sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Quero voltar pra você



Quero voltar.
Preciso voltar.
Não tivemos tempo suficiente nem nos conhecemos o bastante. 
O tempo voou e parece que não deu pra eu saber tudo o que queria sobre você.
Quero voltar porque meu riso era mais fácil quando estava por aí.
Quero voltar porque meus problemas ficavam tão pequenos, tão distantes, que pareciam que não existiam - e, por isso, não existiam mesmo.
Quero voltar porque aqui minhas pernas doem. 
Aqui, eu envelheço.
Quero voltar porque aí eu me alimentava de história e de curiosidade.
Quero voltar pra minha ponte preferida. 
Quero voltar pro meu sanduíche de salmão.

Quero voltar.
Não para um passado que não se repete.
Mas pra um mundo de possibilidades e coisas a serem descobertas.
Se esse povo descobriu o meu séculos atrás, quero ser agora quem dá o troco e desbrava o país todo.
Não roubarei o ouro de volta e nem tentarei catequizá-los. 
Prometo passar quietinha. 
Com um sorriso discreto, pisar nas areias quentes e depois na água fria.
Com olhar atento, observar as pessoas e, desligando o fone de ouvido, reparar naquele sotaque tão gostoso de se ouvir (até ter decorado o jeito certo de falar cada palavra)...

Preciso voltar.
Preciso voltar porque tem ladeiras que não foram subidas. Escadinhas intermináveis das quais não reclamei. 
Quero voltar porque a Quinta da Regaleira fechava as cinco e eu não programei essa parte no roteiro. 
Preciso voltar! 
Porque não se fazem travesseiros por aqui e não comi o verdadeiro Pastel de Belém.
Preciso voltar! 
Preciso voltar pois não tirei minha foto com a estátua do Pessoa, nem vi o museu do Saramago e nem reverenciei a vida de Florbela.
Preciso voltar porque Portugal me adorou!
Aveiro precisa me rever e matar as saudades de mim!
E aquele atum em Ílhavo: segue triste sendo servido para pessoas que não o contemplam como eu. 
E o céu azul de Cascais reflete-se no mar observando que depois do terceiro dia eu não voltei mais. Deve pensar que não o amo...

Quero voltar! 
Quero voltar porque não dirigi o suficiente e nem fui àquela igreja toda de ouro brasileiro.
Quero voltar porque não comi tanto bacalhau assim e nem comprei aquela sardinha em lata com o ano do meu nascimento.
Quero voltar!
Sintra precisa de mim! Sei que ela já tem a Madonna, mas o jeito com que eu a admirava... Sei que ela precisa disso.
E Braga com seus intermináveis degraus do Santuário de Bom Jesus... Ah, se eu pudesse estar lá novamente, eu subiria todos eles de bom grado, apenas para ter uma perspectiva diferente dessa vez.
E até rezaria mais em Fátima, mesmo não sendo muito boa nisso, e procuraria não cochilar entre um sermão e outro...
Preciso voltar! 

Preciso voltar! Pra essa terra onde as pessoas esperam as outras saírem do vagão do metrô antes de tentarem entrar. 
Esse lugar onde todos dirigem loucamente, mas dão seta todas as vezes que vão mudar de faixa.
Um país onde não se vê lixo no chão, sequer em dia de eleição. 
E que tem carrinhos tão pequenos quanto meu coração quando desembarquei em Campinas.
E atendentes sorridentes em todas as padarias.
E músicas-ambiente que combinam com o tema da loja.
E poemas de Pessoa escritos nas paredes.
E arte urbana por toda a Lisboa...

Quero voltar!
Pro fado que quase me fez chorar, pro bairro cheio de bares que me explodiu de alegria.
Pras saladas, pro azeite e pras melhores olivas que já comi. 
Quero voltar pra janta improvisada com vinho de um e sessenta.
Quero voltar pro banho quente de banheira, bebendo vinho e olhando o céu.
Preciso voltar...! 
Pra companhia leve, pra Sagres gelada, pro queijo creme.
Pra conversa fiada, pro trem com ar condicionado que permite viajar com cachorros. Pras paisagens que misturam velhice e novidade.

Preciso voltar porque expliquei pra poucos motoristas do Uber se eu gostava mais de Lisboa ou do Porto e quantos dias eu ficaria e se gostaria de voltar.
Eles não sabem. Preciso voltar. 
Voltar pra janta farta de cinco euros. 
Voltar pras fotografias sem compromisso.
Voltar pra sangria na hora do almoço.
Voltar.

Voltar porque quando me perguntam do que mais gostei de Portugal, não sei dizer.
Não consigo me decidir e preciso voltar pra tirar a prova.
E se o que mais gostei for o que não conheci?
E se o mais legal for justamente o que deixei para trás?
Preciso voltar, não vai ter jeito...

Quero voltar pra você.
Pra você, Porto, com sua calma e sua limpeza e os bolinhos de bacalhau que não comi.
Preciso voltar pra você. 
Pra você, Ílhavo e sua praia larga, a mais linda que já vi, com o mar abraçando todo o horizonte... 
E pra você, Aveiro, com suas casinhas listradas, pois não tomei um sorvete olhando você...
Quero voltar pra você.
Pra você, Braga, e receber mensagens de paz das crianças e comer salmão grelhado e visitar sua Sé.
Preciso voltar!
Voltar pra você, Lisboa... doce e quente e encantadora Lisboa! Tão velha e tão nova, tão quieta e tão louca. Tão colorida e atenciosa Lisboa. Cheia dos mirantes e de pessoas do mundo todo. 
Quero voltar pra você, Sintra! E pra todo seu amarelo e azul! Quero voltar pro seu travesseiro, pro seu vinho, seus tuk tuks.
Preciso, preciso voltar pra você Cascais querida... Minha vida nunca será a mesma longe de você! 
Preciso voltar pra você, doce Óbidos e subir de novo nas suas muralhas e sentar no alto e meditar olhando pra você toda, te contemplando em sua totalidade, e talvez roubar umas azeitonas das oliveiras do vizinho...
Quero voltar pra você, Fátima! Voltar e me inspirar na fé que faz cristãos atravessarem seu pátio de joelhos e acender velas. Quero contemplar os vitrais e orar do jeito que sei nesse lugar tão cheio de energia positiva...
E quero voltar pra você, Cabo da Roca, a ponta mais ocidental do continente, olhar o mar infinito que te banha e só atravessá-lo para ir à Madeira, viver ainda mais.

Quero voltar pra você.
Preciso voltar pra você.
Pra você, Portugal! 



Nenhum comentário: