"Um dia a Vitória vai perceber que essas quedas e saltos são mais sobre aprender e menos sobre deixar de errar, que o macete pra não se irritar com pessoas irritantes é imaginar que elas já foram crianças – e muitas não deixaram de ser birrentas e mimadas -, que o mundo vai tentar convencer ela de que necessita de milhões de bugigangas para ser amada ou respeitada, para “fazer parte” ou “estar integrada”, mas que muito antes de qualquer parafernalha ela já sabia, sempre soube, que já é. Pelo menos pelas pessoas que importam. Ela vai entender que essas pessoas que importam não precisam ser muitas, mas que elas precisam ser verdadeiras e que a Vitória precisa ser verdadeira com elas também. Vai entender o quão importante e gostosa é a idéia de cultivar. Cultivar seu tempo, seus pensamentos, seus sentimentos, seus pequenos prazeres e seus profundos e importantes valores. Vai aprender que a vida se dá por uma série de pequenas trocas, de olhares, de carícias, objetos, sentimentos, pensamentos. Que mesmo que tentem – e vão tentar – vender a ela a idéia de que a relação entre o corpo e a mente dela é uma dicotomia, que um só pode funcionar se estiver reinando soberano sobre o outro, nunca vão conseguir apagar o sentimento, aquela certeza profunda que ela tinha desde que engatinhou pela primeira vez, de que só uma harmonia entre eles pode reinar soberana, já que seus sentimentos vão influenciar seus pensamentos, o funcionamento do seu corpo e mesmo sua relação com a divindade e que nenhuma dessas esferas existe em separado e nenhuma delas é saudável em separado. Vão tentar convencer a ela de muitas coisas, certas e erradas, muitas ela terá de vivenciar para aprender, outras não. Mas o mais importante é que ela consiga distinguir as miríades de idéias, grupos, partidos e modismos que servem para separar a humanidade, das poucas e belas coisas que nos fazem solidários. E que ela saiba que a escolha, entre uma e outra, será sempre dela, assim como o mérito e a responsabilidade pela escolha.
Assim, um dia, quando ela já estiver bem vovozinha, com filhos que trarão netos e talvez bisnetos, ela possa ter vivido seus engatinhares, andares, correres e saltares, seus amores, seus estudos, profissões e toda uma corrente gigantesca de méritos maravilhosos. Nessa época, um dia, ela vai fechar os olhos e sentir que está caindo para trás... mas tudo bem, quedas são inevitáveis."
(Blog Café com Conto, de Renato Kress)
Gosto de café, mas não sou mais viciada nele. Antes, só o cheiro me dava arrepios; precisava beber. Era compulsiva, porque achava bonito dizer que bebia café - adultos bebem café, jornalistas bebem café, gente importante bebe café. Hoje, gosto. Aprecio o cheiro. O gosto, só quando o pó é extraforte e tem muito pó na composição, de modo que se jogar um prego dentro da xícara ele boie. O fato é que bebo café.
Tem coisas que eu não gosto e que fazem mal, e que talvez não use ou ingira, não aceite ou aprecie, mas que fazem do cheiro algo naturalmente agradável - como perfume masculino, shampoos de salão de beleza (que são indiscutivelmente melhores que os que a gente usa em casa) e cigarros; é uma mistura da qual gosto, apesar desses itens separados não me atrairem desesperadamente.
E Café com Conto é um bom blog. Gostoso de ler como café quente é bom de se tomar num dia cinza de outono, numa daquelas xícaras grandes de louça que eu sempre quero comprar mas nunca lembro. O que me lembra da neblina mais densa ja vista, às 3h dum domingo qualquer. Café me lembra boas histórias. Mas é o tipo de coisa pra se beber sozinha.
Infelizmente, nunca fiz amigos bebendo café.
Beeijos, Jaqueline.
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