Decidi comprar um carro, em mil parcelas, pra sempre. Decidi comprar um carro porque quero instalar nele um rádio e sair com meus óculos escuros, ouvindo deliciosas músicas brasileiras, rumo à qualquer lugar. Decidi comprar um carro pra poder de vez em quando sair de casa e dirigir no ritmo da música, com os olhos na estrada e nas árvores que correm ao meu redor sem saber pra onde ir ou ter hora pra voltar. Quero abrir os vidros e sentir o vento no meu rosto e conversar comigo mesma. E ao chegar ao meu destino, sentar em um café e ler Platão, Pessoa ou Leminski e ver o dia acabar com uma promessa gostosa. Quero ser minha melhor companhia. Quero me divertir comigo mesma. Me chamar pra sair e passar horas ouvindo o que tenho pra falar. Quero me apaixonar... por mim.
Também resolvi que quero estudar. Quero ler, aprender e tentar, ao menos tentar, fazer o que não tive coragem aos meus dezessete: ir. Ir e estudar o que eu quiser, onde eu quiser. Trabalhar, ralar, acordar cedo e lavar louça da semana pra poder ter onde beber água. Quero ter que lavar minhas próprias meias e suspirar de preguiça ao ter que fazer o almoço. Quero ter orgulho daquela coisa besta que chamam por aí de currículo e eu chamo de história. Que mania que a gente tem de ir tocando em frente, empurrando com a barriga, como se não tivéssemos controle sobre quem somos. Gente, bora ler Sartre, bora? Nós estamos condenados a liberdade. Somos os únicos responsáveis pelo nosso destino, pela nossa felicidade. Precisamos parar de ter medo de encarar os fatos: somos nós e a estrada. Ninguém pra nos dar a mão. Apenas nossos pés cansados e os ombros doloridos. E o horizonte.
Quero ver o MAM, a Galeria do Rock, a Liberdade. Quero ver Belém, Brasília e o por do sol na praia. Quero me rasgar inteira e sair. Me desprender, abrir as asas, voar. O mundo é grande, menina. O mundo é bom, Sebastião. E eu sou grande demais pra essa gaiola.
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