E que aprendemos, com anos de ofício, que a notícia está no curioso, não no comum; no que estimula conflitos, não no que inspira normalidade; no que é capaz de abalar pessoas, estruturas, situações, não no que apascenta ou conforma; no drama e na tragédia e não na comédia ou no divertimento.
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Quando entrei pela primeira vez em uma redação de jornal lá pelo fim dos anos 60, a maioria de vocês ainda não tinha nascido. Sei que pareço velho. Mas azar o de vocês se ainda são jovens. Porque o finalzinho da década de 1960 foi uma beleza. Foi um show, se preferirem.
Tínhamos no Brasil uma ditadura para combater — hoje vocês não têm nada para combater, nem mesmo a autoridade paterna, porque esta faliu e tudo concede. Tínhamos dentro das famílias preconceitos jurássicos quanto a sexo — hoje vocês podem tudo e desconhecem o potencial erótico do joelho nu de uma mulher.
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Se quiserem saber quem foi Salazar ou Jânio procurem livros a respeito. Não me venham com a desculpa de que nada sabem porque seus pais nem sequer haviam se conhecido. Vocês já ouviram falar de Napoleão e sabem que ele não foi apenas nome de conhaque.
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Suprimam o trecho "de uma ponta a outra". Se digo que as crises assolam o mundo, sub tende-se que me refiro ao mundo todo.
A síntese é uma virtude a ser perseguida sem descanso. Escrever é cortar, cortar, cortar.
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A missão de um jornalista é informar. Ou melhor: contar histórias. A maneira ideal de contar uma história pode ser por meio do texto. Outra história pode ser mais bem contada por meio da infografia ou da tabela. Uma fotografia pode bastar em diversos casos.
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Cabe aos jornalistas escolher a verdade. Querem responsabilidade maior do que essa? Deveríamos ser pessoas corcundas, vergadas pelo peso da tarefa de chegar a verdade. E deveríamos também ser mais velhos e experientes.
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Espanto-me com a pressa que move os jornalistas à caça de verdades; a pressa que empregam na apuração delas; e novamente a pressa com que as transmitem aos leitores.
A pressa é a culpada, nas redações, pelo aniquilamento de muitas verdades, pela quantidade vergonhosa de pequenos e grandes erros que borram as páginas dos jornais e pela superficialidade de textos que desestimulam a reflexão. Apurar bem exige tempo. Escrever bem exige tempo. E não existe mais razão de jornal ser feito às pressas.
Notícia em tempo real deve ficar para os veículos de informação instantânea — rádio, televisão e internet. Jornal deve ocupar-se com o desconhecido. E enxergar o amanhã.
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O bom repórter não desiste da notícia. Nunca. Quando fareja a presa, persegue-a até acuá-la. Uma vez que a deixa sem saída, cai sobre ela matando-a. Talento, fé, não basta. Um jornalista pode ser menos talentoso do que outro, porém mais determinado, persistente e teimoso.
O determinado vence o talentoso. O talentoso corre mais risco de acomodar-se do que o determinado. É assim em todas as profissões.
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É melhor sobrar informação do que faltar, já disse. Digo agora que vocês não devem seguir apurando indefinidamente uma notícia. Há um momento de dar a apuração por finda e de escrever. Excesso de informações torna confusa uma matéria. Matéria não é árvore de natal onde se penduram bolas. Se vocês têm na mão uma história com começo, meio e fim, e têm detalhes que a tornam verossímil, vocês têm uma matéria. Sentem e escrevam.
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Personagem de matéria não deve limitar-se a um nome. Como no exemplo abaixo: [Maria José da Conceição estava particularmente irritada quando foi barrada ontem à noite na entrada do Canecão, no Rio de Janeiro, onde queria assistir ao show de Gilberto Gil. "O show já começou e a senhora não pode entrar mais", explicou um agente de segurança que não quis revelar a identidade. "Mas eu comprei o ingresso. E me atrasei porque o trânsito estava um inferno", argumentou a mulher. "Mas não vai entrar. Tenho ordens", replicou o agente].
Quantos anos tem Maria José? O que ela faz na vida? É casada ou solteira? Tem filhos? É gorda e baixinha ou alta e magrinha? Onde mora? Como estava vestida? Falava em voz alta ou em voz baixa?
Respostas a perguntas como essas dão vida a um personagem. E permitem que os leitores se identifiquem com ele.
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O que fazer diante de contradições? Apurar, apurar, apurar. Até que todas ou quase todas tenham sido eliminadas. Até que nos reste apenas uma história na qual possamos acreditar.
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Ben Bradlee, ex-editor do jornal Washington Post: "O melhor repórter ê aquele que chega à redação antes dos outros, sai depois dos outros e vai dormir convencido de que poderia ter feito muito melhor sua matéria".
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É fato que entramos na faculdade - ou em qualquer outra escola - pra aprender. E é ainda mais obvio o fato de que não sabemos as coisas que vamos aprender (dãr). Mas acontece que, em relação ao que estou vivendo desde primeiro de março, sou obrigada a constatar: é diferente do que eu pensava. A princípio, a ideia era de que seria muito mais difícil e confuso, que ficaria mais perdida e por mais tempo. Depois, que já sabia muito sobre tal ofício. Aff. Sua pretenção me enoja, Jaque. Devo admitir: tudo o que li nos últimos sete anos me ajudou infinitamente com vocabulário e gramática - tanto que sobrevivi a tantas provas, reforma ortografica, vestibular, ENEM e afins - mas daí a dizer que isso e um ou outro textos publicados me fazem jornalista. Aff. Não, né! Por essas e outras que continuo a favor do diploma. Como, por Deus, conseguiria trabalhar hoje, sem nenhum tipo de treinamento/escola? Na AECA mesmo, vou penar. Nunca fui Assessora de Imprensa, apesar dos livros que li a respeito - um e meio, já é plural - e o que me tranquiliza é a ajuda que estão me dando, principalmente pelos professores. Sinceramente, se fosse numa empresa qualquer, e fosse eu a responsável, surtaria e entraria em desespero em uma semana. Faria o trabalho? Faria. Mas provavelmente não teria nem metade da potência que vai ter depois de uns meses, uns anos de estudo.
Com mais, mas sem tempo pra escrever,
Jaqueline, uma jornalista desesperadamente necessitada
de uma entrevista com um cara que trabalhe na Band na área de jornalismo.
Ósculos.