“Atire a Primeira Pedra” – Erasmo Figueira Chaves
Que atire a primeira pedra
Quem tiver muita coragem
Pra manter sua viagem
Em preito de vassalagem
Ao mundo dos que só agem
Por medo ou por abordagem
A padrões que ao ego fazem
Render qualquer homenagem.
Que atire a primeira pedra
Quem se sentir sem pecado
Ou nunca tiver andado
Por caminho que não medra
E não ache, desgraçado,
Qua assim esconde o passado.
Que atire a primeira pedra
Quem nunca tiver sentido
A consciência pesada,
A injustiça vivido.
Ou jamais tenha sofrido
Por traição à sua amada,
Por capricho do azar,
Por um amor escondido
Sem jamais confessar
Que eram favas contadas
A viver almas enganadas
No néctar de mau lagar.
Que atire a primeira pedra
Quem não saiba perdoar,
Quem nunca tenha aprendido
A sentir dor por amar,
Nem jamais se arrependido
Pela pressa em prejulgar
Ou espere que de pedra
Venha um dia a se livrar!...
Esse poema, senhoras e senhores, foi escrito pelo meu amigo Sr. Erasmo, poema este que felizmente encontrei num livro de minha mãe (agora apossado por mim!) sob as prateleiras de madeira e atrás das portas de vidro que, mesmo transparentes, parece que impediam os do lado de fora de notar o que elas guardavam. É, confesso que sempre esnobei tais livros –com raríssimas exceções- e me mantive rata das bibliotecas da vida, como dizem por aí aqueles que não entendem a honra que tal título produz, sem saber a preciosidade que tais vidraças escondiam. Fileiras de livros que nunca li, mas que estavam naquele móvel desde os primórdios de minha vida e alguns deles muito antes, resignadamente esperando que um dia eu me sentasse naquele chão frio, sobre as pernas cruzadas, e finalmente desvendasse os mistérios daquela mina.
Uma mina que escondia alguns tesouros. Mas não eram simplesmente papéis e capas e desenhos e histórias, mas mistérios que são desvendados por cada um de maneiras diferentes. Como um novelo de lã que você deixou de tricotar e que se enrrolou de tal forma que formou-se um belo dum nó. Cada pessoa que pegasse tal novelo reagiria de maneira diferente, aprenderia coisas únicas, cada qual relacionando a aventura com suas próprias experiências de vida. Mas, enfim, todos teriam o mesmo resultado: o fio desenrolado. A trama solucionada, o mistério resolvido, o vilão preso, o mocinho com a mocinha, o final feliz ou não... E fim.
A mina revelada a mim naquela tarde estranha de domingo, na qual o tempo não se resolvera por sol ou chuva, frio ou calor, guardava pedras singulares, que muitas vezes peguei nas mãos, mas que nunca as lapidei e fiz delas colares ou anéis. As obras machadianas, das quais lia as primeiras frases nos dias sem energia elétrica, estão no topo da preciosidade. Livros com a capa dura e vermelha e com bordas douradas que me remetem inconscientemente a grandes palácios e riquezas e àqueles vestidos rodados e perucas estranhas e grisalhas. Alguns. Seria preciso várias prateleiras daquelas pra suportar toda a carga do Sr. Machado. Não, infelizmente tenho (sim, porque herdei todos aqueles livros sem precisar –graças a Deus- esperar o falecimento de sua dona) apenas alguns exemplares. Depois, alguns livros da coleção Pensamento Vivo, do ano de 1987 que minha mãe comprava numas banquinhas de revistas no seu tempo de faculdade/professora. Meu preferido é o Albert. Sim, o Einstein! Quem mais seria?! Foi o único que li, e lembro que o fiz por volta de 2002 quando estava só na quarta série e nem mesmo sabia porque o consideravam tão gênio assim.
Quantos livros guardavam aquelas janelas de vidro?
Quantas pessoas tinham suas histórias relatadas –e porque não delatadas- naquelas páginas?
Ahh, mais de mil, diria meu bom senso (ou a falta dele).
Um dia eu conto, pra contar pra vocês, então.
Beeijos, Jaqueline.
Um comentário:
Jaqueeee!
Isso me faz lembrar a biblioteca [grandinha até] que tem em casa e que eu não tenho coragem de me aventurar =S
Mesmo amando ler, é impressionante que eu procure mais livros fora do que dentro da minha prórpria casa! hehe
Post muuuito interessante ^^
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