Quando eu decidi que ia para Portugal eu pesquisei muito. Cidades, estradas, rotas, linhas de trem e ônibus, bairros de Lisboa e Porto, passeios essenciais, bons restaurantes, informações sobre o clima, o custo, o jeito de falar.
A internet é um lugar fascinante pra obter informações sobre tudo. E eu, apesar de não ter nascido nessa era, cresci e me desenvolvi nela. Aos poucos as barsas sumiram, vieram os disquetes, que logo sumiram também. O papel almaço com pauta deu espaço ao Word. E por aí vai. O jeito de aprender mudou.
Buscamos por dicas e orientações em linhas de blogs, em vídeos do Youtube, em relatos dos posts de Instagram. Eventualmente conversamos com pessoas - conhecidas ou não - sobre um tema ou outro. Temos acesso a muito mais especialistas - e sem nem sair de casa.
E eu sou da geração de mães que tem acesso e interesse a informações mil sobre maternidade. E que tem um olhar diferente das nossas avós e mães - porque as evidências científicas vão mudando e se atualizando e eu cheguei por aqui nesse momento: do novo comprovado. Mas as avós e as mães não: elas criaram seus filhos (e eu, de certa forma) de outro jeito. Com outro olhar. Com outras preocupações.
Eu sou - desde muito antes de pensar seriamente em ter filhos - o que eu chamo figurativamente de índia-parideira (a imagem de uma mulher indígena ou tribal parindo seu filho "no meio do mato", sozinha ou com ajuda de outras mulheres da tribo, uma mulher que não entregará seu bebê a aspirações e colírios ao nascer mas sim o segurará entre os braços e o levará às tetas, sem neuras com saída maternidade e sem chupetas coloridas ou decoradas com strass: essa imagem sempre fez um sentido tão grande, tão forte, pra mim. E essa imagem me faz ter a sensação do quanto de moda a gente inventa sem necessidade - pra gastar, pra enfeitar, pra postar).
Quem me lê já sabe: eu fui amamentada até os 3 anos. E sempre tive plena convicção de que aquela escolha da minha mãe tinha sido crucial para a minha saúde. E mesmo que as pessoas rissem de mim e rissem da ideia de uma criança que anda e fala e mastiga mamando nas tetas da mãe, eu sempre soube que, quando chegasse a minha vez, amamentar seria uma prioridade.
Nos meus tempos de fotógrafa e jornalista da saúde eu conheci muitas grávidas. Conheci muitas enfermeiras, médicas, fisioterapeutas, fonoaudiólogas, psicólogas e nutricionistas que me ensinaram sobre parto, sobre amamentação, sobre os problemas infinitos que um bico de plástico pode causar a um bebê. Aprendi sobre exterogestação, sobre criação com apego, sobre a importância de dar colo. A importância da livre demanda de leite. A extrema necessidade de confiar em si e na sua fisiologia: pra parir, pra amparar, pra alimentar. Aprendi sobre carregadores, sobre posições de parto, sobre hora dourada e pele a pele.
E tive o prazer de assistir a quatro nascimentos. Quatro estreias, como gosto de chamar. Quatro mulheres se tornando mães, quatro bebês chegando a esse mundo. Dois partos normais e duas cesáreas. E posso dizer: se eu puder escolher, se eu tiver saúde e chance, eu já sei qual será a minha escolha. Quando vi a primeira cesárea eu pedi a Deus: que esse seja o mais perto que eu chegue de uma.
E cá estou: grávida, há 10 semanas e 3 dias. E há dias que eu voltei minhas pesquisas para as rotas, estradas, dicas e custos não de Portugal, mas de ter um bebê. E eu sei que estou aqui, fazendo escolhas sem experiência nenhuma. Tenho um bocado de teoria e tenho a ajuda de milhares de mulheres e especialistas que já viveram essas coisas antes de mim.
E cá estou indignada por quase todas as listas de enxoval começarem com um kit de boicote à amamentação logo na primeira linha. Dizem as quantidades de fraldas que você deve providenciar - já considerando que você concordou em sujar a natureza eternamente com fraldas descartáveis e como se não houvesse opção. Cadê as índias-parideiras produzindo conteúdo, por Deus? Cadê a Bela Gil dizendo que não precisa comprar kit papinha antes do bebê nascer, já que ele só vai comer depois de 6 meses?
Cadê as mães minimalistas, preocupadas com o meio ambiente, que não vão comprar ações da FisherPrice mas sim intercalar uns brinquedos bonitos e coloridos com umas tampas de panela e sei lá o que?
Um bom e grande lado meu sabe exatamente o tipo de mãe que quer ser. Já estudou, já pensou, já analisou as possibilidades e tem boas diretrizes gerais para ir se pautando- e está bem e feliz com essas diretrizes porque eu realmente acredito nelas e na minha capacidade de faze-las dar certo. O outro gostaria muito mesmo de encontrar por aí outras mães que acreditassem nas mesmas coisas, apenas pra ter um amparo emocional rs. Queria muito achar uma lista no Pinterest que me dissesse exatamente o que fazer - e com a qual eu concordasse haha simples assim.
Acho que essa é a primeira lição da maternidade: aprender a confiar nos próprios instintos.
Nenhuma mãe será igual a outra. E eu certamente não serei.
Acho que vou ter que criar meu próprio jeito.
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