Logo eu, uma bocuda de nascença, fui me silenciando ao longo dos anos. Ninguém acredita: afinal, eu falo muito. Mas o fato é que eu penso muito mais do que falo de fato.
Repara bem no que eu não digo: há anos venho exercitando esse equilíbrio entre o ouvir e o falar. E pra mim, após tantas brigas, tantas confusões em que entrei por não conseguir fechar a boca, a assertividade na fala tem sido o objetivo de uma dura busca. Falar o que preciso, da forma correta, no momento preciso. Quer busca mais subjetiva?
Aí, na maior parte das vezes eu apenas calo. Guardo pra mim esse amontoado de palavras e deixo lá, empoeirando. Não é a toa que tô com o chakra da garganta entupido de tantos nódulos rs aí, volto pra busca: cantar, falar, me posicionar, discordar.
A minha criança interior se contorce a cada vez que eu discordo de alguém. A cada vez que digo: isso está errado; isso não é justo; não gostei do que você fez/falou. Porque em algum lugar da minha história eu aprendi que as pessoas se magoam e que 'eu não podia' fazer isso com elas. Uma insegurança e uma sensação de 'o que você está falando/mostrando não importa' se instaurou em algum lugar do meu coração em algum momento e, sem que eu percebesse, ficou. Então eu passei anos fazendo o que achava que as pessoas queriam que eu fizesse. Passei anos sem dizer não para eventos e relacionamentos que eu não queria tanto assim. Me coloquei em situações de liderança de projetos que, talvez, no fundo no fundo, eu nem quisesse liderar. Me expus publicamente, a troco de 331 votos de confiança - o meu, inclusive - porque, afinal de contas, tinham pedido pra que eu o fizesse.
Claro que cada uma dessas situações foi me ensinando. Aliás: claro que eu fui aprendendo com cada uma dessas situações (não vamos tirar meu mérito aqui - tem situações que ensinam e, mesmo assim, tem gente que não aprende!)
O fato é que, após anos, voltei a ser bocuda.
Passei por um outubro dificílimo de me calar. Mercúrio em escorpião ou não sei o quê, mas foi assim: falei, falei, falei, falei. Sem filtros, muitas vezes. Sem pesar as consequências, em algumas. Noutras, pesando e escolhendo falar, mesmo assim.
Algumas situações nos pedem calmaria. Um voo leve de uma borboleta e um pouso suave, quase que imperceptível. Noutras, é necessário uma manada de búfalos selvagens, descontrolada, que passa por cima de tudo e todos pra sair incólume do outro lado. Eu ainda sigo aprendendo a diferenciar uma da outra. E buscando compreender que entre a borboleta e o búfalo existe uma infinidade de animais.
Mas...
Num momento em que me questionei se fiz bem em falar, veio a espiritualidade e me deu a resposta: fale o que você pensa, mesmo que pareça absurdo. Fale o que você acredita. Fale. "Muitas pessoas se aproximam de você apenas para ouvir o que você tem a dizer. E falando você ajuda essas pessoas e você mesma" - foi o que me disseram.
Então, me acalmei. E tornei a falar.
E falei, falei, falei, falei...
Sigo na busca, pois ela não acaba. Mas a principal parte dessa busca não tem mais a ver com agradar ou desagradar o outro, mas sim com ser honesta comigo mesma. Falar a minha verdade, ser fiel ao meu próprio caminho e meu próprio coração.
No fim das contas, somos nós que nos aturaremos o resto da vida: com nossos arrependimentos por não ter falado, não ter feito, não ter ido embora, não ter colocado limites, não nos termos protegido ou cuidado. Então: foco.
Fale sua verdade. Mesmo que comece esse processo a dizendo apenas para você mesmo.