segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Crônica

será que vira livro? hoho ;)

Seu
De vez em quando, a gente deixa de ser quem é pra ser aquele por quem alguem se apaixonou. Não que deixemos de ser nós mesmos. Nossa essência nunca muda. O que acontece é uma adaptação. Pequenos detalhes se transformam pra manter uma história nos trilhos. E minha história saiu total e descontroladamente dos trilhos.

Desde que subi naquele trem, um mês atrás, sabia que algo havia mudado. Não sentia dor, nem medo, nem saudade. Meu único desejo era partir. Sair daquela cidadezinha e ir para um lugar onde ninguém me parasse na rua pra conversar nem soubesse meu nome. Não estava em depressão, nem tampouco fugia dos problemas. Eu não me abandonaria, então não tinha porque correr. E talvez o problema nem fosse eu. Talvez fossem as propagandas de pasta de dente ou os cartões de Natal.

Quando levantei aquela manhã, depois de ter chorado todas as lágrimas que possuia, anda com a cara inchada, abri o guardarroupas a procura de algo. Fruto de anos de trabalho e dedicação, lá estava ele: meu album de fotografias com capacidade pra mil fotos, encadernado em couro marrom, com toda a minha história. Lá estava eu bebê, meus pais, irmãos, amigos, minhas festinhas juninas, os bares e festas da faculdade, e, então, ela, com aquele par de olhos verdes intrigantes. Ela sorria pra mim como se zombasse dos meus olhos murchos. A partir daquela foto, ela estava em todas. E nas quais ela não aparecia tinha certeza que ela era quem fotografava. Durante anos, eu e minha mania de colecionar e meu transtorno obcessivo compulsivo de organização, catalogamos aquelas fotos por ordem cronológica. As últimas páginas permaaneciam vazias, aguardando as próximas fases de um relacionamento que não existia mais.

Ver aquelas fotos fez com que toda a dor se transformasse em raiva e aquele resto de amor, que diria sim se ela voltasse, se azedar como comida na geladeira. Depois disso, veio o desespero, a dúvida. Não poderia me livrar da parte mais bonita e interessante da minha vida, nem sobreviveria muito tempo encarando aquele sorriso perfeito.

Minha cabeça girava e percorria o apartamento lembrando de onde mais ela estaria, senão nas fotos. Meu livro de cabiceira, meu abajur, minhas camisetas gola polo, aqueles cds, aquela torta de frango em cima do fogão, a escova de dentes nova que ela comprou quando viu o estado da minha. Meu relógio, aquele cinto azul horroroso, aquele perfume importado.

Podia jogar fora. Ela não se importaria. Talvez queimasse. Ao menos ela ficaria com dó da camada de ozônio. Gostaria de gritar. Mas não tenho forças sequer pra abrir a boca.

Queria que ela me ligasse. Já que ela mesmo não me atende. Queria que ela estivesse aqui pra brigar que eu estou com os chinelos velhos, sendo que ganhei novos da minha mãe um tempo atrás e pra brigar comigo porque eu esqueci do nosso aniversário de namoro.

Queria que, de repente, ela entrasse por aquela porta, com seus sapatos limpos e seu penteado impecável, pronta pra brigar comigo por estar comendo doce antes do jantar. Daí ela faria aquela cara brava com as mãos na cintura e eu riria. Ela balançaria a cabeça negativamente e diria que eu não tenho jeito mesmo. Daí tiraria os sapatos caros e viria sentar no meu colo pra me roubar um beijo.


E eu voltaria a ser exatamente aquilo que eu amo ser: seu.

Ai ai, eu e meus pseudo ensaios. Livro que é bom não escrevo nenhum né. Blá.

Beeijos, Jaqueline.

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