando você me conhece, me ouve reclamar da minha rotina, dos meus quatro empregos e do meu cansaço. De como tudo o que eu queria era dormir até meio dia ou passar o domingo de pijama. O que é verdade - até o capítulo dois. Me deixar por meses de pijama pode te custar caro. Chega uma hora que nem pentear o cabelo eu penteio mais. Não uso mais salto alto e viro parte dos móveis, igual aquela propaganda da OLX. Até que chega o momento em que eu simplesmente não aguento mais. E preciso sair. E de novo: pode deixar que eu dirijo e pago a conta. Não se preocupa não. Só vai comigo e fica feliz de estar comigo ouvindo uma música boa. Já tá ótimo pra mim!

E eu vou morrendo por dentro conforme a lista de coisas que eu faço com você e seus amigos vai ficando maior do que as coisas que você faz comigo e meus amigos - e essa diferença sempre cresce tão rápido e, quando eu vejo, só tenho os seus.

Sim, já aconteceu.

Eu sou prolixa. Falo demais, penso demais, sinto demais, pergunto demais. Sou um mar de perguntas desnecessárias, fui criada na filosofia. Sou medusa, petrifico com o olhar, ergo as sobrancelhas, julgo a roupa que você escolher pra sair comigo. Sou metódica, quero combinar tudo nos mínimos detalhes e tenho uma incapacidade enorme de trocar o planejamento pelo imprevisto. "Chegando lá a gente vê" é pedir por infarto.

Quero amar falando até a madrugada, conhecer todos os seus fantasmas, te reconhecer de longe, do avesso. E, mesmo assim, não sou tão simples assim de me deixar conhecer. Não vou te contar de cara qual foi a pior coisa que já fiz na vida e nem de qual mais me arrependo. Meus segredos você precisa conquistar... Mas quero os seus no primeiro encontro.

Coitado de quem se interessa pouco

Outra coisa é que, comigo, não é muito inteligente o esforço dos primeiros encontros - aquela coisa da arte da conquista sedutora - porque eu vou querer que você mantenha o nível. Eu sou da estabilidade. Gosto do que é conhecido, por isso sempre me meto em relacionamentos duráveis. Se você foi romântico, surpreendente, gentil e atencioso no primeiro encontro vou querer que assim seja até o fim. Não vem com essa de 'acabou a novidade' ou de 'já conquistei'. Eu sou mulher de ser conquistada todos os dias. Isso significa que é preferível que você me conquiste sendo mediano constantemente do que sendo incrível por duas semanas. Ao menos se você estiver preocupado com o meu sofrimento... Só seja você mesmo. Não faça joguinhos de sedução. Não me dê flores se você não for o tipo de cara que dá flores, porque quando você esquecer nosso aniversário de namoro ou qualquer coisa do tipo, eu vou sofrer em dobro, porque você me deu artifícios para criar expectativas. Altas.

Aqui caímos em um terreno minado. Jesus, que talento pra criar essa tal de expectativa. Pra fazer planos. Pra pensar em tudo com um tom de eternamente...

Enfim. Voltando...

Sei que estou tentando reconfigurar a minha programação mental pra aprender a dar um pouco menos das minhas vísceras e deixar que o dito cujo que se dispuser a estar comigo tome um pouco as rédeas da coisa - e conseguir relaxar, confiante de que ele sabe o que está fazendo.

Quero aprender a deixar que o outro cuide de mim também, mesmo que esse seja um aprendizado complicado pra mim. Aprender a confiar que o outro também pode resolver as coisas, que o outro pode ser responsável pelos nossos planos ou escolher o que vamos almoçar no domingo. Deixar que  a pessoa no banco do passageiro coloque o halls na minha boca enquanto eu dirijo, pra não ter que soltar o volante ou tirar os olhos da estrada.

Tô tentando me desconstruir e abrir mão: do controle, das certezas, da ansiedade. Tô tentando não atropelar as coisas e nem fazer planos de pra sempre tão rápido (tô tentando há duas décadas e meia e falhando miseravelmente...). Tentando ficar sozinha no meu pra-sempre, pelo menos até ser inevitável ter companhia lá.

Tô tentando agir naturalmente. Tô tentando aprender com meus erros anteriores e deixar minha vida bem estruturada e o mais fortalecida e independente possível. Tô tentando não ter medo de ser insuficiente. Não ter medo de ser pouco...

Tentando não me cobrar tanto.
E - na boa - tentando cobrar mais de vocês.








Vai ter que rebolar muito pra por uma aliança no meu dedo, meu amigo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

3 de setembro

Fecho os olhos e te vejo nessa cena...
Tá foda pra mim e é pior te ver assim. Aguenta. Resiste.
Deus ajuda quem cedo madruga e há semanas não dormimos...
Nossa hora deve chegar.

'Todo dia é una nostalgia das besteiras que fizemos ontem', você disse... Sem falar do peso das coisas que nem fizemos. Todo dia eh una promessa de novidade, mas a gente carrega a lembrança do que foi e a saudade do que não aconteceu...

Não é fácil. Toda segunda é 03 de setembro. O Museu queimado, o dia tão cinza quanto meu coração... Os olhos cada vez mais marrons, empoeirados de desesperança, escurecidos longe daquele brilho azul que os esverdeava de esperança e alegria...

Ninguém consegue tampar o buraco, além de ti ninguém aqui cabe. Buraco específico do caralho. Ninguém se encaixa. Todos são menores, tudo falta. E mesmo as pessoas incríveis são vistas desbotadas por esses olhos opacos e ranzinzas.

Sobra tanta falta... Sobra tanta coisa pra dizer que me desespero...
Sobra tanto espaço dentro do abraço... Sei la...

Eu vou fingindo.
Fingindo que me engano, fingindo que acredito.
Fingindo que me interessam outras mãos na minha cintura.
Fingindo que não te procuro - com olhos que agora enxergam - na plateia.
Fingindo que não é por te amar que ainda repito suas onomatopeias e frases feitas.

Fingindo que não parece ter areia dentro desses olhos vermelhos de chorar no almoço...

Hoje eu não fingi e sinto que deu tudo errado. Deu?

Amanhã, vou fingir. Fingirei bem fingido que está mais fácil, mais leve, mais claro.
Que entendi, que aceitei. Que faz sentido. Que vou deixar você ir...
Fingir que o dia está bom e feliz e que há algo que eu queira celebrar.
Fingir que é dia de festa.

Fingir que não é pra você o bolo que faço. De prestígio. Aquele que tanto falamos durante o ano...

Vou fingir que me interesso pras perguntas que me fazem naquele aplicativo.
Fingir que ligo se são engenheiros ou advogados, pra que time torcem ou de que música gostam.
Todos tem seu nome e nenhum tem seus olhos.

Vou fingir que não sinto falta até mesmo do cheiro da sua casa.
Até mesmo dos seus cigarros que você nem mesmo fuma mais.
Fingir que não queria estar aspirando o pó do seu quarto, só pra podermos deitar no colchão no chão e nos amar, tranquilos.

Vou fingir.

Um poeta é um fingidor, já dizia Pessoa.
Eu nunca fui poeta, mas vou fingir que sou e vou fingir.
Fingir que não fui longe demais.
Nem que aguentei mais que podia. E fingir, principalmente, que não colocaria os rins a venda pra poder comprar a oportunidade de estar com você de novo.

Fingir que não desejo todos os dias que você apareça, simplesmente, e diga que não sabe como vai fazer, mas que não dá mais pra ficar sem mim.
Vou fingir amanhã, que não rezo todas as noites - quando isso obviamente não acontece - pra ter amnésia, pra me apaixonar pelo rapaz bonzinho que gosta de mim, pra não secar, pra que qualquer coisa aconteça...
Eu vou fingir que não vejo dia sim dia não passagens só de ida. Pra Portugal, pro Egito, pra Marte...!
E vou fingir que tem algo a mais que me impede de ir, além de esperar você.

Vou fingir que cresci, que amadureci.
Fingir que desejo que você seja feliz com outra pessoa.
Fingir que quero que você me esqueça.
Vou fingir que te esqueci.

E beber e rir e falar alto.
E depois me enfiar naquele travesseiro que morava na sua casa e finalmente parar de fingir...

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

aceite ser rio



Meu Deus. Se prepara pra um texto muito louco com várias histórias aparentemente desconectadas que a gente só entende no final o que uma tem a ver com a outra. Pelo menos a ideia é essa... Não me julguem se não der certo haha



Uns anos atrás, minha irmã tinha muitas espinhas no queixo. Internas, doloridas, eternas. Chegou um momento em que aprendemos que, na medicina chinesa, inflamações nesse local estavam relacionadas a problemas no aparelho reprodutor. Quando ela foi ver, tinha um enorme cisto em um dos ovários, o que desregulou seus hormônios e afins. Tratamento, cura. Mais espinhas. Mais cistos. Cirurgia. 

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Há semanas, venho tentando aprender a lidar com as minhas raivas na terapia e na vida. Nessa mesma fase, tenho tido no ouvido direito um zumbido irritante, sem nenhuma causa clínica. Segui negando veementemente a necessidade de lidar com raiva (afinal, que raiva?), mas, por confiança no meu terapeuta, também tentando trilhar esse caminho. Até que um dia, uma amiga que - parece-me - enxerga a aura das pessoas, me disse que eu precisava comer rúcula. E acelga. E coisas verdes e amargas, porque eu precisava cuidar do meu fígado. Ahn. Ergui uma sobrancelha. Fiquei de cara, olhando pra ela sem entender nada. Dei um Google e descobri que as tretas com o fígado são reflexo justamente... da raiva. Quando ela me falou isso sem saber de nada do que eu estava lidando, entendi que tinha mesmo que lidar com as danadinhas (e comer matos verde-escuro amargos e afins). Dei uns gritos, combinei de transformar a raiva em uma coisa artística, desabafei. Enfim. Estou no processo...

Eis que há uns dias, noto minha orelha direita inflamada. Infeccionada do brinco - apesar da pomada que resolveu o problema da esquerda - espinhas por dentro e por fora. Hoje, decidi pesquisar o que a Medicina Chinesa (a mesma que diagnosticou o problema silencioso dos ovários da minha irmã) tinha a dizer sobre espinhas na orelha: problemas nos rins. 

Pensei das minhas idas e vindas à Santa Casa no fim de 2012 e depois no começo de 2013, com cólicas insuportáveis nos rins e nenhuma pedra... Meses complicados para mim... 

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Sábado passado, um ensaio de dança me levou de volta à rotina com as amigas. Carro, almoço, dança, carro. Papos aleatórios. Falávamos sobre signos. Eu, escorpiana. Elas: duas librianas e uma geminiana. Comentei que o elemento do meu signo era a Água. Uma delas se assustou, comentou que achava que era Fogo. E aí no papo vai papo vem de amigas, abrimos um site sobre os elementos e os signos. 

Água - os signos de Água geralmente têm uma predileção pelo mar, pelo contato com a água, adoram natação, hidroginástica e reencontram a serenidade e o bem-estar quando estão junto do seu Elemento. 

Lembrei das minhas tardes à beira mar em Cascais... Poderia ir pra qualquer lugar de Portugal e até mesmo dar um pulo na Espanha, mas deitei naquela areia e ali fiquei. Eu esqueço disso com uma frequência maluca, mas meus dias de maior paz e serenidade são aqueles na beira d'água. Ali, em frente ao mar ou à piscina ou ouvindo o barulho da chuva, eu consigo silenciar minha mente e meu coração. E não fosse a professora me tratar como se eu tivesse oito anos, estaria até hoje nas aulas de natação, tamanho o bem-estar. 

Estes signos são volúveis, fluem como a água e não gostam que os prendam, mas levam sempre consigo as suas memórias, o passado que fez deles quem hoje são, a sua intensa densidade emocional. Como o mar, que é tão profundo que não conhecemos aquilo que se esconde nas suas extensas profundezas, também os nativos destes signos são pessoas muito profundas, cujos sentimentos e pensamentos são difíceis de conhecer, muitas vezes até para eles próprios. A Água está ligada às emoções, e estes signos são os mais sensíveis e mais sentimentais do Zodíaco. Tudo os marca, e provoca neles uma marca que dificilmente esquecem.

Eu sempre digo: só me conhece quem me lê. E quem me conhece sabe como eu não descarto a importância das coisas que me aconteceram, mesmo as que me magoaram. Como eu acho que tudo acontece como tem que acontecer e como, pra mim, tudo é aprendizado: benção ou lição. Da intensidade ninguém duvida né. E de como eu raciocino com as emoções, também não.

Próxima parte do texto falava sobre a influência dos elementos na nossa saúde. 

Os signos de Água estão ligados aos processos mais profundos e a sua saúde pode sofrer com problemas digestivos, no aparelho reprodutor, com os órgãos internos e o metabolismo. A vida emocional é de tal modo importante para eles que são, também, sugestionáveis, sendo mais sensíveis a depressões e doenças psicossomáticas. 
Acreditem ou não: se não falo uma coisa que gostaria de dizer e essa for uma coisa que me angustia, imediatamente minha garganta dói. Somatizo com uma velocidade incrível... A ansiedade e a tristeza me doem o estômago, me enjoam, me fazem vomitar - como se quisesse com isso por pra fora toda a angústia que me habita.
Indiscutível...

.Ju Marconato fala muito sobre os quatro elementos e lembro bem dela falando que a água - na dança e na vida - está ligada ao improviso, à capacidade de adaptação, à fluência, à alegria. Ontem mesmo falei ao meu terapeuta sobre como, pra mim, a dança está ligada à essa entrega. Só vai e faz. Sem planejar, sem pensar. Em como meus momentos de improviso são mais ricos do que as minhas coreografias. 
Também comentei com ele - e outro texto virá disso - sobre minha incapacidade - já aceita - de escrever versos. Disse pra ele: eu abro o blog e lá eu me derramo. Não sei fazer isso em linhas pequenas, palavras contadas, rimas e regras. Não consigo fazer isso me contendo... Preciso de espaço pra me desabar. Como uma avalanche, uma enxurrada...

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Sei que resolvi pesquisar as causas emocionais de problemas nos rins, já que as espinhas estariam relacionadas a isso. Eis que a emoção que desequilibra os rins é o medo. Os ouvidos - aqueles que zumbem - são o canal de abertura dos rins, seja lá o que isso signifique. Raiva e medo. Água, que tem a ver com as emoções, é totalmente filtrada pelos rins, que escolhem o que fica e o que sai. Se as emoções ruins não são excretadas, ficam pelo corpo. As mágoas ficam pelos pulmões. As raivas, no fígado. Os medos, os desapontamentos, as críticas e os fracassos, nos rins (e, aparentemente, nas porras das espinhas nas orelhas). 

Segundo a pesquisa, pessoas com problemas nos rins são pessoas que tem uma necessidade se se sentirem apoiadas e tratadas com consideração e afeto. São também pessoas que costumam, inconscientemente, se mostrar como auto-suficientes.
E, por fim,  (eu juro que está escrito isso) o excesso de trabalho enfraquece os rins. (risos nervosos)
Última pesquisa da medicina tradicional chinesa hoje: doenças do lado direito (lembra que é só o ouvido e orelha direitos que estão zuados?) estão ligados a autocobrança excessiva, inflexibilidade consigo mesma, culpa consciente ou inconsciente. 

(risos nervosíssimos)
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Li outro dia na internê: "você pode comer brócolis, tomar água alcalina, fazer yoga, mas se você não lidar com as porcarias que estão acontecendo no seu coração e na sua cabeça, você continua doente." 
Somos carne, matéria. Coisa pegável, tangível, vista e sentida através da pele, do calor, do movimento, do cheiro, do olhar, do suor, do peso.
Mas também somos pensamento e emoção. Mente e alma, como diriam. Tudo invisível. Se abrem a nossa cabeça, acham o cérebro, mas não os pensamentos. Se nos rasgam o peito, encontram carne e sangue e veias e músculos que antes palpitavam. Mas não acham as emoções e sentimentos que conduzem nossas escolhas. 
A questão é que as coisas invisíveis estão conectadas nas visíveis. Quer a gente aceite ou não. Espíritos inflexíveis normalmente habitam corpos inflexíveis...

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Para Osho, o amor é o oposto do medo. O amor (e a gente sabe que o Osho não tá falando de amor romântico, né? Pro Osho, amor é um estado de ser e não um relacionamento) dá coragem, afasta o medo.  E onde o medo habita, habita também o ódio, a raiva.

"Tudo o que lhe der paz, tudo o que o deixar em estado de graça, tudo o que lhe der serenidade, tudo o que o aproximar da existência e de sua imensa harmonia, é amor e será bom."

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Lá (naquela primeira pesquisa sobre as causas emocionais dos problemas nos rins) qualquer coisa sobre a dificuldade em deixar fluir, relacionada aos encerramentos de ciclos. Deixar ir. Deixar escorrer, se desfazer do que não faz mais sentido. Chover, evaporar, secar, pra então chover de novo. Ciclos. De água, de emoções, de acontecimentos. 
Exatamente nesse momento, estou no inferno astral - o último mês do ciclo. Meu dezembro, na contagem regressiva pro meu ano novo, que é 23 de outubro. Ou seja, vivendo toda a energia dos encerramentos, dos desenlaces, das mudanças e transformações. Toda a energia do deixar ir, do desprender, do deixar pra lá, do cicatrizar, do entender.
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A arte - seja a dança, seja a fotografia ou os meus textos - sempre me trazem analogias sensacionais em relação "à vida". Se na arte eu sou essa pessoa fluida, alegre, sem fronteiras, desprendida das regras, intensa, flexível, livre... Como que na vida não seria? Mas as vezes não sou. Daí, o corpo estranha e adoece. Faz sentido?

.

A conclusão, se é que há, é que preciso me reconectar com a minha essência de água. De fluir, seguir em frente, sempre em frente.

"Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo. Olha pra trás, para toda a jornada que percorreu, para os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso que trilhou através de florestas e povoados e vê a sua frente um oceano tão vasto, que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre..." - Osho.


E deixar pra trás as coisas que ficaram para trás. Mesmo que tenham me transformado e permitido ser quem sou. Entender que, pra que coisas novas venham, eu preciso filtrar o que não mais me serve e deixar ir... Dá medo, frustra, da raiva. Recomeçar, mais uma vez, cansa. Mas também empolga.

"Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano, é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano." - Osho.

E, principalmente, entender que posso deixar meu lado direito - o lado feminino - em paz. E deixar de sentir dores por auto cobranças, por uma perfeição de versos que não me refletem. Eu sou prosa. Eu sou grito. Eu sou olhares marcantes e silêncios profundos. Eu sou prolixa nas palavras escritas. Sou água derramada, chuva pesada e entregue. Rio que corre sem olhar pra trás, sou quem absorve coisas e sou transformada e transformo - sim - onde eu passo.

Arrisco a dizer que todo meu sofrimento têm vindo dessa querência de querer ser rocha. Ser eterna. Fixa. Firme. Concreta. Segura. Indiscutível. Indestrutível. Está na hora de aceitar. Eu não sou. Eu estou sendo.

Chega de tentar ser rocha.

Eu sou rio.

Só rio.




(E com esse pensamento: sorrio)

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Flashback

A luz do sol vinha de fora e invadia o ambiente. Ela entrou e, momentaneamente cego pela luz, demorei pra vê-la por completo. Era só uma sombra, mas a cada passo - será que foi em câmera lenta? - foi surgindo uma garota. E em seu rosto, um sorriso lindo...


*

A sua mão repousa gentilmente sobre o cós da minha calça e eu, prendendo a respiração, torço para que seus dedos escorreguem um centímetro para cima e toquem minhas costas nuas. Quando isso acontece, sinto a energia que sai de você e vem em disparada na minha direção - e me arrepio. 

As vezes me distraio e assusto com a maciez das suas mãos - não me lembro com clareza do toque de mãos que não fossem de alguma forma calejadas - e quando elas percorrem meus braços me sinto duplamente acariciada. 

Eu me lembro daquele encontro inesperado que fez seu corpo tremer. Das palavras repetidas mil vezes, gaguejadas, tropeçando ao sair da minha boca... Do domingo de manhã em que pagamos com um beijo a aposta de que valeria a pena... 

Volto pra realidade e lá está você me olhando com seus olhos calmos. Dá pra ver neles o filtro de gentileza com o qual me olha - e fico sem saber se realmente mereço. Afasto esse pensamento com um sorriso, que você retribui.

O ar em volta é todo leve e mesmo no meio da multidão, estamos em total silêncio. Vez outra um fala, mas sem a obrigação de dizer nada. As palavras não vêm numa tentativa de preencher o desconforto - pois não há. A gente consegue não dizer nada e isso é um alívio. Por dentro, minha mente ferve palavras que virão a compor esse texto, um dia.


Deito a cabeça no seu ombro e continuo silenciosa, reparando no desejo que vem e vai. Quando me abraça, sinto seu coração galopante contra a minha costela. O meu meio que pára pra ouvir o seu, que acelera mas nunca perde o ritmo...


De teletransporte, de carro, de mãos dadas. Mãos que se soltam e se buscam sem urgência. Tudo acontece devagar. Os anseios, os medos e flashbacks vêm um atrás do outro, se mostram e se despedem... Não temos pressa. A única coisa rápida é a forma com que você abre o vinho. Que destreza...


E, gole a gole, o vinho sobe à face, os olhos queimam. Você repousa a garrafa e me toma pelas mãos... Me me abraça e finalmente, novamente, toca minhas costas nuas. É imediato o suspiro...
O arrepio.


terça-feira, 11 de setembro de 2018

simplesmente

O que há que o primeiro abraço é sempre tímido? 
E o que faz com que, de repente, seja diferente?



Existem vários tipos de abraços, mas tem um, específico, que é o meu preferido. É um abraço que faz o queixo encaixar no ombro do outro, tão próximo, tão grudado... Aquele abraço em que os braços enlaçam as costas e as mãos agarram, de dedos abertos, as costelas. É aquele abraço que tem um apertãozinho extra, no começo ou no final. 

O ouvido fica colado e dá pra sentir no peito a respiração da outra pessoa e, as vezes, no soltar, aquele pedacinho que não é nem trapézio nem pescoço, aquela curvinha - um dos melhores lugares do mundo - ganha um beijo.

As vezes, fico na ponta dos pés, pra abraçar com ambos os braços passando ao redor do outro, por cima dos ombros, uma mão repousando nas costas, a outra carinhosamente passando pelos cabelos - se houver -  ou naquele finzinho de pescoço... Assim, como quem não quer nada, acabo deixando minha cintura livre pra ser enlaçada. E como é bom quando os braços são suficientemente grandes pra dar a volta em mim...

As vezes, é um braço que passa por cima e outro por baixo, em um xis que permite segurar as próprias mãos nas costas do outro.

Eu, que tenho braços compridos e mãos grandes, me satisfaço nesse momento, o do abraço. Gosto de longos abraços. No café, na rua, no sexo. Gosto de agarrar o outro enquanto ele lava louça ou pica a carne do churrasco. Gosto de esperar na fila do cinema toda enroscada. E de dormir cercada por braços ou com a pessoa entre os meus. Não me vem com esse papo de cada um virar pro seu lado - isso é fim decretado...! 

Se a pessoa é mais alta, que satisfação envolver sua barriga e repousar a cabeça no peito! Mais ainda se ela me abraçar os ombros ou fizer cafuné. Beijo no alto da cabeça dentro desse abraço é um passo rumo ao céu, não posso negar é algo que me preenche... E se não, que satisfação ter os lábios na mesma altura...




Aparentemente, o mundo precisa dar muitas voltas até que a gente encontre um abraço em que a gente realmente encaixe. E, aparentemente, a gente não pode querer se acostumar a abraços realmente muito bons, porque só Deus sabe até quando aquele lugar estará disponível pra gente. 

Ainda assim, é preciso lembrar, com uma ligeira esperança: o carrossel nunca para de girar. 

E os bons abraços que vão, dão lugar a bons abraços que chegam - seja só por hoje, seja pra sempre, pela primeira vez ou mais uma, depois de tanto tempo.

E nossos vazios vão sendo preenchidos, a medida em que nosso corpo é gentilmente - ou vorazmente - abraçado. 





Um bom abraço é, definitivamente, o que eu classificaria como um lugar de calmaria.

Um lugar de paz.












domingo, 9 de setembro de 2018

quebra, cabeça

se prepara pra um texto cheio de analogias, pega seu café e vem.


Há muitos anos não montava um quebra cabeça. Coisa de uma década. Mas eis que ganhei um, de quase trezentas peças, que demorei a tirar da caixa. Falta de tempo, de interesse, tive momentos até de desdém ao presente. 

Na sexta-feira, resolvi dar uma chance pra que ele me distraísse um tempo. Julguei que seria simples, que o montaria rápido (pensei até em cronometrar, tola...) visto que quebra cabeça é basicamente uma brincadeira de crianças. Abri e me deparei com um mar de peças pretas, cinzas e amarelas. Todas. Absolutamente. Iguais. Inferno! Havia, ainda, mais uma questão - o jogo não possuía gabarito. Eu simplesmente não fazia ideia de qual era o desenho a ser montado. Não era brincadeira de crianças, afinal de contas. 

Qual seria o resultado final daquela empreitada? A gente nunca sabe qual vai ser, mas a gente sempre embarca nas experiências mesmo assim, não é? Então comecei.

Todo mundo sabe que a primeira boa regra pra montar quebra cabeças é organizar as peças, separar as beiradas e juntar as peças parecidas. Eu separei as amarelas das cinzas e das pretas e as beiradas e simplesmente NADA fazia sentido. Era como se todas as peças dessem pra encaixar em qualquer lugar e, ao mesmo tempo, não fosse formar desenho nenhum.

Três horas depois eu só tinha uma dezena de peças juntas. Frustração.

Dá vontade de decretar falência. Vontade de enfiar todas as peças na caixa e buscar aquele isqueiro amarelo no carro e dar fim nessa merda que não encaixa nada com nada. E olha que eu nem sou dessas que desiste no primeiro ímpeto... Mas quando nada faz sentido, a gente nunca sabe bem por onde começar...

Só que a vida não pára por causa do nosso sentimento, né? E aí, você é obrigado a encontrar um jeito. Nem que seja testar todas as peças até que uma delas encaixe. E quando isso acontece, a gente consegue vislumbrar um pedaço de qualquer coisa que se pareça com um desenho e encontrar outra peça que encaixe também...

Quanto mais peças encaixadas, mais fácil fica de montar. Quanto mais peças se encaixam, mais da dó de desistir, de desmontar. Agora, até enquadrar eu quero... 'Ele combina com a minha (futura) sala', penso.

A analogia vem pronta. No quebra cabeça como na vida, a gente não sabe direito como vai ficar no final. Torce pra tudo se encaixar, pro desenho ser bonito, pra não perder nenhuma peça que deixe um buraco no meio de tudo. Torce pra ser fácil, divertido, indolor. Dribla as frustrações e a raiva de não conseguir, segue em frente e vai dando jeito nas dificuldades...
No quebra cabeça como na vida, o começo é sempre difícil. Várias são as dicas que nos orientam a começar, mas a verdade é que é tudo tentativa e erro (e umas risadas sobre a idiotice de encaixar uma amarela em uma cinza pra ter certeza que não é aquela, sendo que é simplesmente óbvio). Conforme as coisas vão acontecendo e a gente deixa a vida fluir, vai ficando mais fácil entender o lugar de cada coisa.

No quebra cabeça como na vida, a gente tem que lidar com os buracos não preenchidos. Tem que lidar com o sono que arrebata e nos obriga a abandonar a imagem esburacada. Tem que aprender a acordar no dia seguinte e olhar pras partes que faltam, tentando enxergar e ficar feliz com as que não faltam. Suspirei diversas vezes... Disse em voz alta várias vezes que aquilo simplesmente era um saco, que não ia dar certo, que estava errado, que ia embora - ao mesmo tempo em que continuava olhando as peças e tentando entender, tentando fazer dar certo...

Sei que montei a coisa toda e as últimas quatro peças simplesmente não encaixavam. 

Praguejei o fabricante. Jurei que havia um defeito.

Até que, olhando de perto, vi outras duas peças encaixadas perfeitamente... no lugar errado. Arrumei as seis peças e concluí a montagem. Observando com atenção, vi outro caso assim, de peças trocadas. Lembrei da imagem do gomo de mexerica perfeitamente encaixado numa cabeça de alho. "Nem todo lugar onde você se encaixa serve pra você."

Pensei nas vezes em que me encaixei perfeitamente em lugares onde não ajudava a formar desenho nenhum.

Nas vezes que não me encaixava e eu forcei a barra pra caber... E como as bordas da peça ficavam desgastadas nesse processo...

Nas vezes que me mudaram para o lugar onde eu encaixava e relutei, sem querer abrir mão do lugar anterior...

Nas vezes em que me fiz peça, quanto sou na verdade um senhor quebra cabeça de duas mil peças que poucos tem a disposição - e, cá entre nós, a capacidade - de montar, de entender, de admirar.

Pensei nas vezes em que tentei jogar fora algumas peças minhas pra facilitar pro outro, pra que ele quisesse dedicar-me tempo. Pra que fosse mais fácil me ter ali. Mesmo que cheia de buracos e incompletudes. Mesmo que no fundo eu ficasse esperando que as peças sumidas fossem solicitadas e eu ficasse, finalmente, completa... 

Pensei nas vezes em que me preocupei mais em montar o quebra cabeça do outro, ao invés de me preocupar com o meu. E nas vezes em que dei minhas peças pra que o outro ficasse completo - sem pensar no custo que isso teria pra mim...

São inúmeras as analogias... Não sei se eu é que ando fazendo muita terapia ou se o exercício é realmente bom pra gente pensar. Fica a recomendação. Monte algo do zero. Sem saber por onde começar e nem direito o que está fazendo. E insista, peça por peça. Permaneça no propósito, mesmo que você o deixe de lado por uns momentos. Tenha calma. No fim, tudo fará sentido. 


Se não fizer, é só recomeçar.

Ou então voltar tudo pra caixa e buscar o isqueiro.

PS: quando essa foto foi tirada, ainda tinham duas peças trocadas. 

Encontre, se for capaz.


quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A gift ("About a Girl")

Ganhei um presente. Eis:




"Você tem 13 anos e o ano é 2005. Esse talvez seja um dos anos que mais marcaram a sua vida e você, sendo uma pessoa nostálgica, sempre se recorda dele com carinho e curiosidade. Isso não é à toa, afinal, foi o ano em que você conheceu uma garota. Esse texto é sobre ela.


Você tem 13 anos e muito tempo livre. Você gosta de videogames, filmes e música. Seus pais são donos da farmácia mais bem-sucedida da cidade e sua mãe insiste que você faça uma coisa da igreja chamada "perseverança". Você diz "ok" e passa a ir toda semana na "persê". É lá que você conhece novas pessoas e nota uma garota em especial. Ela é morena, tem cabelos curtos e, por algum motivo, você percebe que gosta de ficar do lado dela e quer ser seu amigo. E vocês se tornam amigos.

Toda semana vocês se vêem. Vocês conversam com muita frequência e chega um dia em que você está fazendo trabalho da escola e recebe uma ligação dela. "Você pode escrever uma carta pra mim?". É claro que você pode (já estava nos planos, inclusive). E você escreve uma carta pra ela, percebendo que há um sentimento forte ali, curioso. A garota também escreve uma carta pra você e o resto do ano é recheado de cartas e conversas e vocês até andam de bicicleta juntos algumas vezes.

Os meses passam e você já disse "eu te amo" à garota. Ela não tem uma resposta pra isso ainda (algo com o qual você se acostuma na vida), mas tudo bem, porque não importa muito. Você simplesmente fica feliz de estar perto dela e de conversar com ela, o que mais você poderia querer, certo?

Adolescência é um período esquisito e você acaba cometendo erros também e por algumas semanas você e a garota deixam de se falar por besteiras que você fez. Mas, assim como tudo que realmente importa, vocês superam e voltam a se ver direto. Mais tempo passa e um dia você resolve se arriscar e a beija. É um grande passo, ainda mais quando se é tão jovem. Mas não acontece mais nada além disso. Ainda não há uma resposta.

É fim do ano e você fica chateado por não ver a garota com a mesma frequência de antes, mas não tem problema, afinal, você vai fazer a oitava série na mesma escola que ela! É 2006 e as coisas ficam esquisitas na sua vida. Para começar, a garota finalmente te responde. "Eu te amo, mas" como ama suas outras amigas. É uma das cartas que te trouxeram mais sentimentos conflituosos, fácil. É também nesse período em que a garota começa a notar que você sente um pouco de ciúmes dela. Ela até te escreve um bilhete comentando isso e você acha que há um pouco de maldade ali. Mas it's okay. Move on.

Naquele mesmo ano, uma outra garota, que hoje é escritora e já publicou dois livros, diz que gosta de você também e você não sabe o que fazer. Ela sabe de toda a sua história com a garota principal desse texto e até comenta "vocês nunca realmente ficaram" e coisa e tal. Você não sabe por quê, mas essa lembrança veio à sua mente enquanto você pensava no que escrever aqui. E talvez seja porque é verdade. Vocês nunca "ficaram". Mas tanto faz. Aquela garota te marcou como nenhuma outra e os próximos anos vão mostrar o porquê.

Uns meses depois, você vai se mudar para outro estado. No último dia que você vai para a escola antes de finalmente ir embora, você sente uma vontade absurda de chorar na van. Mas você se segura e dá uma última olhada na garota enquanto ela cochila sentada na sua frente. Vocês podem nunca mais se ver.

Durante os anos em que você morou no outro estado, você nunca deixou de pensar na garota. Você continuava querendo ser amigo dela, independente de qualquer sentimento. E graças à magia da tecnologia e dessa coisa chamada internet (que na época não era nem mato direito), vocês conseguem se falar um pouco (e isso já é por volta de 2008). Vocês mudaram e amadureceram um pouco e você fica contente de ter contato com ela. Amizade boa é amizade assim.

Vamos agora pular para a fase em que você se forma no ensino médio e volta para o estado onde você nasceu e morou a maior parte da vida. Você namora uma outra pessoa, que no futuro prova ser o pior relacionamento que você já teve. Você ainda tem um carinho pela garota de que estamos falando, o que provavelmente quer dizer alguma coisa.

Você e a garota se vêem de vez em quando, cada um segue a sua vida e não tem muito contato. Você termina com a outra pessoa e é uma das fases mais esquisitas da sua vida. Um tempo passa e você conhece outra menina incrível. É talvez a primeira vez em muito tempo que você sente algo igual (talvez maior?) do que o que sentia pela outra garota.

Você se apaixona por ela e é incrível como dá para traçar paralelos entre essa menina e seu relacionamento com o que já aconteceu com a outra garota. Claro, talvez sejam só alguns pontos, mas também deve ter algo a se dizer quando, um dia, você está do lado da menina e ela diz uma frase que chama sua atenção e você pensa "nossa, isso soa tanto como aquela garota!". Vocês namoram, trocam cartas (você nunca deixou de escrever cartas) e a vida está ótima e você é muito feliz com ela.

Corta para 2017 e por algum fato curioso, uma amiga antiga volta a falar com você e a outra garota, que também é amiga dela, entra na conversa e vocês resolvem todos irem comer comida japonesa! Nice!


É nessa época que você volta a falar para valer com aquela garota. E é muito bom. Vocês agora são adultos, são mais maduros e, o melhor de tudo, a amizade parece ser forte como sempre foi. Anos de distância (mais de 10) não importam muito.

O melhor disso tudo é que desde aquele dia em 2017, vocês têm se falado bastante e sido amigos. A garota terminou com um namorado de longa data e você esteve perto dela apoiando. Ela, no ano seguinte, começou a namorar uma nova pessoa e recentemente também aconteceram algumas coisas. Mas ela está bem e isso te deixa feliz.

Essa garota é especial para você. Você adora o fato de ela dançar, escrever, ser extrovertida (diria até que vocês são bem diferentes) e sabe que ela valoriza muito a amizade que tem com você. Você quer que ela seja feliz. Ela é uma mulher que você admira e por quem você torce MUITO.

Existem muitos tipos de amor. E você AMA essa garota. Não tem como negar isso. Algumas pessoas achavam que vocês chegaram a ser namorados, o que é engraçado e sempre te faz rir quando comentam. É óbvio que vocês nunca namoraram. Mas isso não importa também. O amor que você tem por ela é algo diferente. Ela é uma das garotas mais especiais que existem na sua vida e isso basta.

Claro, se a vida fosse como no filme I.A Inteligência Artificial (que você nem gosta muito) e você fosse como o garoto-robô que encontra uma fada no fim do filme e te concede um desejo, você provavelmente desejaria passar um dia inteiro do lado dela sem nenhuma interrupção e contar todas as coisas que estão presas na sua cabeça há muito tempo. Talvez ela nem entenda direito isso, mas você gostaria.

Ou se fosse como o filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, você provavelmente gostaria de apagar algumas coisas da sua memória, mas é óbvio que no fim  você gostaria de viver tudo de novo. Você não se arrepende.

Existem muitos tipos de amor, e o amor que você tem por essa garota é daqueles que transcendem o que pode ser expresso por palavras. É de uma das amizades mais queridas que você tem. Você já foi um “crush” ou um @ dela (como dizem hoje) e tal. E é divertido pensar nisso, também.

Por fim… Hoje vocês estão em fases parecidas na vida. Vocês querem focar nos seus projetos, morar sozinhos, realizar sonhos muito postergados e é engraçado também como entraram nessa fase mais ou menos na mesma época. Coisas da vida.

Uma coisa é certa: não há de haver outro hiato na amizade dos dois. E, olha só, você escreveu mais uma carta para ela! Se isso não é um amor e uma amizade que transcendem muita coisa, eu não sei o que é."

senhora projetinho

Eu sei que deve parecer mentira. Sei que deve parecer papo de quem quer se mostrar toda forte, toda inteira. Sei que num mundo de gente quebrada, quem quer que esteja só ralada e não reclame de ter que passar o mertiolate acaba por não merecer tanta confiança.

Foda-se.

A questão é que, assim, dá sim uma tristezinha quando eu acordo e lembro e aí preciso colocar uma vírgula no pensamento e atualiza-lo com os últimos acontecimentos. Não vou negar.

Mas sei lá... A questão é que felizmente, dessa vez eu tenho uma vida pra continuar tocando. Na verdade a única coisa que mudou foi você. Eu continuo aqui, com meus quatro empregos, meu apartamento, meus sonhos, minhas viagens, meus textos, meus amigos, minha família, minha dança, minhas fotos, minhas lembranças e, principalmente, minha incrível capacidade de me encantar. De sonhar, de me alegrar com coisas novas.

Isso sempre foi o que me manteve caminhando (também foi, é claro, o que me colocou em incontáveis situações complicadas, não sejamos hipócritas): minha incrível capacidade de sonhar, de achar que é possível, que tudo pode ser melhor que ontem, novos sonhos ao amanhecer e toda aquela patacoada de gente otimista - o que eu nunca fui, mas é que tenho esse dom de acreditar em mim. De ver as minhas capacidades e as minhas forças e eu simplesmente sei que o que quer que eu decida fazer será incrível. 

Parece presunçoso, né. Eu sei. Mas é que a gente não tá muito acostumado a falar bem de si. E num mundo que lucra com as nossas fraquezas, reconhecer e alimentar nossas fortalezas requer muita coragem.

A questão é que eu (finalmente) aprendi que quando uma coisa não depende (mais) de mim, eu simplesmente posso deixá-la ir. E essa foi a descoberta libertadora da semana. Não tenho que fazer nada. Não preciso mexer um músculo sequer pra consertar nada. Não apertarei os parafusos e nem buscarei mais cola. Não há nada a ser feito. O que não tem remédio, remediado está: simples né. E eu continuo existindo. Um pouco mais magra, com um pouco mais de tempo livre e de volta à vida de satisfações sobre garrafas de cerveja no carro (por pouco tempo, espero).

Nada mudou. 

Com a música certa, até o coração fica mais leve... Com a frase motivacional certa, até os sábados a noite terão sua graça... Aos poucos, a poeira baixa, o barulho diminui (e vai ficando mais baixo que o zumbido permanente), a ausência desaperta. 

E a senhora projetinho vai achar outra coisa pra colocar o foco, a energia, o tempo. Outra pessoa. Dessa vez, tomara que seja eu mesma. 

Que eu me desdobre pra divulgar a minha própria empresa. E compre coisas que vão me fazer feliz. E gaste energia me divertindo com a faxina do meu próprio quarto. E procure os livros que eu mesma quero ler. E cozinhe nas noites de TPM, mesmo que só pra mim. 






E que eu mesma me dê flores e textões-declaração - não só por hoje, mas sempre. Pra sempre. 

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Aceita ou sofre

É, Amnésia! Aqueles tempos dos textos melancólicos e hipocondríacos que ninguém lê voltaram! Novamente seremos eu e você e as palavras bagunçadas, cheias de drama e fumaça. Os textos de amor vão continuar aparecendo, mesmo que nas entrelinhas, daquele jeito que só eu e você saberemos... Mas ainda assim, a falta de cor certamente afastará os contáveis leitores. Tudo bem. A solidão não é um problema que a gente tem que resolver.


Aceita ou sofre.
Foi o recado que veio antes.
Junto com o copo de café, o veredicto.
Nem lembro se terminei de beber, enquanto segurava minha dignidade.
Quando ela começou a escorrer pelos olhos, saí.
Enchi a mochila com o que pude encontrar antes do abraço inesperado que me desabou.
A melhor de todas me abraçou, tentando pegar um pouco daquele peso pra si e, mesmo sem saber por quanto tempo, já se despedindo.
Um abraço verdadeiramente importante. Mais um detalhe pra me dar a certeza de que dessa vez foi diferente. Mias um dos detalhes que tornam essa loucura ainda mais arrasadora.

Mais um tanto de conversa no velho banco de madeira, cercada pelos gatos que pareciam já saber que não me veriam mais com tanta frequência...
Escorri lágrimas mas dentro de mim encontrei força pra desejar o bem. Lembro da primeira vez que te vi chorar por mim - e como esses dois momentos foram diferentes. Na primeira você estava com medo. Nessa, apenas triste. O medo de me dizer adeus já não era maior do que o de não dizer, então você disse. Tinha que dizer.

Eu entendo, mas ainda não sei aceitar. No fundo, eu não me conformo.
Não sei o que fazer com essa informação. Não sei colocá-la em uma frase simples.

Não sei como fazer café sem a garrafa vermelhinha e o olhar gentil da sua mãe, dizendo pra encher bem ela de água.
Não sei como passarei na sua rua as quartas feiras sem olhar pro lado.
Não sei como assistirei aos shows daquela lista que fizemos juntos.
Não sei sequer o que fazer com os ingressos que já comprei pro show do Caetano (talvez você não lembre, mas foi a primeira referência musical que você me deu).
Não sei como olhar meu apartamento agora, sem a promessa de nós dois lá.
E até as panelas amarelas perderam um pouco o charme... rs

Não sei mais abrir o Youtube porque a sua playlist está lá. Nossa playlist é a mesma e agora isso é um pouco irritante.
E todos os cadastros que fiz com seu nome nas senhas, o que fazer com eles?
E a argola de ouro, que agora jaz no guarda roupa? Que fazer com ela?

Que fazer com todos os planos não vividos?
Não pulamos de paraquedas, nem fomos à praia, muito menos acampar.
Não te levei pra sua primeira viagem de avião.
Você não me levou naquele reggae, nem no castelo.

Mais um abraço, na melhor das melhores. Outro, no último gato - ele pareceu tão inconformado quanto eu. Recusou meu colo, se contorceu pra sair como se fosse absurda a despedida ("cala a boca, se não eu acordo você com a minha fuça a dois centímetros da sua as cinco e meia da manhã", ele deve ter praguejado). Me senti acolhida. É também acho absurda, Branquelento. Também acho...

Em você sei que ainda darei vários abraços. Serão várias mensagens de bom dia, vários momentos em que, descabida, vou querer saber se você dormiu bem ou se comeu. Vai demorar um pouco pra aprendermos a ter outros papéis na vida um do outro - ou a não ter. Vai demorar pra esse nó sair da minha garganta e pros meus olhos voltarem a serem marrons. Vai demorar pra eu aprender a não te contar cada segundo do meu dia e cada plano louco. Vou demorar a aprender a ser só eu de novo. Vou demorar pra não querer te ver ou não querer te ouvir cantar. A grande questão é que eu vou aprender. A gente vai aprender. Já estamos aprendendo. 

Dizem por aí - e eu, a rainha das frases de efeito não poderia deixar de repetir - que o que não é benção é lição. Eu acredito piamente que tudo o que passou foi benção. Tudo o que vivemos em cada um desses 5 anos e 6 meses e 22 dias rs, desde que nos conhecemos. E sei que ainda seremos luz na vida um do outro, mesmo que de longe, mesmo que só nas lembranças...

Somos a prova de que existe.

De que é possível ser foda. 
É possível ser top. 
É possível ser verdadeiro, ser profundo, ser leve, ser feliz, ser honesto, ser gentil, ser a gente mesmo.
É possível. 
A gente viu com os próprios olhos, não é? Tocou com as próprias mãos. 

Não perca nunca essa fé... é real. Existe mesmo! 
E pode ser como todos sonham... Como todos desejam. 
Porque foi. 



Obrigada por tudo.




Mas não tem revolta não
Só quero que você se encontre 
Saudade até que é bom 
Melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz









Neoqueav.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

triste, louca ou má será qualificada

"Então pra você bancar uma quebra de padrão (...) tem que ter coragem, hein. Porque é muita gente em volta que não tá querendo bancar isso. Porque quando você fica em paz com uma coisa que você sabe que pode ficar em paz, mas que todo o resto do mundo não sabe... tem que ter coragem pra bancar. Tem que estar muito plena. Porque a galera tenta te desestabilizar. As pessoas querem te ajudar te atrapalhando. É muito complexo..."
(Jout Jout)


Estou aqui pensando em como começar esse texto, com tanta, tanta coisa na cabeça... Não sei muito bem por onde começar, sei que quero eternizar a frase acima, que eu mesma transcrevi de um vídeo, com seu contexto... 


Há um ano atrás, dei um importante passo na minha vida. E a noite que deveria ser de comemoração, virou um mar de lágrimas e gritos (meus), desrespeito e álcool (de outros). O padrão totalmente desenhado, tudo certinho, planejado. Quem olhava de fora, me via vivendo uma promessa de felicidade eterna. Eu, no entanto, via tudo ruir pouco a pouco ao meu redor. 

Eu fiz ser fácil para as pessoas imaginarem o quanto a minha vida devia ser perfeita. O quão cercada de amor, respeito, leveza e alegria eu era. Fui, até certo ponto. Fui, até deixar de ser. Mentia pras pessoas, porque precisava mentir pra mim também, porque quebrar esse padrão era - naquele momento - muito difícil pra mim. Sorria por fora enquanto por dentro via acabar toda a minha sanidade. Meses depois, desatinei, rompi os nós declarando guerra contra tudo o que cerceava minha energia vital. Julgaram-me louca.


Corta pra 2018. 

Finalmente as coisas pareciam estar sendo construídas sobre a rocha. Me sentia tão bem como nunca! Era alegria de viver vinte e quatro horas por dia. Apaixonada por cada detalhe... Encantada até mesmo com os defeitos. Eram muitas as fortalezas pra que eu não considerasse lidar com um único fator com potencial enfraquecedor. Logo eu, que demorei tanto pra desistir, mesmo com todos os alarmes apitando de que o prédio ia desmoronar, ia desistir de um lindo e forte castelo, que estava sendo construído, com tanta verdade?

Acontece que o que é, de novo, a gente só enxerga de dentro. Por fora, as pessoas insistem em ver teimosia, ruindade. Veem problema, empecilho, separação. Olhando daqui vejo a inocência que fez essa quebra de padrão nascer. Vejo a bondade e a empatia que vejo em quase ninguém. Vejo a maturidade e a sanidade irem se fortalecendo aos poucos. Vejo o tamanho da coragem de bancar isso...

A verdade, principalmente nesse caso, eu é que sei. Sei quais são os motivos que me mantém exatamente aqui. Sei cada um dos motivos que eu teria pra ir embora, mas também sei das perguntas que fiz e das respostas que obtive. Sei dos meus braços livres, que não prendem nada nem ninguém. E sei também do que eu ofereço: colo, apoio, honestidade, carinho, amor, força. Sei quem eu sou, sei o que estou fazendo, sei do amor que invisto em cada decisão que tomo e o quanto de mim eu doo a cada escolha. Onde você investe seu amor, você investe a sua vida, não é mesmo? Mas julgam-me má. 


As coisas acontecem como tem que acontecer. Deus dá os fardos conforme os ombros. Decida o que você quer, aceite as regras e trabalhe duro... Muitas são as frases de efeito que me fizeram, por meses, querer socar a cara de quem as diz (eu)... Nesse momento, no entanto, apesar de estar no meio de uma tensão pré menstrual, me sinto em paz. Não feliz da vida, nem soltando fogos. Só em paz por viver a minha verdade. Isso não significa ausência de incômodos ou tristezas daqui pra frente, simplesmente porque não é possível. Paz eterna, a gente só conquista morrendo - e esse não é bem um passo que eu estou querendo adiantar. 

Por causa do caminho que trilharei, pelas futuras ausências e silêncios e até mesmo momentos de solidão, que certamente virão, aposto (pois já estive no lugar de quem vê de fora e acha que sabe o que se passa com o outro) que me julgarão triste. 

Triste, louca ou má? Talvez eu seja um pouco de cada, mas com certeza não sou exclusivamente nenhuma delas. No entanto, se me classificar assim te ajuda a dormir a noite, tá tudo bem. De verdade... Não me machucará mais ou menos. Porque eu finalmente entendi uma coisa que há muito meu terapeuta vem me dizendo: eu não preciso ocupar todo espaço em que me colocam. Não preciso morar em nenhuma verdade que não seja a minha.




Eu sou o meu próprio lar. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

eu quero estar cercado

Não me interessa ter inimigos. Não me interessa criar, da maneira que for, nenhum tipo de inimizade, constrangimento ou dor a ninguém - inclusive eu. Não saio da cama com a pretensão de invadir nada, de impor nada, de exigir nada, de magoar ninguém. Não penteio meus cabelos pela manhã planejando como atazanar a vida de pessoa alguma. Não me interessa guardar rancor, nem raiva, nem ranço.

A mim, não interessa mais entrar em longas discussões. Há uns dez anos atrás, dava um boi para entrar numa briga e uma boiada para não sair dela. Mas eu era só uma estudante, não é mesmo? Hoje, com quatro empregos que me exigem mente e corpo equilibrados, sequer tempo eu tenho pra longos debates. Quem dirá disposição.

A minha limitada energia não dá conta. Ou eu brigo, ou eu danço. Ou eu discuto política, ou eu escrevo sobre a Santa Casa. Ou eu tenho tempo para editar fotos ou fico disputando espaço. Ou eu descanso, ou fico brincando de polícia e ladrão. Sai fora...

A coisa mais preciosa que temos é nosso tempo. O preço das coisas está em quanta vida você dá em troca. E como não sabemos se daqui dez minutos não cairemos duros no chão, é conveniente não ficar perdendo tempo com picuinhas. Né.

A mim, interessa a paz. Interessa a calma. Interessa todo mundo convivendo em harmonia, cada um cuidando da sua vida e hidratando o próprio cabelo. Mas também interessa que as pessoas contem umas com as outras. Interessa que se falem, que confiem, que peçam ajuda. A mim, interessa ter pra onde voltar. Um lugar tranquilo pra chamar de lar. Me interessa ter saúde e energia pra fazer o que me faz feliz - e são tantas essas coisas. Me interessa a proatividade.

Eu sou uma artista. Sou uma pessoa flexível. Sou uma pessoa compreensiva. Existem poucas coisas que eu não admito nessa vida. Me faz um café, me explica a questão e dificilmente eu não vou calçar seus sapatos e procurar entender. Eu sou uma fazedora. Sou boa em fazer as coisas funcionarem. Sou uma analista: com todos os detalhes, sou capaz de traçar belos planos e fazer a coisa toda dar certo. Me treinei a vida toda em literatura: sou boa em enxergar os detalhes das entrelinhas que muita gente não vê. 

Me interessa que confiem em mim. Por isso, confio nos outros - apesar do risco envolvido. Me interessa que acreditem em mim. Então, acredito nos outros. Não importa que de vez em quando eu me engane com alguém: não deixarei de conceder o benefício da dúvida aos outros, por conta disso. 

Me interessa a reciprocidade: ainda assim, eu teimo em ser honesta comigo e fazer o que acho que tem que ser feito, mesmo quando não recebo na mesma quantia. A mim, interessa a coragem. Interessa a decência. Interessa a verdade. Passei do tempo de viver em fantasia e projeções. A mim, interessa o real. Mesmo que seja ruim. Mesmo que doa. 

A mim, interessa a aventura. Mesmo que ela venha em forma de turbulência no voo Rio Branco-Porto Velho. Porque depois que passa, me interessa rir. Me interessa guardar as boas recordações...

Sou estranha, meio mal humorada e intensa (e nem é da Dolce Gusto...).
Tudo pra mim queima e arde e explode e brilha e faísca.

Chato, um pouco cansativo, mas essa sou eu. Meio pancada da cabeça. Uma artista-racional, mas isso é culpa da minha lua em virgem... Quem se atrever a me olhar com carinho vai ver que eu sou uma pessoa do bem...






Acredite.