é gente que vive chorando de barriga cheia..."
Estou sentada na cozinha. Sem óculos. Com os pés na
cadeira, com aquela calça horrorosa laranja, olhando pra minha caneca de leite
com chocolate vazia e ouvindo Have You Ever Seen The Rain. Hum. E daí, né? Estou aqui pensando... Como eu reclamo da
vida. Como eu desperdiço minha criatividade tendo medo de dar sugestões idiotas
ou de não dar certo. Estou aqui pensando como eu sou mesquinha. Sempre tão
preocupada em inventar desculpas pros meus erros, torcendo para que as pessoas
gostem mais de mim sabendo que foi sem querer. Hunf. Sou só uma garota cheia de
espinhas, preguiçosa e gulosa, que não acha tempo pra si. Que não acha espaço
nem no guarda roupas. Que se lamenta por não ir a lançamentos de livros em SP.
Sou uma pessoa mais rasa do que me mostro. Não sou artista, não sou filosofa,
não sou fotografa, nem escritora de verdade, nem dançarina de verdade. Sou um
eterno desejo. Um insaciável querer: ser, ter, fazer, provar.
No fim, que importa? Quais cursos você foi, quais
palestras você assistiu... Aquelas fotos escondidas na nuvem... Aqueles textos
enfiados na caixa embaixo da cama, aquelas fotos fora do porta retrato? Os
livros que você comprou e não leu, de que servem? Os que você leu e trancou no
guarda roupas? Que diferença fazem estando aí? E aquele sapato amarelo que você
comprou pela Internet, sem nem pensar na greve dos Correios? Hum? Talvez quando
chegar o salto quadrado já tenha saído de moda...
Queria ser bonita e ter pele boa pra por fotos gatas no
facebook. Ter cabelos longos pra me elogiarem na dança. Queria ser alta, ter
pés bonitos, um guarda roupas grande,... Aí, um minuto depois, quero mais é
viver de tênis e camisetas e que-se-danem-os-saltos-altos e viajar. Ou não.
Melhor ler, escrever, publicar... O que?
Nesse segundo, nao ligo a mínima pro TCC,
pro trabalho,... estou feliz com as pessoas que tenho. Com as coisas que posso
conquistar, com o presente que comprei pra você de Natal. Com a ansiedade
gostosa pré-viagem, com a diversão que tem sido dirigir. Com o vento batendo no
rosto quando andamos de moto. Com a vontade de comer morango. Me contento em te
fazer cócegas. Em esfregar o nariz no seu cabelo enquanto você dorme deitado no
meu peito. Me satisfaço com pizzas requentadas, com vinho barato bebido na
cama, em copos de requeijão. Me contento com shows da Nova Brasil, ouvidos do
rádio em cima do criado mudo. Sorrio com promessas de fins de semana leves. De,
quem sabe, um cineminha domingo a tarde. De te fazer ouvir minhas histórias por
telefone.
Me contento com meu sono largado com meu travesseiro fofo,
contando as horas pro fim de semana. Em salivar vendo foto de comida japonesa.
Em surtar com o combo Gabrilli+Lacombe.
Nós já temos
tanto... Já somos tanto... Pra que querer ser a musa do verão? Fazer um show de
poderosas? Pra que querer ter razão? Se o que importa é ser o que você ja é:
você mesmo. Simples assim. Fácil assim. Com suas qualidades, seus defeitos,
suas falhas, suas nobrezas...
"Cada um sabe
a dor e a delícia
de ser o que é"
J.
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