domingo, 14 de junho de 2020

graças a deus a adolescência demora

Ontem me peguei com medo de ser mãe de um(a) adolescente.

Sim, pois é. Pulei a gestação, o parto, as fraldas, as noites sem dormir, o cocô até as orelhas, a socialização com os gatos, a introdução alimentar, o primeiro dia na escola, as crises, as doenças, as  birras, os tombos, os medos e pesadelos. Pulei os terríveis dois, três, cinco e quantos mais puderam inventar e me peguei com medo de ser mãe de adolescente.

Logo eu, que fui uma adolescente comportada, com notas boas, muitos livros, que passei a pré adolescência lendo a Bíblia para crianças menores e a adolescência em si em grêmios e voluntariado, entre aulas de dança e a associação do bairro, seguida de uma precoce candidatura a vereança... Logo eu que dei o primeiro beijo depois de velha e arrumei o primeiro namorado no colegial (lembro até hoje do meu choque ao saber que uma amiga já transava...). Logo eu que vi um cigarro de maconha pela primeira vez depois dos vinte (poderia ter aceitado, mas não tinha nem curiosidade nem estômago). Logo eu que nunca fugi de casa, nunca saí escondida, nunca menti sobre meu paradeiro até ser bem adulta pra isso. Logo eu, que não dei nenhum vexame no carnaval - não até comprar meu primeiro apartamento.

Logo eu. Me peguei com medo de ser mãe de adolescente. Medo dele encontrar com o mundo cedo demais e eu não saber o que fazer. Porque eu sei lidar com livros de poesia hipocondríaca e amores platônicos. Mas não sei se saberei lidar com a bebida e as drogas e as mentiras e as fugas e o celular desligado. Eu nunca deixei de atender a uma ligação dos meus pais. Mas já fui acordada inúmeras vezes por eles, na vã esperança de eu saber do paradeiro do meu irmão. Ontem me peguei com medo dessa agonia - e de outras piores.

Eu vivo dizendo que tem vários motivos pra um bebê demorar cerca de 40 semanas pra ficar pronto pra nascer. Um deles é pra dar tempo da gente se preparar pra chegada daquele serzinho tão dependente de nós. Começo a pensar que é exatamente por isso que a adolescência demora uma década e meia. Porque é uma preparação que demora. E as coisas vão ficando mais difíceis aos poucos, pra gente ir lidando com coisas cada vez mais complexas, até chegarmos na grandona. No chefão. Na coisa que tira o sono de pais pelo mundo inteiro - imagino eu.

Mas depois que lembrei de dá tempo de se preparar pra isso - e pensei que todo o processo ajuda a esse monstro não ser assim tão invencível - me acalmei e voltei a pensar em fraldas e no tal do pescocô.

Baby steps, né?

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