quarta-feira, 31 de julho de 2013

beija-flor

Num momento você está entediado, olhando pro computador, no outro, salvando um filhotinho de beija-flor que bateu na parede e está preso na janela. E você fica ali, meio perdido, meio bobo, falando com o beija-flor como que esperando que ele lhe diga algo de volta. Sua cabeça lateja e você queria estar em outro lugar, num outro planeta. John Mayer sussurra enquanto aquele violão dele, que mais parece trilha sonora de filme romântico na hora que a mocinha vai embora, te faz viajar. Há tanto pra falar, tanto pra fazer... E você ali, falando com o beija-flor.

As vezes, deixamos o tempo correr, como que acreditando que as coisas vão se resolver sozinhas... "Então eu acho que você poderia dizer que eu estive esperando por uma pausa nas nuvens cinzas", ele canta, como quem sente que tudo vai ficar bem. Ele põe um sorriso no rosto pra cantar suas músicas tristes porque sabe que não é o fim do mundo?  

Talvez aquele beija-flor tenha infartado mil vezes nos olhando, ali, tão perto, olhando pra ele. Um beija-flor tão pequeno e indefeso que suas perninhas mal alcançavam a madeira por onde abrimos e fechamos a janela. Deve ter pensado que ia morrer. Que lhe faríamos mal, que o pegaríamos, que teria um triste fim em mãos grandes de humanos... Que nunca mais seria capaz... Que não haveria outro jeito... Nem solução, nem remédio... Eis seu fado...


E apesar de toda a conspiração negativa, de todos os pensamentos absurdos e do medo... Ele voou. Assustando aos que o observavam encantados com sua pequenez e sua liberdade (tão grande para asinhas tão pequenas). Assustando a si, que não acreditava que pudesse, por um segundo, ter a coragem insana... de se jogar.

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