quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Ponte

Lembra quando eu falava, assim, meio sem saber, sem me dar conta da força das palavras, que Deus fazia as coisas hoje, mas que nós, na nossa insistente teimosia e lentidão, só compreenderíamos essa coisa amanhã ou depois? E que tudo estava bem, porque as coisas aconteciam com tinham que ser?

É fácil aceitar essa máxima quando as coisas vão bem, não é? Quando tudo desmorona, não sobra espaço na bagunça pra paciência e esperança. Ninguém quer esperar. Queremos entender de uma vez. Ver nas tralhas algo de valor. Um único motivo que fosse pra aceitar aquilo ser como é. 

Hoje é vinte e dois de novembro. Um dia aparentemente ridículo. Aparentemente normal. Aparentemente desinteressante. Aparentemente vazio. Mas acontece que um ano atrás, as coisas começaram a se desenrolar pra eu estar aqui. Exatamente aqui. 

Uma leitura extensa, uma assinatura, um lanche de frango defumado com cream cheese. Uma frase torta. E, nesse ano, quanta água passou por debaixo dessa ponte...

Hoje, sinto alegria em olhar e ver que a ponte continua firme. E que toda a água apenas passou por ela, sem a desestruturar. Mesmo gasta, mesmo velha, mesmo feia, a ponte resiste. E muito mais água virá, com certeza... Mas a questão é que a ponte continuará sobre ela. 

E tenho certeza que, quando a poeira baixar, quando o céu se abrir num azul ridículo de desenhos infantis, eu vou ver que essa ponte gasta, velha e feia, é na verdade uma belíssima ponte estaiada vermelha ou amarela. Imponente. Forte. Linda. Digna de me arrancar lágrimas de saudade na hora do adeus. E essa ponte será não só a que tem pra hoje, mas a minha preferida.





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