"Então pra você bancar uma quebra de padrão (...) tem que ter coragem, hein. Porque é muita gente em volta que não tá querendo bancar isso. Porque quando você fica em paz com uma coisa que você sabe que pode ficar em paz, mas que todo o resto do mundo não sabe... tem que ter coragem pra bancar. Tem que estar muito plena. Porque a galera tenta te desestabilizar. As pessoas querem te ajudar te atrapalhando. É muito complexo..."
(Jout Jout)
Estou aqui pensando em como começar esse texto, com tanta, tanta coisa na cabeça... Não sei muito bem por onde começar, sei que quero eternizar a frase acima, que eu mesma transcrevi de um vídeo, com seu contexto...
Há um ano atrás, dei um importante passo na minha vida. E a noite que deveria ser de comemoração, virou um mar de lágrimas e gritos (meus), desrespeito e álcool (de outros). O padrão totalmente desenhado, tudo certinho, planejado. Quem olhava de fora, me via vivendo uma promessa de felicidade eterna. Eu, no entanto, via tudo ruir pouco a pouco ao meu redor.
Eu fiz ser fácil para as pessoas imaginarem o quanto a minha vida devia ser perfeita. O quão cercada de amor, respeito, leveza e alegria eu era. Fui, até certo ponto. Fui, até deixar de ser. Mentia pras pessoas, porque precisava mentir pra mim também, porque quebrar esse padrão era - naquele momento - muito difícil pra mim. Sorria por fora enquanto por dentro via acabar toda a minha sanidade. Meses depois, desatinei, rompi os nós declarando guerra contra tudo o que cerceava minha energia vital. Julgaram-me louca.
Corta pra 2018.
Finalmente as coisas pareciam estar sendo construídas sobre a rocha. Me sentia tão bem como nunca! Era alegria de viver vinte e quatro horas por dia. Apaixonada por cada detalhe... Encantada até mesmo com os defeitos. Eram muitas as fortalezas pra que eu não considerasse lidar com um único fator com potencial enfraquecedor. Logo eu, que demorei tanto pra desistir, mesmo com todos os alarmes apitando de que o prédio ia desmoronar, ia desistir de um lindo e forte castelo, que estava sendo construído, com tanta verdade?
Acontece que o que é, de novo, a gente só enxerga de dentro. Por fora, as pessoas insistem em ver teimosia, ruindade. Veem problema, empecilho, separação. Olhando daqui vejo a inocência que fez essa quebra de padrão nascer. Vejo a bondade e a empatia que vejo em quase ninguém. Vejo a maturidade e a sanidade irem se fortalecendo aos poucos. Vejo o tamanho da coragem de bancar isso...
A verdade, principalmente nesse caso, eu é que sei. Sei quais são os motivos que me mantém exatamente aqui. Sei cada um dos motivos que eu teria pra ir embora, mas também sei das perguntas que fiz e das respostas que obtive. Sei dos meus braços livres, que não prendem nada nem ninguém. E sei também do que eu ofereço: colo, apoio, honestidade, carinho, amor, força. Sei quem eu sou, sei o que estou fazendo, sei do amor que invisto em cada decisão que tomo e o quanto de mim eu doo a cada escolha. Onde você investe seu amor, você investe a sua vida, não é mesmo? Mas julgam-me má.
As coisas acontecem como tem que acontecer. Deus dá os fardos conforme os ombros. Decida o que você quer, aceite as regras e trabalhe duro... Muitas são as frases de efeito que me fizeram, por meses, querer socar a cara de quem as diz (eu)... Nesse momento, no entanto, apesar de estar no meio de uma tensão pré menstrual, me sinto em paz. Não feliz da vida, nem soltando fogos. Só em paz por viver a minha verdade. Isso não significa ausência de incômodos ou tristezas daqui pra frente, simplesmente porque não é possível. Paz eterna, a gente só conquista morrendo - e esse não é bem um passo que eu estou querendo adiantar.
Por causa do caminho que trilharei, pelas futuras ausências e silêncios e até mesmo momentos de solidão, que certamente virão, aposto (pois já estive no lugar de quem vê de fora e acha que sabe o que se passa com o outro) que me julgarão triste.
Triste, louca ou má? Talvez eu seja um pouco de cada, mas com certeza não sou exclusivamente nenhuma delas. No entanto, se me classificar assim te ajuda a dormir a noite, tá tudo bem. De verdade... Não me machucará mais ou menos. Porque eu finalmente entendi uma coisa que há muito meu terapeuta vem me dizendo: eu não preciso ocupar todo espaço em que me colocam. Não preciso morar em nenhuma verdade que não seja a minha.
Eu sou o meu próprio lar.