Há duas noites só durmo quando beira as duas horas da madrugada, depois de chorar copiosamente e, aos soluços, divagar pela maior gama de pensamentos negativos dos últimos tempos.
Penso que essa será a terceira noite.
No momento estou me sentindo a) frustrada com a minha realidade intelectual, b) medíocre em relação aos grandes projetos de vida profissional dos meus amigos, c) abandonada, já que "saudade é uma palavra forte demais" e as pessoas só lembram de mim quando me vêem comentar o quanto me esqueceram, d) desvalorizada, já que só vale a pena me buscar porque acabou a cerveja e alguém vai ter mesmo que pegar o carro, e) largada, já que meus problemas parecem ser motivo de desvios negativos no humor alheio, f) desencorajada, visto que dizer "calma, querida, estou com você, tudo vai dar certo" parece ser uma tarefa irrealizável e muitíssimo mais difícil que criticar e dizer "eu bem que avisei", g) gorda, pois ando tendo que matar a solidão no carbocídio, h) ansiosa, porque ser jornalista, estudante, capoeirista, inspetora, bailarina, filha, namorada, voluntária, salvadora do mundo e, puts, promoter NÃO É FÁCIL.
Também estou me sentindo, se é que alguém consegue sentir tanta coisa ao mesmo tempo, i) carente de aventuras e magia, coisas pequenas e especiais, j) cansada de ouvir a palavra dinheiro, e a ideia de que isso é a coisa mais importante da vida, l) mendiga, já que ando suplicando atenções, beijos e saudades - em vão. M) frágil, como uma boneca de louça antiga, prestes a cair de cima da cômoda e, o que é pior, n) órfã, sem ninguém que possa simplesmente abrir mão de alguma coisa pra me abraçar enquanto todos os meus medos tentam explodir meu coração.
Ah sim, senhoras e senhores, ando sentindo o) um medo avassalador de chegar aos quarenta e cinco sem o nível intelectual que combinamos pro café filosófico, sem ter conseguido mudar um pedacinho do mundo sequer p) dor nas costas de tanto remar contra a maré, q) como se fosse a jogadora que chuta, cobra o escanteio, cabeceia, defende o gol e apita - e vibra na torcida.
Às vezes me acho r) fracassada, por ter um 5,5 no Portal Educacional, s) preguiçosa, por parecer que não faço o suficiente pra superar os obstáculos, t) má atriz, já que não ando conseguindo disfarçar minha tristeza, u) mulherzinha, esperando duas horas e meia o príncipe resolver aparecer.
Estou v) magoada, porque sei que tudo isso não vai desaparecer como as rosquinhas de leite da Panco que estavam em cima da mesma ontem, x) insone, mas graças a Deus tenho twitter no celular, y) carente, por necessitar de especial atenção nesse momento da minha vida e z) sozinha: afinal, os ouvidos que deviam ouvir meu desabafo, estão ocupados com solos de guitarra e risadas histéricas, as mãos que deviam afagar meus cabelos para que eu dormisse sem chorar estão em volta de uma lata de alumínio, os olhos que eu esperava que vigiassem atentos, para o caso dos monstros saírem de baixo da cama, estão meio fechados e sem foco, por causa do álcool. A boca que eu esperava que pudesse me dar um beijo suave e dizer pra não pensar em nada disso, que ele estava ali para me proteger, deve, nesse momento, estar falando bobagens para homens igualmente bêbados, bravo por ter sido contrariado.
De qualquer forma, sobreviverei.
Beeijos, Jaqueline.
Um comentário:
Muito bom Jaque! Mas só queria te agradecer por me dar a confiança de um amanhã, pelo menos mais brilhante! De me ajudar a crer que nós, pessoas, continuamos vivas, amando, sofrendo, sorrindo, fraquejando e levando, enfim, SENTINDO! Bj.
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