Num momento você
está entediado, olhando pro computador, no outro, salvando um filhotinho de
beija-flor que bateu na parede e está preso na janela. E você fica ali, meio
perdido, meio bobo, falando com o beija-flor como que esperando que ele lhe
diga algo de volta. Sua cabeça lateja e você queria estar em outro lugar, num
outro planeta. John Mayer sussurra enquanto aquele violão dele, que mais parece
trilha sonora de filme romântico na hora que a mocinha vai embora, te faz
viajar. Há tanto pra falar, tanto pra fazer... E você ali, falando com o
beija-flor.

Talvez
aquele beija-flor tenha infartado mil vezes nos olhando, ali, tão perto,
olhando pra ele. Um beija-flor tão pequeno e indefeso que suas perninhas mal
alcançavam a madeira por onde abrimos e fechamos a janela. Deve ter pensado que
ia morrer. Que lhe faríamos mal, que o pegaríamos, que teria um triste fim em
mãos grandes de humanos... Que nunca mais seria capaz... Que não haveria outro
jeito... Nem solução, nem remédio... Eis seu fado...
E
apesar de toda a conspiração negativa, de todos os pensamentos absurdos e do
medo... Ele voou. Assustando aos que o observavam encantados com sua pequenez e
sua liberdade (tão grande para asinhas tão pequenas). Assustando a si, que não
acreditava que pudesse, por um segundo, ter a coragem insana... de se jogar.