quinta-feira, 9 de agosto de 2018

cabô que agora eu gosto de couve

É, terráqueos...
Se esse dia ainda não chegou pra você, certamente vai chegar. 
O dia em que você percebe que tem uma porrada de gostos iguais aos da sua mãe.
Você percebe que o tempo passou pra você.

Que você também xinga quando tropeça num tênis no meio do quarto. 
Que você também separa o lixo reciclável e agora se sente mal com o que sobra na bandeja depois de um big mc com batata grande e coca - e que as vezes escolhe comer por kilo, só pra poder empanturrar o prato de salada.
Aquele dia...
O dia em que você se pega fotografando orquídeas. 
Ou reclamando que as pessoas não saem do celular.
Ou falando que a sobremesa se come depois do jantar.
Ou pior: comendo fruta de sobremesa.

Você acorda e está cheia de manias da sua mãe. Ou do seu pai. Ou daquele chefe.
Enfim: de gente mais velha.

Chega um dia que você simplesmente se pega falando pra alguém que café bom é sem açúcar. 
Ou pior: coando seu próprio café unitário no coadorzinho de pano, acertando perfeitamente a quantidade de pó  (e não mais numa experiência maluca com cara de feira de ciências, que te obriga a fazer caretas bebendo tinta preta ou água suja ao invés de café).
É esse o dia em que você se descobre uma prevenida. Uma pessoa que tem sempre uma blusa de frio ou um guarda chuva no carro. Que vê a previsão do tempo antes de fazer as malas.
Alguém que pensa em creme de espinafre e panqueca de abobrinha.
E que em breve, muito provavelmente, estará chorando com Augusto Cury.
Alguém que tem botas (e talvez peças de roupas) marrons (!!!) e que pesquisa sobre cremes antiidade.

Alguém que almeja uma horta, usa colares de pedra e não faz ideia do que significam diversas palavras que os adolescentes usam.
Alguém que tem uma planilha de gerenciamento do próprio dinheiro.
Uma conta numa corretora de valores.
Alguém que declara o Imposto de Renda contratando um escritório de contabilidade.
Alguém que, do nada, resolveu que adora couve refogada, sabe.
E temperos naturais, em detrimento do Sazon.
E suculentas e sol da manhã.
E casa limpa e gavetas arrumadas e toalhas secas.

Cabô que agora, vira e mexe eu penso em comer menos carne.
Em beber menos e falar menos palavrão.
De repente começar a meditar...

De repente, não mais que de repente, eu prefiro doce de abóbora a bolo de chocolate.
E sucos naturais ao invés de refrigerantes.
E água saborizada não é coisa de outro mundo.
E você tem suas próprias receitas preferidas - e, claro, as cozinha com tranquilidade.

De repente, você é uma pessoa que não vê televisão.
Uma pessoa que não conhece os carinhas do stand-up.
E a ida à Disney fica cada vez mais no fim da lista.
(E nem é só uma questão de ser adulto, porque Las Vegas vem ainda depois!!)


O dia em que você percebe que está quase sempre cansado e o sofá é seu novo melhor amigo: ele chega. O dia em que não te passa mais pela cabeça se auto proclamar jovem.

Você finalmente se tornou quem você mais desejava e, claro, quem você mais temia.




Você é um maldito adulto.
Com boletos, louça suja, bigode chinês, dor nas costas.
Um adulto, cara. Eternamente condenado a descongelar a carne se quiser comer.





Bem vindo.

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