quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Batata com açúcar

da série 'um pouco da minha melancolia sempre vira texto'


Quando a gente acha que o dia já está ruim o suficiente, vêm ela, a intuição, dizendo:

Jaque, não vá almoçar. Coma um lanche na padaria, vai ser melhor.

Mas a gente quer ser boa filha e vai comer comida em casa mesmo, economizando alguns reais e desgastando mais um pouco todo o resto: a paz, o silêncio, a vontade e, claro, a paciência.

E então, mais uma vez, eu me pergunto por que raios eu não ouço minha intuição. Como no dia em que bati o carro: algo no meu coração me dizia claramente pra ir à pé.

E eis que ao invés de sal o que eu pus nas batatas foi açúcar - o que só serviu pra me irritar ainda mais e me fazer sentir ainda pior. Pessoas magoadas deviam ter o direito legal à uma refeição suculenta. Ou duas, três. Até que com o prato venha um bilhete, uma rosa, um pedido de desculpas ou uma taça de vinho.

Enquanto não isso não vem e a tristeza não passa,... vou beber, pensar besteira e curar eu mesma as minhas feridas.








terça-feira, 12 de agosto de 2014

"Genie, you're free"

Quando meu pai entrou no quarto e me disse, meus olhos se encheram de lágrimas. Eu as segurei, como venho praticando, mas fiz silêncio. Fiquei pensando no motivo. De uns tempos pra cá vários nomes do mundo das artes morreram.

O que me dói não é pensar que o mundo perdeu mais um artista. Ou mais uma pessoa. Pessoas morrem a todos os segundos. Pessoas geniais morrem todos os dias. Pessoas queridas, sempre.

O fato é que todos morrerão, em algum momento.

"Apanha os botões de rosa enquanto podes
O tempo voa e a flor que hoje sorri amanhã estará morta."

O que me parte o coração é saber que as pessoas continuam pondo fim às suas vidas. Sem aquele blá blá blá de que suicidas vão para o inferno e quem tira a vida é deus e tal. Não, nada disso. Me entristece ver que a depressão continua vencendo o amor pela vida. Que a solidão vence a vontade. Que a sensibilidade e a percepção de mundo continua fazendo com que as pessoas sintam e percebam um mundo infeliz, mas que ao invés de tentar curá-lo com seu talento, isso as fazem desistir. 

O suicídio é a carta de desistência. É assumir que somos fracos, impotentes. Que nenhum esforço vale a pena. Tem coisa mais triste que isso?

Sim, podemos sim ser fracos. Mas não quer dizer que não valha a pena tentar. Não quer dizer que a vida não faça mais sentido. Não quer dizer que a felicidade seja uma mentira.

Disse ontem, para meus pais, que uma pessoa só se mata por estar infeliz. Aí me disseram "ah, ele era alcoólatra, drogado". E minha questão foi: e as pessoas se drogam pra que? Pra fugir da realidade. Porque no mundo real, não estão felizes. E tudo isso me dá uma tristeza enorme. 

Um buraco no estômago. O mundo precisa de mais alegria, mais leveza, mais simplicidade. Pras pessoas serem mais felizes, engolirem menos comprimidos, cheirarem menos pó. Precisamos ser mais parceiros, pras pessoas não se sentirem solitárias. Precisamos ser mais amigas, pras pessoas não se sentirem incompreendidas.

Precisamos de mais amor, mais sutileza. Eu sei que meu clamor não tem valor. É uma bobagem escrita no Amnésia. Eu só queria que as pessoas não desistissem de viver. Que não desperdiçassem nem um minuto da sua preciosa - e talvez única - oportunidade de viver. Que não se deprimissem tanto...

Que não partissem assim.

Como os caras do Oscar postaram: genie, you're free. Você está livre, gênio. Assim como o gênio do Alladin. Você está livre. Livre da infelicidade, das dores, das dúvidas, das decepções. 

A nós, resta sofrer em silêncio um bocadinho pela fragilidade da mente humana, mesmo a das mais talentosas. Resta-nos rever todos os seus personagens, todos seus olhares, todas suas mágicas histórias.

Jaqueline Rosa.